domingo, 2 de julho de 2017

As escolas brasileiras ainda vão pedir para alunos comparecerem fantasiados de negros. Por Donato


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Menos de um mês após uma escola particular no Rio Grande do Sul ter promovido um convescote com o tema ‘Se nada der certo’ na qual alunos debocharam de profissões menos ‘nobres’ como faxineira ou gari, não ocorre ideia mais brilhante para um outra escola do que organizar uma bizarra festa que pedia a alunos virem fantasiados de ‘favelados do Rio de Janeiro’.

A solicitação era para uma parte dos alunos do 4º ano do colégio particular Fayal, de Itajaí (SC). O figurino de um favelado, segunda a direção da escola, é bermuda, chinelo, óculos escuros e boné.
Já a outra parte da classe deveria vestida como advogados, médicos, empresários. O ‘outro lado’, pelo visto.

Curiosamente, o Fayal é um colégio ‘cenecista’, pertence a uma rede de ensino chamada Campanha Nacional das Escolas da Comunidade. Com uma mentalidade dessas, fica difícil deduzir qual comunidade.

Pais ficaram revoltados, afinal a estigmatização vinha em várias frentes.

“Na minha opinião, fantasia de favelado do Rio de Janeiro é de professor, policial, jornalista, estudante, dona de casa…. Porque eu tenho certeza que essas classes não moram na Barra da Tijuca ou em Copacabana”, postou nas redes sociais a jornalista Elaine Mafra, mãe de um aluno.

A direção da escola desculpou-se tão logo o estardalhaço se fez. Afirmou que ocorreu um ‘equívoco’, com ‘palavras mal colocadas’, e que a festa não tinha outra finalidade que não a de promover a inclusão.

Concederemos um desconto à escola e digamos que de fato não seja uma instituição mal intencionada. Mas uma escola que emprega mal as palavras não entusiasma no quesito educação.

Mesmo que sem querer, o colégio reforçou estereótipos e preconceitos. Cometeu a indecência de classificar e julgar as pessoas com base em locais onde moram, onde nasceram.

Pelo tamanho do ‘equívoco’, do ‘mau jeito com as palavras’ e pelo descuido com a forma da abordagem, surpreende que não tenham pedido que os alunos representantes dos favelados viessesm maquiados como negros e portassem um fuzil. De brinquedo, claro.

O que acontece com as instituições de ensino particular no Brasil que promovem essas bobagens – ou permitem que seus alunos o façam?

Nos últimos tempos são recorrentes as festas idiotas com alunos fazendo black face, ou mesmo fantasiados de membros da Ku Klux Klan. Não é fake news, infelizmente.

No início deste mês, no Colégio Anchieta, em Salvador, alunos vestiram a famosa indumentária com capuz e posaram para fotos enquanto seguravam um jovem negro. Segundo a escola e os alunos, o evento se deu no tradicional ‘Dia do Mico’, que é realizado todos os anos com estudantes do 3º ano do ensino médio.

Na atual conjuntura, difícil saber o que ali estava sendo considerado ‘mico’.
Jornalista, escritor e fotógrafo nascido em São Paulo.

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