
Bolsonaro (Foto: Reprodução)
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Talvez, só respondendo com a mesma vulgaridade, o mesmo mau gosto, a mesma agressividade, o mesmo tom apodrecido, o mesmo eixo metafórico de esgoto, para se encontrar uma vacina retórica a altura que combata essa doença chamada governo Bolsonaro.
Ser educado com essa escória é uma irresponsabilidade. Quando o sangue corre nas ruas, os ritos da boa educação tornam-se sintoma da miséria ética que caracteriza as elites covardes.
[Lembrando que, no Brasil, ‘elite’ tem sentido pejorativo].
A metáfora da ‘hemorroida’ é tão doentia quanto pedagógica.
Em primeiro lugar, porque muitos brasileiros sofrem desta doença. Somada ao quadro de obesidade e hipertensão, gatilhos para seu surgimento, ela ilustra bem o nosso caos sanitário disparado por um governo que se recusa a governar: quem tem hemorroida é candidato a ter complicações graves caso adquira a covid-19.
Esse é o nível de desumanidade associada à vulgaridade e desprezo que identifica a patifaria que é este governo: eles zombam das mortes, zombam da dor, zombam da vida e zombam dos próprios apoiadores, chamando-os de ‘bostas’.
Mas o estrago que esses vermes fazem com a linguagem humana tem a mesma dimensão sangrenta do palavreado insultuoso que lhes caracteriza os intestinos - que, no caso deles, são o esôfago, que municia suas respectivas bocas, verdadeiros aparelhos excretores.
Na dimensão simbólica, o bolsonarismo representa o aniquilamento da linguagem. Eles não usam a linguagem humana, usam um outro tipo encadeamento dessignificante: são adeptos do calão intermitente.
François Rabelais, Marquês de Sade, Allen Ginsberg e Plínio Marcos ruborizariam diante da reunião ministerial desses entes boçalizados pelo terror infamiliar que lhes infecta o ânus discursivo.
Os maiores assassinos e genocidas da história também manifestariam incredulidade (e talvez, inveja).
Bolsonaro nos obriga a atualizar as definições de genocida: é um assassino em massa, em série (tutelado por militares decrépitos, tolerado por uma imprensa venal, amansado por chefes de poderes inúteis e covardes), em gênero, em número e em grau. Um genocida não mata apenas seres humanos, mata aquilo que nos torna humanos: a linguagem.
Ao tratar a linguagem de maneira utilitária apenas para saciar suas demandas por poder, dinheiro e fama, os integrantes deste governo neutralizam e inutilizam a função primeira da linguagem humana que é criar sentidos (e saciar nossa demanda cognitiva, alimentando nossos cérebros).
O bolsonarismo é um empecilho não à democracia apenas, mas à própria possibilidade de evolução.
De tanto combater o darwinismo como manifestação do demônio, eles conseguiram a proeza de estabelecer uma vacina à evolução da espécie: se o bolsonarismo perdurar por mais algum tempo, em breve estaremos de volta às árvores, fugindo de predadores e quebrando a cabeça para abrir uma fruta ainda desconhecida - talvez, só produzindo sons semelhantes a palavrões, com muito spray viral e gotículas infectas.
Quando o país perde mais 965 vidas, o verme-presidente sai comemorar com a legião acanhada - sic - de parasitas-apoiadores, fazendo selfies e comendo hot-dogs.
O serviço de demolição da possibilidade linguageira da espécie vai sendo feito, enquanto assistem ‘incrédulos’ (‘incrédulo’ é outra palavra para ‘acovardado’) os múltiplos setores progressistas ou não da sociedade brasileira em extinção. Setores ‘limpos’ e ‘inteligentes’, que se negam a descer ao lodaçal bolsonarista porque têm reputações a zelar.
Como combater esse vermes sem descer ao seu covil putrefato, povoado pelo calão mais abjeto jamais produzido e habitado por pústulas subjetivas infernais como Damares, Salles, Guedes, Weintraubs e Helenos?
A metáfora da hemorroida é tosca, vulgar e covarde, mas a linguagem também tem as suas sutilezas. Ela mostra que estamos diante de um governo afundado no próprio sangue e na própria merda.
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