No balcão com Aldir Blanc, em diálogo platônico, um papo sobre os carrascos do rio Guaíba e a justiça sob encomenda
Champanhe e foguetório na Bolsa de Valores e no cassino financeiro; a cachaça da melancolia popular no beco, na viela, na Encruzilhada (Recife), no Ver-o-peso ou no mercadão de Madureira. No país que castiga o macaco pela febre amarela, cada sujeito no seu mercado. E assim terminou a farsa ensaiada do TRF-4 para tirar o Sapo Barbudo do jogo, pena que isso não é apenas uma fábula de Esopo. No tapetão, ou com gol da mão invisível da Fiesp, é mais gostoso para a galera de camisa da CBF.
Óbvio que estou mui revoltoso, meu cronista samba-jazz Aldir Blanc, afogo as mágoas na jurubeba da dialética e nas iluminações do clássico "Direto do Balcão" (Mórula Editorial, Rio, 2017), que bíblico, nobre vascaíno. No futebol não és apenas um traço, no boteco eis o primeiro braço que ergue o brinde à mais utópica das saideiras, salve salve, Lamartine Babo.
"Direto do Balcão", vos digo, passageiros desse último pau-de-arara crônico, é prosa fina de batuque em caixinha de fósforo de madeira, como se o Meninão do Caixote -o do João Antônio, lembras?- tocasse um instrumento no Bip Bip do Alfredinho. Foda-me, Copacabana, dá um tempo, borboleta amarela.
Como diria o mesmo Dostoievski citado por um carrasco do rio Guaíba, se o golpe foi um sucesso, tudo é permitido -com STF com tudo. E ainda não estamos no terceiro ato, aguenta firme até a confecção da chapa do TSE com os candidatos de outubro. Não viste nada ainda, pabulagem, vai faltar corrimão neste samba de breque. "E nada da pororoca social chegar, seu Aldir", cascateia o Baiano, arquiparceiro do bar da Maria. Obviamente a criatura se refere ao vaticínio do general João Baptista Figueiredo (1918-1999), o derradeiro ditador do ciclo militar de 1964. Sim, o que preferia cheiro de cavalo a cheiro do povo. Pelo menos foi o mais sincero dos políticos sem votos, pule de barbada no Jockey Club da burguesia brasuca.
As danações da pororoca, Baiano sabe disso, seguem apenas como o fenômeno que marca o encontro das águas amazônicas dos rios Negro e Solimões. Nada do sururu na área previsto na paranormalidade equina ou milica. A massa, noves fora os bravos sem-teto e sem-terra, anda apenas ressabiada. A massa tem suas razões para o silêncio - quem é este cronista menor, jurubebas e moelas dialéticas à parte, para entender os mistérios da história.
Óbvio que estou mui revoltoso, doutor Aldir, "acendo um cigarro molhado de chuva até os ossos, e alguém me pede fogo - é um dos nossos. Eu sigo na chuva de mão no bolso e sorrio". Como é difícil encontrar um dos nossos nas redações imaginárias da vida. Mas tem sempre um Veríssimo, tem sempre um Jânio de Freitas, e, pasme, velho Henfil, quem diria, agora vibramos até com os diários americanos. Deu no New York Times, vixe, agora não representa mais aquela viralatice do jeca de direita, virou um respiro para a esquerda -não te conto, Baiano, o jornalão da Corte foi mais honesto no justiçamento do TRF4 do que a mídia provinciana de Tanga, acredite se quiser. Incrível. Foi de fora que veio o suspiro, como se um caboclo gutenberguiano amazônico importasse oxigênio.
Xico Sá, escritor e jornalista, é autor de "Chabadabadá -aventuras e desventuras dos homens perdidos e das fêmeas que se acham" (editora Record, 3ª edição, 2018, Rio), entre outros livros.
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