Nonato Menezes
Que nossas elites não querem que
sejamos um país democrático é do conhecimento até das folhas verdes. Para
provar isso, basta um instante de nossa História. Os golpes se sucedem, sejam
com tanques nas ruas ou com um dublê mal ajambrado de parlamentar. Os efeitos
são os mesmos.
O sistema político, em geral, e o
eleitoral, em particular, não avançam um milímetro nos caminhos da decência. Se
por alguma razão, um passo é dado à frente, onze são dados em direção ao
atraso. No que se refere em busca da Democracia, vivemos sempre um “eterno
retorno”. Para bem exemplificar tal situação, vale aqui a conhecida metáfora do
“cachorro que roda atrás do próprio rabo”.
Boas intenções e oportunidades
não faltam para que os avanços democráticos sejam sentidos, mesmo sendo a
passos lentos.
Já não creio que eleger vereador,
deputado, prefeito ou presidente da república seja o melhor e o único caminho
para se conquistar a Democracia. O vereador eleito já é um adulto, cheio de
vícios e espertezas. A maioria, se não é, vira artista e faz do parlamento um
balcão para seus negócios e suas tramas. Nada do que interessa ao público faz
parte do jogo. É assim que o “sistema” se produz e se reproduz.
Também, não creio que outras
instituições como os sindicatos de trabalhadores, por exemplo, cujo processo
eleitoral é um momento importante para sossegar os ânimos, sejam alternativas
seguras e confiáveis para a conquista democrática. Assim como o vereador, o
sindicalista, a despeito de sua convivência com o conflito, carrega os mesmos
vícios que o parlamentar, pois não consegue saltar a vala comum do
conservadorismo, nem fugir das disputas mesquinhas em defesa de interesses
particulares, muitas vezes escusos.
Não fosse essa mácula, os mais de
dez mil sindicatos de trabalhadores que temos; a maioria forjada na inegável
luta de classes, teríamos uma massa capaz de fazer nossas elites engolirem o
golpe, e, no mínimo, fazer valer a escolha popular legítima do pleito de 2014.
Evidente que não devemos
prescindir do parlamento, das instituições sindicais, nem daqueles escolhidos
pela população para governarem municípios, estados e a união. Se tem sido
difícil assim, certamente, sem esses mecanismos, a vida seria bem pior.
Mas enquanto a vida não se esvai,
sobra a esperança. Aquela esperança que alimenta os sonhos. E o sonho que
cultivo é que a escola pública seja a precursora das conquistas democráticas,
pois é nela que reside a salvação de nosso povo.
Por poucas razões.
É na escola que o espaço público
melhor se apresenta à criança, ao adolescente, a todos nós. Na escola os
valores democráticos melhor podem florescer, porque é o espaço criado pela vida
humana para se ensinar e para se aprender. Antes de tudo, aprender e ensinar a
ser democrático.
Na atual conjuntura do Distrito
Federal, vivemos um bom e oportuno momento para conversarmos sobre isto. Em
poucos dias teremos eleições para gestores das escolas públicas. Direta e
indiretamente, mais de um milhão de pessoas estarão envolvidas nesse processo.
É um momento que sugere conquistas
democráticas, e a possibilidade de escolha de um gestor público pela comunidade
escolar é uma delas. E mais que a
escolha do gestor, o processo deveria ser o momento mais importante para
descortinar as conquistas democráticas.
Contudo, assim como nossas
elites, aqui também há quem não prefira, mesmo que de forma dissimulada, uma
sociedade democrática e, por consequência, uma escola com valores democráticos.
O atual governo, através de sua
Secretaria de Educação, não sopra um dente de leão para que o processo seja o
mais democrático possível. No máximo, cumpre o ritual que a lei exige, mas se
puder atrapalhar, o faz com a maior desfaçatez, como tem sido demonstrado.
Nossa câmara legislativa, cujos
membros vivem a cantar que ali é a “Casa do Povo”, deu sua contribuição para
piorar o que já era ruim: mudou a lei para beneficiar um grupo de diretores
interessado em permanecer eternamente na gestão escolar. Um golpe diferenciado.
Os atuais gestores e escolas inteiras
se submetem a vícios e tramas que nada têm a ver com que o momento sugere e
exige, não se dando conta de que ali é um espaço público, onde se deveria
aprender e ensinar valores democráticos.
Um exemplo dessa picaretagem é a
supressão, na maioria das escolas, dos debates tão necessários para a
mobilização e o envolvimento da comunidade no processo e para dar transparência
às ações e aos interesses dos postulantes à gestão pública.
A falta de pudor não é percebida
apenas na sofreguidão da disputa, quando há, mas nas próprias orientações dadas
pelos “organizadores” do processo eleitoral, haja vista este parágrafo de um
documento expedido pela Comissão Regional Eleitoral de Taguatinga para orientar
os procedimentos da vergonhosa “audiência pública” a se realizar em cada
escola.
Então... seria esta uma medida legal para evitar que o
diretor/concorrente seja cobrado a prestar contas do dinheiro recebido de uma
operadora de telefonia celular pela antena instalada dentro dos muros da escola
ou em suas imediações, ou para evitar que o diretor/concorrente tenha que
explicar a venda de período de coordenanação? Será possível que tenha algo mais
que não deva ser tornado público, sob pena de o Ministério Público, tão cioso
com a moralidade, vir a denunciar?
Por fim a participação do nosso
Sinpro/DF. Do nosso combativo Sindicato dos Professores no Distrito Federal
nesse processo que de “democrático” só tem o nome.
O Sinpro/DF foi a instituição que
mais se empenhou para que a Lei 4.751/2012 – da Gestão – fosse elaborada,
votada, sancionada e executada.
Mas o Sinpro/DF parou aí. Parece
que o entendimento dos diretores e das diretoras do sindicato é a de que a Lei
sozinha encaminha a democratização das relações escolares. Se for esse o
entendimento, eles estão certos, pois nem mesmo a diretoria encontrou o veio da
democratização da escola.
A intervenção necessária para que
o debate aconteça, para que os erros da legislação sejam corrigidos e para que
a escola saia da inércia política em que se encontra o Sinpro não tem feito. E
parece que não virá a fazer, pois a depender das publicações na página da
instituição, o discurso aponta para a total ausência de seus diretores no
processo político eleitoral da rede pública de ensino.
Mas o entendimento conservador é
este mesmo, o de achar que a sociedade se democratiza sozinha, sem a intervenção
das instituições e de suas lideranças.
Os professores de Brasília
construíram um sindicato que sempre repudiou a tese da função assistencialista
defendida pela ditadura militar e nossas elites. Nos dias de hoje, a direção do
Sinpro-DF pensa que o melhor que pode fazer pela categoria é estabelecer convênios
com agências de turismo, lojas comerciais diversas, postos de gasolina etc., e ainda
canta esse tipo de ação como um grande feito. Essa diretoria por não fazer
autocrítica, ressente-se muito das críticas, acha presunçoso quem as faz e foge
dos conflitos como gato escaldado foge de água fria.
E o pior de tudo é que com esta conduta
está matando o debate.
Assim, a diretoria do Sinpro se
soma aos dirigentes da Secretaria de Educação, à maioria dos diretores e
diretoras de escolas e aos diretores das regionais de ensino num pacto de silêncio,
isto num momento em que, graças às circunstâncias em que vivemos, mais se necessita
do debate, do envolvimento, do esclarecimento, da denúncia e da cobrança por
transparência nos serviços públicos.
Portanto, não atiçar o conflito é
o mesmo que silenciar e omitir-se. Quem adota esta postura deve assumir a culpa
pela não democratização das nossas escolas. E é o que deve fazer o nosso
sindicato e os responsáveis pelo sistema de ensino público do Distrito Federal.
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