terça-feira, 29 de maio de 2018

Não há solução para a crise nos marcos do regime golpista

Darren Ornitz - Reuters


Já faz tempo, o Brasil está numa encruzilhada histórica, à beira de um precipício.

Hoje, vigora o pleno desgoverno, ao passo que as demais instituições políticas faliram, com Câmara, Senado, PGR, Supremo, com tudo. É regido por uma Lei Maior que, de tanto que foi desfigurada, não passa de uma contrafação constitucional.

Assombrosa a solução militar (mais uma) intentada por Temer, Marun, Echegoyen, Jungman et caterva. Mais uma destinada ao fracasso e à exposição das Forças Armadas a situação constrangedora, como ocorreu na intervenção federal no Rio de Janeiro. Tanto melhor que, até agora, a instituição castrense não aceitou exercer o papel indigno de usar a força contra o movimento paredista.

Patética a ação parlamentar do presidente da Câmara dos Deputados, em busca de uma aritmética milagrosa que sirva de bandagem às feridas que a Petrobras sofreu pela neoliberal e desastrosa gestão de Pedro Parente. Inócuas as piruetas orçamentárias, desonerações, reonerações, isenções de impostos, pois não há mágica que retire as contas públicas do descalabro provocado por um governo pato manco e inconsequente.

Patéticos os pronunciamentos do presidente da República e a nota conjunta que assinou com os presidentes da Câmara e do Senado.

Nefastas as propostas de intervenção militar, apelos para que as Forças Armadas tutelem a vida política, ainda que não assumam diretamente o governo.

Esdrúxulas as propostas de medidas emergenciais a partir de mecanismos acionados pelo presidente golpista.

Desafortunadamente, há desencontro de opiniões entre da variados setores da esquerda na interpretação geral sobre o significado da crise e a busca de saídas para o transe da vida política nacional. Comportamento que oscila entre a ilusão de uma insurreição vanguardeada por caminhoneiros e a urdidura de alianças com golpistas que alternam posições de alinhamento e dissidência interesseira vis-à-vis o governo Temer.

O Brasil não se livrará da ameaça fascista que assoma através dos brados em favor do golpe militar se a esquerda não sair da confusão em que se encontra. As forças de esquerda e as organizações do movimento popular deveriam encontrar-se no âmbito da Frente Brasil Popular e/ou de uma reunião mista de todos os seus deputados, senadores, governadores, prefeitos. O cenário propiciador da unidade é sempre o melhor para abrir caminhos numa fase tão perigosa da vida nacional.

Enquanto a esquerda se fragmenta em interpretações tão díspares como esdrúxulas sobre o caráter da crise atual e se perde em alianças infrutíferas com golpistas, a agenda do golpe segue de vento em popa, o país fica paralisado, à mercê de opressores e abutres e o principal líder político nacional segue preso.

O Brasil não sairá da crise nos marcos do regime golpista, com o atropelo da vida democrática. É preciso dar fim a esse regime, assegurar a realização de eleições democráticas, o que só poderá ser garantido com Lula livre e seu direito a ser candidato assegurado.

José Reinaldo Carvalho

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