sábado, 4 de fevereiro de 2017

Sim, morreu! E daí?


Nonato Menezes - Se Maria era de família rica, a urna era folheada a ouro. Ternos pretos, camisas brancas e gravatas cinza longas e, claro, óculos escuros dos homens fizeram parte do ritual do adeus à Maria.

As mulheres foram com os clássicos vestidos negros para o funeral. Algumas com vestidos com mangas e outras com tailleur com jaquetas. Óculos escuros nesse momento, também, tem sua utilidade.

 Os calçados, também exigência do ritual, estavam todos muito bem lustrados.

No velório da rica, o clima era de velório mesmo. Não pela morte, em si, mas pela apreensão de todos sobre o que virá nas horas seguintes, quando a briga começar pelos despojos de Maria.

Se alguns olhos lacrimejaram, os óculos escuros não deixaram que alguém percebesse. Foi aquela tristeza contida, engolida, sem nenhuma demonstração forte de dor ou de pesar.

Como Maria era rica, mas não celebridade, baixou-se a urna, e como tempo é dinheiro, apressou-se o adeus e o que se viu foi o silêncio dar o tom da despedida.

Agora, se Maria era de família pobre; meu Deus, que escândalo!

– Mamãezinha, não me deixe! Meu Deus! Mamãe, eu quero morrer também!

Foi o clamor da filha adolescente.

E segue assim, por vários minutos, o ritual da perda da mamãezinha querida.

Das filhas, a única que não gritou de dor, foi a mais velha que, ainda solteira, deveria estar muito preocupada com o futuro dos irmãos e das irmãs mais novas.

Vizinhos, parentes distantes e amigos de Maria, alguns de terço nas mãos, começaram a rezar em voz alta o Pai Nosso:

Pai Nosso, que estais céu... Receba Maria!

Eram poucos, mas alguns evangélicos tentaram aquela gritaria que mais parece um encontro de bêbados, mas foi sufocada pelo Pai Nosso dos Católicos.

Finalmente, a urna submerge. Mais alguns clamores e as lágrimas derradeiras daquele ritual triste, mas animado.

A dispersão. Abraços como gesto de solidariedade. O adeus definitivo.

Independente de ter sido pobre ou rica, Maria morreu.

Sim, morreu! E daí?

O que a morte de Maria tem a ver com as demandas trabalhistas dos Professores da Rede Pública de Ensino do Distrito Federal?

Ou a Diretoria do nosso Sindicato, na ânsia de impactar, caiu na síndrome das curtidas e compartilhamentos apenas para saber o tamanho da tolice que ela cometeu?

Triste, muito triste!

A morte de Maria e a falta de criatividade dos nossos sindicalistas.


2 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Nossa,esse texto ficou muito hilário,o a blogueiro tem uma veia cômica muito aguçada e conseguiu que eu imaginasse as cenas e risse muito,pois é realmente assim que ocorre nos sepultamentos dos ricos e dos pobres.Talvez o outdoor do Sinpro não tenha sido tão explícito e criou na cabeça de muitas pessoas uma certa confusão ou dúvida,mas o intuito,que não ficou muito claro,era que Maria morreu e não conseguiu se aposentar à tempo e é que isso que ocorrerá com muitos professores daqui pra frente,se a Reforma da Previdência vingar.

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