domingo, 26 de abril de 2020

O fetiche com os militares e a ilusão de que eles vão abrir mão da mamata com Bolsonaro. Por Kiko Nogueira

         Publicado por Kiko Nogueira
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Bolsonaro e o general Luiz Eduardo Ramos, ministro-chefe da Secretaria de Governo

A mídia brasileira — e, por extensão, a parte da elite que ela representa — tem um fetiche pelas Forças Armadas.

Janio de Freitas, em sua coluna de hoje na Folha, diz que Jair Bolsonaro “faz mal à instituição”.

“Os militares precisam fazer um exame honesto e profundo de sua relação com o país”, escreve. “Sem isso, sua caracterização militar será sempre um rascunho e sua autoimagem sempre ilusória.”

Por que o fariam? Por que estariam tão preocupados com “exame honesto e profundo”? Quem tem autoimagem é a Ivete Sangalo.

Marvel Pereira cravou numa coluna que Bolsonaro convidou os generais ministros da Defesa, Fernando Azevedo e Silva, e da Secretaria de Governo, Luiz Eduardo Ramos, para acompanhá-lo no protesto em que ele cuspiu perdigotos golpistas em Brasília.

Segundo Merval, ambos se recusaram “por considerarem que a presença deles sugeriria que o Exército avalizava a manifestação”.

No mesmo dia, Ramos foi ao Twitter acusar Merval de “publicar fatos INVERÍDICOS” e desmenti-lo.

O jornal dos Marinhos publicou no sábado, dia 25, uma longa matéria sobre a suposta consternação da caserna com a saída de Sergio Moro.

Não tem nada concreto. Só papo furado.

O fato é que o ministro da Defesa, general Fernando Azevendo e Silva, que tem ascendência hierárquica sobre os comandantes forças, estava ao lado do presidente no discurso lelé em que ele se defendeu de Moro.

Não há o menor sinal de uma debandada militar. Muito pelo contrário.

É paradoxal. Espera-se que os milicos, que deram um golpe em João Goulart, façam o mesmo com Bolsonaro. 

Apela-se a um sentimento comum ou a uma consciência coletiva e monolítica. Eles virão para nos salvar em alazões brancos.

Elio Gaspari, amigo de Golbery e herdeiro de seus arquivos, ajudou a consolidar a mitologia em torno dessa turma com seus tomos sobre a história da ditadura.

O buraco é mais em cima. Os fardados que acompanham Bolsonaro querem cargo, dinheiro, poder e influência. Se possível, até amor verdadeiro.

Desde a redemocratização, não tinham tanta mamata. Há mais deles no governo, em postos chaves, do que entre 1964 e 1985.

Grana, fama, moleza, seguranças, puxa-sacos garantidos por Bolsonaro.

Por que abririam mão? Por causa da Thaís Oyama? Do Merval? Pela pátria?

Onde mais o vaidoso pequeno Heleno teria tantos holofotes? Sujeito tem gabinete, serviçais, prestígio e voz. 

Geisel definiu Bolsonaro como “mau militar”. O capitão era um “bunda suja”, no jargão da corporação.

Tudo verdade — mas é o que eles têm. Es lo que hay.

O projeto nacionalista de 64 não existe mais. Agora eles querem se dar bem como os civis.

O vice Hamilton Mourão resumiu com simplicidade a questão do ex-ministro da Justiça: “Perder Moro não é bom, mas vida que segue”. É isso.

Enquanto o pixuleco garantido por Bolsonaro estiver pingando, ninguém vai romper a ordem unida.

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