sexta-feira, 4 de janeiro de 2019

Como os bilionários estão redescobrindo a democracia, por Luis Nassif



É curioso o movimento dos bilionários depois do crack de 2008.
Resumidamente, a saga dos bilionários é a seguinte:
1. Décadas de desregulação dos mercados, a globalização e as revoluções tecnológicas permitiram uma concentração inédita de riqueza, com a proliferação de bilionários pelo mundo.
2. Seguindo a lógica americana, que vem desde os irmãos Grace (que bancaram as Marchas Pelo Rearmamento Moral, do Padre Peyton), muitos deles se aventuraram pelo campo político, acreditando no destino manifesto de salvar o capitalismo.

3. A crise de 2008 comprovou o fracasso do neoliberalismo e da desregulação ampla. Por outro lado, aprofundou a crise dos Estados nacionais, que a socialdemocracia não logrou reverter.
4. A descoberta das redes sociais como instrumentos de instabilização política abriu um campo enorme para a atuação dos bilionários, na desestabilização dos países que não endossavam a globalização ampla.
Dentre todos os bilionários, nenhum foi mais ativo do que os irmãos Koch, texanos da indústria petrolífera, que passaram a financiar a radicalização de direita pelo mundo, montando uma espécie de partido político nas sombras. Sua bandeira era “libertária”, isto é, contra qualquer forma de regulação do Estado.
No governo Barack Obama, ajudaram a montar estratégias para bloquear as prioridades dos democratas, especialmente no campo da saúde. O financiamento do Tea Party, o grupo ultraradical que abriu espaço, no Partido Republicano, para a ascensão de Donald Trump, foi último feito político de monta.
O jogo começou a mudar quando Chase e Elizabeth, filhos de Charles, um dos irmãos, assistiram os debates políticos e a crescente radicalização do discurso de Trump, defendendo a violência racial e policial. A eclosão de violência racial, especialmente em Dallas, ajudou a mostrar a eles que havia algo de errado. A partir daí, a nova geração entendeu que a salvação do capitalismo não estava na aposta em personagens ditatoriais, mas em um trabalho de combate à miséria e dos desequilíbrios sociais e na consolidação das ideias democráticas.
Gradativamente, os centuriões dos Koch, os militantes que participam das redes dos irmãos, têm mudado de opinião. A guerra santa contra os inimigos foi substituída pela defesa do bipartidarismo e a necessidade de coalizões. Os novos doadores não exigem mais profissão de fé no Partido Republicano, mas foco em inovação e solução dos problemas da sociedade.
Por aí se pode entender o espanto com que a grande imprensa internacional recebeu o governo Bolsonaro.
Le Monde: “As convicções do chefe de Estado, que misturam paranoia e ódio ao socialismo, o levam a imitar a diplomacia de Donald Trump”.
The Economist: “Sr. Bolsonaro, cujo nome do meio é Messias, ou "Messias", promete a salvação; na verdade, ele é uma ameaça para o Brasil e para a América Latina“.
The Guardian: “O movimento provocou gritos de líderes indígenas, que disseram que ameaçaram suas reservas, que representam cerca de 13% do território brasileiro, e marcaram uma concessão simbólica aos interesses agrícolas em um momento em que o desmatamento está crescendo novamente“.
Quando começarem os boicotes às commodities brasileiras, ficará claro, até para mentes mais rotundas, como os ruralistas, a parte mais atrasada do agronegócio, os malefícios causados por esse fundamentalismo religioso ignorante.

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