segunda-feira, 29 de janeiro de 2018

Damous questiona moral de “fuzileiro” da Lava Jato, mas Bretas defende acumular com a esposa R$ 8.754,66 só em auxílio-moradia


Da Redação

O juiz Marcelo Bretas comanda a Operação Lava Jato no Rio de Janeiro. Ele é casado com a juiza Simone Bretas.

Segundo o Portal da Transparência, o casal teve rendimentos brutos em dezembro de 2017 de R$ 88.496,90.

Destes, R$ 8.754,66 em auxílio-moradia — Marcelo e Simonem recebe a ajuda mensal de R$ 4.377,73 cada.

O Conselho Nacional de Justiça já proibiu o acúmulo, mas Marcelo foi à Justiça.

Com isso, embora more com a esposa sob o mesmo teto, acumula dois auxílio-moradia.
Desde que a notícia do acúmulo foi divulgada pela Folha de S. Paulo, Bretas recebeu fortes críticas nas redes sociais.

Ele se defendeu dizendo que obteve o benefício na Justiça, mas internautas argumentaram que se trata de uma imoralidade um juiz federal acumular com a esposa quase 9 mil reais só de auxílio-moradia, quando ambos moram na mesma casa.

Muitos lembraram a crise econômica e os cortes em gastos públicos que comprometem a sobrevivência dos mais pobres.

Bretas é o juiz que postou uma foto em que aparece com um fuzil na mão, durante um treinamento — segundo ele realizado para garantir sua segurança pessoal.

Ele também disse, em entrevista, que a Justiça deve ser temida.

À época, o professor de Direito Constitucional Lenio Streck rebateu a declaração de Bretas com ironia, argumentando que a Justiça deve ser respeitada, não temida.

Streck fez referência ao avanço de “justiceiros” sobre as garantias constitucionais. Um deles, obviamente, seria o próprio Bretas:

“Digam-me se Bretas não está certo em dizer que temos que ter medo a Justiça quando lemos coisas como o manifesto contra a bandidolatria? Digam-me se não tenho que ter medo quando alguém da Justiça me diz que “não precisa ouvir o que tenho a dizer porque já firmou a convicção”? Hein? Sim, sim, Bretas tem razão. Não tenho que dar razão a Bretas e ter medo da Justiça quando seus órgãos julgam contra o claro texto da lei? Não tenho que ter medo quando o Direito é substituído pela moral?”

Pois eis que o moralista agora é acusado de fazer algo imoral.

O juiz polemizou recentemente com os senadores Gleisi Hoffmann e Lindbergh Farias, ambos do PT, sugerindo que ambos estavam incitando à violência os manifestantes que foram a Porto Alegre protestar contra a condenação de Lula.

Não houve incidentes.

Diante do comportamento de Bretas, o blogueiro Luís Nassif concluiu que ele busca assumir o papel de antipetista, de olho numa eventual candidatura.

“Para mim, está claro que o juiz Marcelo Bretas está começando sua atividade política enfrentando aquele que ele considera seu maior oponente. O fato de ele entrar publicamente em discussões com membros de peso do PT só comprova que seu projeto político já está sendo colocado em prática. Não me parece que haja tempo hábil para alguma candidatura ainda em 2018. Mas, tanto em relação à política quanto a sua popularidade por conta da Lava Jato, este pode estar sendo um momento favorável para iniciar uma trajetória nesse sentido com objetivos a médio e longo prazo”, escreveu Nassif.

Apesar de se explicar no tweeter, argumentando que obteve o benefício na Justiça, Bretas foi castigado por críticos à esquerda e à direita.

O deputado federal Wadih Damous (PT-RJ) escreveu: “Com que autoridade moral o juiz fuzileiro Marcelo Bretas vai continuar encarcerando acusados de corrupção se ele e a mulher também juíza ganham auxílio moradia residindo na mesma cidade onde trabalham? Que nome se dá a isso?”

Reinaldo Azevedo, por sua vez, afirmou que Bretas extrai da Lava Jato tudo o que pode de notoriedade: “Bretas, um dos patriotas do nosso tempo, cavaleiro sem mácula dos veículos do grupo Globo. Como sabem, ele tem nas mãos um troféu que, a cada pouco, rende safra nova de notícias: chama-se Sérgio Cabral. Como a biografia do objeto de seu desvelo às avessas não ajuda, ele vai surfando na onda!”

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