domingo, 31 de março de 2019

Golpe Militar foi dado para manter subserviência do Brasil aos Estados Unidos


Por Florestan Fernandes Júnior

Neste dia 31 de março não temos nada para comemorar. Só temos a lamentar as atrocidades cometidas por uma ditadura que foi cinicamente justificada para "impedir" outra ditadura que viria de um governo democrático. 

É terrível que alguns oficiais do Exército, incentivados pelo capitão-presidente, comemorem a data do início de um regime que se impôs pela força, censurando, reprimindo e prendendo opositores. Nos anos 60/70, em plena guerra fria, os EUA através da CIA articularam e financiaram golpes em cadeia contra as democracias na América Latina. Nos transformamos, naquele período, no maior agrupamento de países sob regimes militares do planeta.

Portanto, é uma falácia dizer que o golpe militar veio para salvaguardar os direitos e as liberdades democráticas dos pobres cidadãos. Na realidade, os golpes orquestrados de dentro da Casa Branca em Washington serviram para garantir a subserviência do Brasil e de outros países da região aos interesses políticos e econômicos do capital americano. 

Para os desinformados, o "milagre" brasileiro dos anos 70 nada mais foi do que a entrada de bilhões de dólares em empréstimos numa dívida monstruosa que nos colocou no triste papel de país devedor, leia-se, inadimplente. Por conta da dívida, perdemos nossa soberania tendo que recorrer constantemente a novos empréstimos para pagar os juros da dívida. Durante anos nos submetemos às regras impostas pelo FMI. Só na primeira metade da década de 2000 conseguimos pagar a dívida externa e criar reservas internacionais invejáveis. Reservas estas que ainda temos hoje. 

É bom lembrar também que os militares devolveram o poder no Brasil em 1985 com uma economia em frangalhos. Saques em supermercados, corrupção desenfreada, pobreza, inflação de dois dígitos, crime organizado comandando as favelas e muito desemprego. Outra herança que os generais nos deixaram foi seus líderes políticos no Congresso Nacional: Antônio Carlos Magalhães, Paulo Maluf, José Sarney, Fernando Collor, Agripino Maia e tantos outros. 

Infelizmente o país não passou a limpo este período de arbitrariedades como ocorreu no Chile, Uruguai e Argentina. Como na Alemanha pós-nazismo, que julgou os militares da SS, os tribunais civis dos países do Cone Sul julgaram e prenderam os responsáveis pelos crimes cometidos durante as ditaduras. Mas isso não ocorreu no Brasil. 

Em uma nova roupagem, o fascismo reaparece em vários cantos do planeta. No Brasil, as estruturas e os dinamismos da nossa democracia pluralista garantiram o espaço necessário para esse ressurgimento. O novo golpe foi tramado nos mínimos detalhes dentro e fora do país a partir de 2014. Mas vai ser realizado de fato entre 2016/18 com o impeachment ilegal de Dilma e com a prisão do ex-presidente Lula, numa condenação sem provas materiais. 

Como em 1964, quando teve um papel fundamental na preparação do golpe militar, a imprensa conservadora alertava, no início de 2014, que Dilma seria afastada antes do fim de seu segundo mandato. Em seguida, o presidente Michel Temer também cumpre seu papel na trama. Dá início à privatização do pré-sal, da Embraer e de outras empresas públicas sedimentando o caminho para o retorno dos neoliberais. Só assim, a burguesia hegemônica, utilizando-se do poder político do Estado, conseguiu estancar e impedir os avanços sociais implementados pelos progressistas no país. Em 2018 a porteira estava aberta para a eleição do capitão-presidente tuiteiro que chega ao poder nos braços do generalato. Ainda não somos uma ditadura. Estamos bem perto dela. Por enquanto, podemos ser chamados de "República Militar do Brasil" sob a influência do comando central do Norte.

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