quarta-feira, 26 de abril de 2017

Janot é um Gilmar sem a macropolítica, por Observador

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Janot é um Gilmar sem a macropolítica

por Observador

O editorial do Estado de São Paulo de hoje, com o pífio título "Sabotagem contra a Lava Jato", mostra-nos como a falta de bom senso domina a mídia comercial. Inventaram um factoide para dele tirar a ilação de uma grande conspiração interna no MPF contra... a Lava Jato! Seria de gargalhar se não fosse tão mal intencionada a tese. Vamos lá:
O Conselho Superior do MPF estava ontem prestes a aprovar uma resolução pela qual se limitaria em 10% dos colegas lotados em cada unidade o contingente que poderia ser colocado à disposição do Procuradoria-Geral da República. O placar estava 7 a 1, quando o Procurador-Geral pediu vistas. Demonstrou profunda irritação com a iniciativa da Conselheira Raquel Dodge, que esquecera de consultá-lo a respeito. E sugeriu que a proposta impactaria negativamente as investigações da Operação "Lava Jato", dado que seriam poucos os colegas "especializados" em crimes complexos.

O que o Estado de São Paulo ignora ou omitiu é que o Procurador-Geral da República mantém em seu gabinete uma "elite" de colegas, os que pertencem a sua "panela" de apoiadores e que, em sua maioria, integram o grupo que fez duas campanhas para sua eleição. Trata-se, portanto, do grupos dos amigos do rei, que o idolatram. Que fazem sua corte.
De especialistas não têm muitos. Basta lembrar reiteradas reclamações do Ministro Teori Zavascki, de saudosa memória, com a má qualidade do trabalho: petições com informações desencontradas dos autos; erros de português; adjetivos a dar no pau, desqualificando investigados, num verdadeiro jargão policialesco. Dizer que esses colegas são insubstituíveis beira o insulto à instituição.
Mas o Procurador-Geral pediu vistas, apesar de já ter clara a sua posição, nada havendo para se inteirar. Como não gosta de perder, tirou a bola do jogo. Comportou-se como Gilmar Mendes, quando pediu vistas do processo que cuidava do financiamento de eleições por pessoas jurídicas. Sabendo que sua posição favorável ao financiamento não prevaleceria, "melou" o julgamento e ficou por mais de ano segurando a decisão final. Nada queria aprofundar com o melhor exame dos autos. Queria só protelar a decisão, de preferência inviabilizá-la com a superveniência de algum fato político que tornasse a discussão superada.
Janot e Gilmar são o mesmo tipo de jogador. Para eles, só vale ganhar. Se correrem o risco de perder, o jogo precisa ser interrompido. No caso de Gilmar, ainda se poderia argumentar com razões macropolíticas, mas, no caso de Janot, é só a politicagem rasteira de proteção dos seus dentro da instituição.
Os rumores insistentes sobre supostas tratativas do Procurador-Geral com o Sr. Temer vão nessa direção. Ele parece querer fazer o sucessor a qualquer custo para garantir a continuidade do jabá para seu grupo. Se precisar para isso trabalhar contra a lista tríplice que lhe garantiu dois mandatos, assim o fará sem dor na consciência. A lista só foi boa quando lhe deu a vitória. Até porque sem ela, o Sr. Janot sabe que não teria sido escolhido. Era um ilustre desconhecido e havia candidatos mais aptos a manter uma relação institucional mais afinada com os outros poderes.
Por isso, está completamente enganado o Estadão ou quer nos engambelar redondamente. A decisão do Conselho Superior do MPF em nada tangencia a "Lava Jato". É moralizadora e preserva a atuação de todas as unidades da instituição. Não há conspiração coisa nenhuma. Há inúmeros colegas aptos em todo o País a fazer um bom trabalho persecutório. Seguramente melhores do que os que pertencem à panela do Procurador-Geral. A maioria não cometeria os erros que irritavam Teori. A diferença é que não o adulam e nem participam de suas festas particulares. Mas são, com certeza, republicanos e empenhados em dar de si o melhor para o Brasil.
Mas dizer que atrapalha a sacrossanta "Lava Jato" virou senha para mobilizar a opinião pública contra adversários. É apenas um uso mesquinho de atribuições para o empoderamento de grupos e grupelhos dentro do ministério público. Infelizmente, a "Lava Jato" não fez mal apenas ao País com suas táticas escandalosas, fez mal, sobretudo, ao próprio MPF, criando hábitos nada democráticos de gestão. Afinal, o que nasce como iniciativa autoritária para subjugar a política, não pode deixar de ser autoritário também domesticamente. A gramática do poder é uma só.

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