Omar dos Santos
Quem é esse homem que fala com os poderosos, as autoridades e os humildes com a mesma contumácia, singeleza e doçura?
Que homem é esse que às vezes fala ásperas e duras verdades aos que devem ouvi-las, mas sempre mostrando tanta brandura para com o homem errante?
Quem é esse homem que arrasta multidões ávidas por ouvirem, dele, antigas falas, tão repetidas pela história da humanidade, mas tão novas e ardentes em sua boca?
Que homem é esse que viaja por toda a Terra, profetizando a chegada de um tempo novo; tempo de construção do verdadeiro ecumenismo compartilhador?
Quem é esse homem que ousa professar a alvorada de uma humanidade mais fraterna, justiceira e amorosa, com a qual a humanidade urdirá o paraíso aqui mesmo na Terra?
Que homem é esse que anda pelos caminhos mundo afora, desarmando os espíritos da maldade do preconceito, do egoísmo, da insensibilidade e da ganância com largos sorrisos e olhar cativante?
Quem é esse homem que chegado à nova casa, abdica “o Trono Real” e toda a sua magnificência em favor da singeleza que sempre marcou sua existência?
Quem é esse homem que foge da guarda do palácio para surpreender as famílias na trivialidade cotidiana de seus lares com calorosos beijos e abraços?
Quem é esse homem que para afagar crianças, beijar idosos e sentir o calor do povo, transgride o ritual da segurança do chefe de Estado, pulando do carro blindado?
Esse homem é o Jorge Mário Bergoglio, que sofreu na carne as consequências da mais cruenta e feroz perseguição pessoal e política perpetrada para aniquilar consciência, convicções e credo no homem reto que nele mora, mesmo assim seguiu altivo como só os devotados podem seguir.
Esse é o homem, ainda Bergolio, que fez, de forma incondicional, opção pela gentaça, pelos renegados, pelas crianças desamparadas e martirizadas e pelos jovens largados à própria sorte numa sociedade cínica e indolente, para a qual o que conta é o lucro a qualquer custo.
Esse é o homem, agora Francisco, tão manso e dócil como o de Assis, que tem as mesmas preocupações do Irmão Sol e as mesmas práticas de um Certo Galileu.
Esse é o homem, agora Francisco, não o de Xapuri, mas que desafia, com atos e palavras, a horda dos hipócritas que envenenam a terra, calcinam a mata e infectam a água que nossos filhos irão beber.
Esse é o homem, agora Francisco, não o Xavier, mas que como o de Minas, diante do choro de uma criança faminta, das lágrimas de um idoso alquebrado e da apartação econômica, social e étnica imposta aos homens também chora e clama para que a humanidade aprenda a con[viver] e a [re]partir.
Esse é o Francisco, o “Papa que veio do fim do mundo” só para ensinar aos homens, a todos os homens: religiosos, agnósticos e ateus que a arrogância, a coisificação das gentes e o desamor são o mesmo que desumanidade.
Omar dos Santos – Inverno de 2018
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