Eduardo Paes e Marcelo Crivella. (Foto: ABr)
Por Eric Nepomuceno
Sou parte da geração de brasileiros que cresceu, tirou título de eleitor mas não podia votar, nas capitais e grandes cidades, para prefeito. Governador, nem pensar. E a presidência estava reservada aos generais.
Em 1982, quando as eleições estaduais foram autorizadas pela primeira vez em 17 anos e em plena ditadura, eu ainda morava fora do Brasil.
Fiz o que pude, principalmente em contatos internacionais, para ajudar Leonel Brizola, de quem tive a alegria de ser amigo. E só quatro anos depois, em 1986, fiz finalmente minha estreia, votando em Darcy Ribeiro, derrotado por uma campanha sórdida encabeçada por um fulano abjeto que atende pelo nome de Wellington Moreira Franco.
Ao longo desses longos 34 anos em que voto para prefeito, governador, presidente, vereador, deputado estadual, deputado federal, senador, só uma vez votei em quem não acreditava.
Aconteceu em 2018, e meu único e miserável voto em um candidato da direita, o mesmo Eduardo Paes, foi a tentativa inútil de impedir que uma aberração chamada Wilson Witzel chegasse ao governo do estado.
Não confiava nem confio em Eduardo Paes, de novo candidato do direitista DEM, agora à prefeitura do Rio. Mais do que uma enganação, penso que é um enganador.
Quando prefeito mostrou-se exímio esbanjador dos abarrotados cofres dos Jogos Olímpicos. Aliás, se tantas cidades se redimiram do caos e da decadência graças às Olimpíadas – basta mencionar Barcelona –, o Rio transformou-se num dos escassíssimos casos em que aconteceu o contrário: pirâmides de dinheiro foram varridas do mapa, e o que veio foi o abandono, a decadência. Muito pouco do que sobrou deixa de ser grandioso e inútil.
Eduardo Paes perambulou por vários partidos, sempre ao sabor não dos ventos, mas de suas próprias aspirações. Foi do PV, do PSDB, do PFL, do DEM, do MDB, do PTB. Só é fiel, no fundo, a si mesmo e suas ambições.
Pois domingo agora ele terá, de novo, o meu voto.
Tudo indica que será um gesto desnecessário: as pesquisas abrem espaço para que eu vote em branco, anule ou simplesmente fique aqui, confinado em Petrópolis, trabalhando ou tentando trabalhar em sossego.
Devo confessar, porém, que vou pegar o carro, descer a serra e sapecar o número dele na urna.
E a razão é muito simples: quero ajudar a esmagar um crápula, um mercador da fé alheia autonomeado bispo, Marcelo Crivella.
Foi, de longe, o pior, o mais daninho prefeito da história do Rio – e, não custa lembrar, há vários antecedentes. Como ele, porém, nenhum.
Além da alegria indescritível de ajudar a espantar semelhante verme para as profundas do inferno da política, por tabela contribuo para mais uma derrota de alguém que consegue ser ainda muito pior e mais perigoso que ele, Jair Messias, o Ogro que ocupa o palácio presidencial.
Não estarei, pois, votando a favor de Eduardo Paes, mas contra, absolutamente contra Crivella e Bolsonaro. E isso me dá uma certa alegria num ano tão terrivelmente angustiante, sufocante, que trouxe mais dor que qualquer outra coisa.
Claro que eu preferia votar em Belém ou Fortaleza, Recife ou Vitória, Porto Alegre ou São Paulo. Faria isso com a mais absoluta convicção em meus candidatos nessas cidades.
Mas voto no Rio. E é com convicção que voto não no candidato da direita, mas contra um espantalho desonesto em todos os sentidos, um manipulador ambulante apoiado pelo aprendiz de genocida.
Aliás, convicção e alegria. Nunca foi tão gratificante votar contra.
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