Apesar de ter ponderado, na abertura dos trabalhos, aos senadores que eles estavam ali na condição de julgadores ou juízes e não de acusadores, a ponderação do presidente do STF Ricardo Lewandowski não foi obedecida por nenhum senador ou senadora da situação.
Em vez de fazerem perguntas para ouvir esclarecimentos da presidente Dilma numa sessão histórica, pois é a primeira vez na história do Brasil que acontece algo parecido, já que no impeachment de Collor ele renunciou antes e portanto seu processo não chegou a essa fase, os senadores que já de antemão, antes da conclusão do julgamento, diga-se, declararam seu voto a favor do impeachment, numa clara transgressão jurídica, podendo terem seus votos anulados, atuaram como acusadores, insistindo nos mesmos discursos que foram proferidos na Câmara dos Deputados e depois no Senado.
Claro que se trata de uma estratégia urdida pelo grupo que tentava e conseguiu ocupar o Palácio do Planalto de forma provisória e ilegítima, que consiste em atribuir aos atos pelos quais a presidente é acusada toda a desgraça em que o país mergulhou, o que é absolutamente infantil, tendo-se em conta que uma das acusações (edição de decretos de crédito suplementar) não acarretou aumento de despesa e a outra, que diz respeito ao Plano Safra não é, por lei, responsabilidade do presidente da República.
Em seu discurso inicial a presidente Dilma desmontou essa farsa que foi construída para criminalizá-la com todos os pormenores e, no entanto, seus algozes preferiram fazer ouvidos de mercador, fazendo de conta que não ouviram o que ela disse ou então obedecendo às diretrizes do Planalto, ditadas por Temer e seus principais assessores, principalmente Eliseu Padilha de repetir as suas alegações mentirosas tantas vezes quantas fossem necessárias até transformá-las em verdades, sem outra finalidade a não ser maner os telespectadores convencidos de que eles, os golpistas estão com a razão.
O que espanta é que, apesar de ter feito essa observação inicial aos senadores, de que não têm o direito de acusar, por serem os juízes, cabendo a acusação aos autores do pedido de impeachment, Janaína Pascoal e Miguel Reale Jr., Lewandowski não impediu que eles o desobedecessem, desobedecendo não só a ele mas ao próprio rito do processo, mais uma ilegalidade que soma-se às demais, cometidas antes e durante todo o processo.
Outro ponto recorrente em todas as intervenções dos senadores, demonstrando claramente que é o que mais incomoda o ilegítimo governo provisório é a denominação de golpe que se deu ao impeachment.
Um dos mais exaltados, o senador Aloysio Nunes Ferreira, que foi guerrilheiro nos anos 60, perguntou porque ela não recorreu ao STF para barrar o processo, se é um golpe.
Sem jamais perder a paciência, a presidente Dilma explicou ao indignado senador, militante da ALN, de Carlos Marighella que o golpe, parlamentar e não militar, está apenas em curso só vai se consumar se ele e os demais senadores aprovarem o impeachment farsesco e anticonstitucional e aí, sim, ela irá recorrer a outras instâncias, tais como o STF.
Embora fiquem irritados com a palavra golpe eles próprios o confirmam ao já condenarem a presidente enquanto ela está sendo julgada.
Juíz que acusa golpista é.
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