quarta-feira, 22 de maio de 2019

Os ‘mercados’ precisam pagar o preço, por André Motta Araújo

É inacreditável a passividade do comando da política econômica brasileira desde 2014 ao observar de camarote o afundamento da produção e do emprego, sem absolutamente nada fazer.


Os ‘mercados’ precisam pagar o preço

por André Motta Araújo

O Brasil pode crescer usando uma vasta reserva de mão de obra desocupada, imensa capacidade instalada em produção de alimentos, cimento, aço, alumínio, algodão, tecidos, veículos, navios, calçados, roupas, bebidas, remédios, madeira, tijolos, azulejos, auto peças, papel e celulose.

Por que não cresce se todos esses fatores estão disponíveis no País? Estão todos aí, parados, milhões de trabalhadores parados e o País precisando de saneamento, moradias, drenagem, despoluição de cidades, praias, periferias, reparos de hospitais e escolas, conclusão de obras paradas.

Porque um grupo de economistas, que controlam o Banco Central e toda a política econômica, TRAVAM o funcionamento conjunto desses fatores de produção para atingir objetivos meramente estatísticos que são necessários aos “mercados” financeiros como metas de inflação e com isso impedem o país de trabalhar e crescer. Mesmo dispondo de todos os elementos e instrumentos para crescer e com isso atender às necessidades imensas da população, o Brasil tem fatores físicos de produção de bens, de geração de empregos, de criação de riqueza e oferecimento de serviços à população.

Nada anda porque, de propósito, a economia está bloqueada para se tentar atingir estatísticas e índices que para eles é o negócio, é um processo de insanidade e de cupidez, uma agressão à ciência econômica que foi criada para, através da inteligência, amenizar crises e operar contra ciclos naturais que podem ser enfrentados pelo engenho humano, como fizeram os grandes economistas operacionais Keynes e Schacht.

Para deixar o processo econômico seguir um curso da natureza não seria preciso ciência econômica e nem economistas. Mas, pior ainda é quando economistas por sua intervenção aumentam as crises como cortar gastos públicos em meio à recessão, quando a lógica indica que o Estado deve fazer o contrário no contra ciclo com a maior ferramenta que só o Estado dispõe, a moeda. A moeda é o instrumental para enfrentar crise, quando deve ser expandida e não contraída, é uma arma do Estado.

POR QUE NÃO USAR A CAPACIDADE OCIOSA?

É inacreditável a passividade do comando da política econômica brasileira desde 2014 ao observar de camarote o afundamento da produção e do emprego, sem absolutamente nada fazer. Há no País fatores INTERNOS de produção que não estão limitados por nenhum constrangimento externo e que podem ser ativados por uma política de estímulos monetários calibrados dia a dia, o que exige inteligência, engenho e arte, algo desconhecido no campo de economistas de cartilha que desde o Plano Real manejam a política monetária através de seu domínio absoluto do Banco Central do Brasil.

A POLÍTICA ECONÔMICA ATENDE AOS INTERESSES DO “MERCADO”

A recessão, agora caminhando para a depressão, atende especialmente aos interesses do “mercado”. O sistema financeiro e seus clientes rentistas são os credores em Real do Estado, das empresas e das famílias. Quanto mais recessão, mais valorizadas são as dívidas em Real, não só a dívida pública federal como as dívidas das empresas e os financiamentos às famílias, tudo o que tem na ponta credora o sistema financeiro e seus clientes rentistas.

Como a taxa de juros real é várias vezes superior ao crescimento do PIB, a cada dia os que detém aa riqueza financeira ficam mais ricos, a renda mais se concentra e os pobres ficam mais pobres. No caminho, o Estado esmagado pela dívida pública cujo custo de carregamento é a maior despesa do orçamento, maior que a previdência, não tem mais recursos para educação, saúde, saneamento, obras públicas, tudo o que prejudica ainda mais os pobres.

Portanto, NÃO HÁ NENHUMA VANTAGEM PARA O PAÍS EM PROTEGER OS ‘MERCADOS ‘, que não entregam crescimento em troca da proteção de seus ativos, proteção essa que custa caríssimo à sociedade e especialmente aos pobres. Essa proteção se dá pelo “juro real” e pela “meta de inflação”.

Os “mercados” nem querem ouvir falar em uma política de estímulos monetários representada pela emissão de moeda cuja base está seca. Desde o Plano Real o Brasil não emite moeda nova, a base monetária real não cresce, o terreno da economia produtiva está seco e nada cresce em terreno seco.

O TRATO DO PAÍS COM OS ‘MERCADOS’

O País dá GARANTIAS EXCEPCIONAIS aos ‘MERCADOS’, representadas pelo juro real, pela ausência de controle cambial, pela manutenção de ALTÍSSIMAS reservas internacionais, cujo custo de carregamento é pago por todo povo brasileiro mas que serve como garantia especialmente aos especuladores internacionais, parte central dos “mercados” que entram e saem em minutos do País, para aproveitar todas as jogadas possíveis em diferencial de juros, o que só é possível pela segurança que lhes dão as reservas internacionais de quase US$ 400 bilhões e ausência completa de controle de câmbio, abolido por completo em 2008 (Resolução 3.568/2008), permitindo aos bancos remeterem divisas sem necessidade de autorização oficial, algo que havia desde 1933.

Todas essas super vantagens tinham como contrapartida implícita que os “mercados” promoveriam o crescimento e a prosperidade em troca da liberdade absoluta, proteção e garantias que o Estado lhes concedia. O Estado cumpriu sua parte, mas os “MERCADOS” não pagaram o preço combinado.

A MAIS ALTA CONCENTRAÇÃO DE RENDA DO PLANETA, O MAIOR CRESCIMENTO DA MISÉRIA NA HISTÓRIA DO BRASIL, NUNCA HOUVE TANTOS RICOS E TANTOS POBRES NO PAÍS, UMA EXTRAORDINÁRIA DILACERAÇÃO DA BASE SOCIAL, RUPTURAS FAMILIARES, CRIMES E FALTA DE PERSPECTIVA DOS JOVENS

Os últimos dados do PNAD apontam um crescimento nunca antes registado do Coeficiente de Gini, que aponta a concentração de renda, colocando o Brasil como um dos campeões da concentração e, como consequência, do empobrecimento da população mais carente, que já era muito pobre em 2014.

OS ‘MERCADOS’ PRECISAM PAGAR O PREÇO

Foram extraordinariamente beneficiados pelo controle absoluto do BANCO CENTRAL, desde 1994, com o que capturaram a quase totalidade da riqueza nacional, muito melhor distribuída entre 1950 e 1980 do que em 2019. Entre 1950 e 1980 os “mercados” NÃO controlavam a moeda e a riqueza do País.

O preço a ser pago deve ser a desmontagem dos mecanismos de proteção e garantia GRATUITOS que o Estado oferece aos mercados quais sejam:

1.Retornar o BANCO CENTRAL ao controle do Estado brasileiro. Nenhum dirigente pode ter sido ligado ao mercado financeiro. Desde 1994 TODOS os dirigentes do BC são, foram ou voltaram ao mercado financeiro. Basta seguir o caminho do Federal Reserve System dos EUA, onde nenhum dirigente pode ter ligação com o mercado financeiro, regra não escrita e fielmente seguida. É inaceitável essa infiltração de dirigentes de bancos privados dentro do BC.

2.Restabeler o controle de câmbio pelo FIRCE, que operava no Brasil de 1933 a 2008, com moderação, segurança e proteção dos interesses do País.

3.Abolir o sistema de “metas de inflação”, que só trouxe travas ao crescimento do País. A China tem “meta de crescimento” e não meta de inflação.

4.Restabelecer a CONTA MOVIMENTO do Banco do Brasil para financiar o dia a dia do governo, de forma mais barata e eficiente do que se financiar no “mercado” a juros altos, ficando réfem do sistema financeiro nacional e internacional, a quem precisa prestar reverência e submissão, além de pagar caro.

5.Juro da dívida pública 1% ao ano acima da inflação. Os detentores que não aceitarem, resgate em dinheiro, que irá para ativos físicos.

6.Programa de obras públicas de R$2 trilhões em 40 meses, o que fará o País crescer 5 a 7% ao ano nos próximos 4 anos.

O Brasil hoje está de joelhos perante os “mercados” a troco de nada, não se beneficiou dessa submissão, só perdeu, a China não cometeu esse erro.

AMA

Nenhum comentário:

Postar um comentário