sexta-feira, 9 de setembro de 2016

'A falta de transparência é o grande problema das nossas economias'

O jornalista que coordenou a divulgação dos Panama Papers destacou que a Comissão Europeia não está comprometida com a luta contra os offshore.

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Em entrevista ao Observador, a propósito do lançamento em Portugal do livro “Panama Papers – A História de um Escândalo Mundial” (Editora Objectiva, 2016), o jornalista de investigação alemão Frederik Obermaier, que, juntamente com Bastian Obermayer, iniciou, e coordenou, a divulgação dos ‘Panama Papers’, sublinhou que “temos de ter noção de que, ao falarmos de paraísos fiscais, não estamos só a falar de países como o Panamá ou Ilhas Virgens Britânicas”.
“Alguns dos maiores paraísos fiscais estão em solo dos Estados Unidos — como por exemplo, nos estados do Nevada e do Wyoming. Aqui na Europa também temos paraísos fiscais no Luxemburgo ou em Jersey (ilha que pertence Reino Unido). Se os políticos querem defender maior transparência e combater os paraísos fiscais, podem começar pelo seu próprio quintal”, avançou.

Comissão Europeia não está comprometida com luta contra os offshore

Segundo Frederik Obermaier, a Comissão Europeia não está verdadeiramente comprometida na luta contra os offshore: “Há políticos, a um nível nacional e europeu, que levantaram a sua voz a favor de maior transparência. Mas não vejo isso na Comissão Europeia e no Parlamento Europeu”.

O jornalista elogiou o “trabalho fantástico” da comissão parlamentar sobre o caso Lux Leaks, constituída por 45 eurodeputados, entre os quais a deputada bloquista Marisa Matias, referindo, contudo, “que algumas pessoas não queriam que a comissão trabalhasse de forma eficaz”.

Alemanha faz parte do problema da corrupção

Para Obermaier, e “olhando para os ‘Panama Papers’, não há grandes diferenças entre os bancos alemães, bancos dos países nórdicos ou do sul da Europa”.

“Muitos deles, centenas de bancos, trabalham fora do sistema. Isso é um problema global, não é um exclusivo europeu. Talvez seja mais fácil ao políticos alemães falarem agora em corrupção noutros países mas ninguém pode dizer que a Alemanha está livre de casos de corrupção”, afirmou, vincando que “a corrupção não é um problema de um país ou de uma determinada parte do mundo — é um problema global. E a Alemanha faz parte dele”.

O jornalista assinalou que a publicação dos ‘Panama Papers’ levou a alteração da “forma como analisamos o tema”: “Tem a ver com evasão fiscal e com o branqueamento de capitais mas também, e aqui está o grande contributo dos ‘Panama Papers’, com a ocultação das receitas do crime organizado ou com a forma como regimes políticos criminosos, como o de Bashar Al Assad, contornam as sanções impostas pela comunidade internacional”.

“A falta de transparência é o grande problema das nossas economias”

Apontando não ser “grande defensor da significa descida competitiva dos impostos”, na medida em que “não quer viver num país que tem grandes negócios registados mas em que não há dinheiro suficiente para fazer estradas ou construir escolas e hospitais”, Obermaier destacou que “podemos ter impostos dentro da média e termos transparência”. “A falta de transparência é o grande problema das nossas economias”, acrescentou.

O jornalista afirmou-se “um grande defensor da implementação de um registo internacional sobre os beneficiários últimos das sociedades offshore”, avançando que “se acabares com esse segredo, o negócio das offshore deixará de ter muitos clientes”.

“Os políticos têm que decidir o caminho que querem seguir. Eu defendo mais transparência”, salientou.

Falou também sobre a perseguição a muitos dos jornalistas envolvidos na divulgação dos Panama Papers e na necessidade de assegurar uma melhor proteção para os whistleblowers (as fontes).

Créditos da foto: reprodução

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