sábado, 27 de fevereiro de 2021

O papel do Partido Democrata é distrair com políticas identitárias

         por Michael Hudson [*]

Vrettos: Aguardamos para ver como a retórica da nova administração Biden se traduzirá em políticas reais.

Hudson: Toda a carreira política de Biden foi de direita. Ele é o senador do Delaware, o estado mais pró corporações do país – razão pela qual a maior parte das corporações estado-unidenses são incorporadas ali. Assim, ele representa a banca e a indústria do cartão de crédito. Ele patrocinou a regressiva "reforma" da bancarrota escrita e posta nas suas mãos pelas companhias de cartão de crédito. Como um falcão do orçamento, ele rejeitou a MMT (Modern Monetary Theory) e também o "Medicare para todos" como se isto fosse demasiado caro para que o governo se permitisse – obrigando assim que o sector privado a pagar 18% do PIB dos EUA a monopólios de seguros de saúde.

Não é nada surpreendente que Biden tenha escolhido membros do gabinete entre lobistas corporativos, incluindo o novo secretário da Defesa. E em 9 de Fevereiro ele convidou Jamie Dimon e outros líderes de negócios à Casa Branca e perguntou-lhes o que recomendavam. Estes multimilionários disseram que não precisavam dos US$1400, então porque mais alguém haveria de precisar? Eles simularam que gastar dinheiro poderia causar inflação – no entanto, estamos no meio de uma deflação da dívida e de uma queda do rendimento disponível para a maioria das famílias.

Os preconceitos de Biden são a razão pela qual o Comité Nacional Democrático o empurrou como seu candidato ao invés de Sanders e a razão pela qual o deputado Jim Clyburn tornou felizes os seus apoiantes da indústria farmacêutica ao pressionar Biden para o topo na Carolina do Sul, entregando o voto negro nas grandes primárias daquele estado.

O que me admira é a capacidade de atrair este voto apesar do grau em que Biden patrocionou legislação que prejudica negros e outras minorias: os seus cortes em gastos sociais, suas leis anti-crime atingem principalmente a comunidade negra, suas leis da bancarrota e, naturalmente, sua recusa de cuidados médicos públicos universais àquela parte da população com as mais altas taxas de mortalidade, mais curtas expectativas de vida e piores cuidados médicos.

Ele tentou encobrir esta história nomeando Neera Tanden como chefe do orçamento, afirmando que ela é uma progressista, presumivelmente só porque não é branca. No entanto, ela é uma das principais adversárias do Medicare para todos que foi proposto por Bernie Sanders.

V: Na nossa economia polarizada, os salários têm estagnado desde 1971 – as taxas de propriedade de casas caíram à medida que as execuções hipotecárias, as expulsões e o número de sem-abrigo saltaram dramaticamente durante a pandemia da Covid de 2020-2021.

O grande declínio quanto à propriedade das casas foi o resultado da dupla traição de Obama às suas promessas de campanha, ao salvar os bancos e ao deixar todas as dívidas hipotecárias lixos e outros empréstimos fraudulentos registados na contabilidade. Isto levou à execução de hipotecas e despejos de cerca de 9 milhões de famílias americanas, a maior parte delas hispânicas e negras. As taxas de propriedade imobiliária desceram de 68% para 61% da população (uma queda enorme e rápida de 10%).

A epidemia do Covid está a levar a enormes atrasos de pagamentos – para os arrendatários e para os devedores de hipotecas. Os despejos foram suspensos por moratórias que expiram em Março ou Abril, e às hipotecas não pagas foram acrescentadas datas de vencimento posteriores (com penalidades adequadas o que torna isto remunerador para os bancos).

Assim, a questão é saber se Biden pode superar Obama na redução das taxas de propriedade de casas nos EUA em mais 10% – digamos, para apenas 56% da população.

Vamos ver o que poderia ser feito – hoje e há uma década atrás. Obama e Biden poderiam ter cancelado parcialmente as hipotecas lixo para preços de mercado realistas (e lançarem na prisão os corretores de hipotecas e banqueiros, por fraude). Em vez disso, eles apoiaram os autores da fraude contra os eleitores a quem havia sido prometida "esperança e mudança". A maior parte dos milhões de casas arrestadas foi comprada por proprietários ausentes e transformada em propriedade arrendada. Companhias como a Blackstone foram actores importantes. As famílias despejadas entraram no mercado de arrendamento – e os encargos com a renda dispararam nos EUA. Assim, muito mais do rendimento dos consumidores foi gasto em bens imóveis, finanças e seguros do que em bens e serviços.

V: Isto é mais grave e instável na parte inferior do mercado habitacional onde os inquilinos que perderam empregos acumularam US$11 mil milhões de rendas em atraso – uma medida mais ampla que inclui todos os inquilinos maus pagadores coloca o número em US$53 mil milhões.

Há duas espécies de resultados. A primeira será uma enorme acumulação de dívidas de rendas em atraso e de pagamentos de hipotecas em atraso de hipotecas a serem liquidadas. Para negócios comerciais como os restaurantes, estes pagamentos em atraso são tão grandes que provavelmente optarão por abandonar a negócio ao invés de pagar todos os lucros dos anos seguintes aos seus senhorios.

A menos que estas dívidas sejam parcialmente canceladas, a maior parte da população está demasiado endividada para comprar bens e serviços. Assim, lucros corporativos podem vir só do aumento de preços ou da obtenção de subsídios governamentais.

Um segundo resultado está a ser um aumento de pessoas sem abrigo em muitas cidades. Campos inteiros de desalojados estarão a morar em tendas, talvez nos parques principais – ou nos metros como no passado.

Muitas propriedades serão vendidas – mas os preços da habitação ainda estão em aumento.

V: Quais são alguns dos efeitos raciais específicos desta crise de habitação e de emprego, qual tem sido a resposta da administração Biddn até agora e como é que isto se relaciona com a sua própria tarefa quanto a medidas de reparação racial?

As baixas taxas de propriedade de casas entre os negros reflectem uma história viciosa de red-lining [1] . A limitação das áreas onde os não brancos podem comprar foi acompanhada pela cobrança de taxas de juro muito mais elevadas do que as que os compradores brancos obtêm.

A habitação é o critério básico para aderir à classe média. E durante um século os negros foram excluídos, não só pelos bancos mas também por programas de seguro hipotecário do governo que datam das reformas de FDR na década de 1930. É isto que torna "mais arriscados" os compradores negros e portanto onerados por taxas de juro mais elevadas.

Eu cresci em Hyde Park, em Chicago. A Universidade de Chicago e suas companhias de administração de propriedade estavam entre os piores abusadores. Para eles, um "mercado livre" significava um mercado livre de negros. Mas no fim da década de 1950 eles viram que podiam fazer "block busting" [2] , ou seja, vender uma casa num bairro branco a um comprador negro. Isto lançava o pânico entre os proprietários vizinhos, que vendiam as suas casas. Os compradores eram, em grande parte, os especuladores, que as transferiam para compradores negros, a preços mais altos.

Isso aconteceu no meu quarteirão, na Rua 48 com Dorchester, um bloco em que Obama comprou a sua casa. Depois de algumas casas terem mudado de mãos, o presidente da municipalidade, Daley, condenou o quarteirão. Minha casa foi destruída, tal como outras, e a terra não recebe beneficiações (gentrified).

Para por a questão em perspectiva, pense na situação em 1945. Foi então que arrancou o grande aumento da riqueza da classe média – o património líquido da classe média de hoje. Era limitado aos brancos, porque eram as únicas pessoas que se qualificavam para o grande aumento do património líquido criado pelo boom dos preços das casas dos 75 anos anteriores.

A norma era que os bancos limitavam as suas hipotecas a um nível que absorvesse até 25% do salário de um comprador. O comprador obteria uma hipoteca auto-amortizante, a ser liquidada em 30 anos. Este limite de alavancagem da dívida mantinha a habitação acessível.

O senhor e eu já falámos anteriormente sobre a questão das reparações dos negros. É muito difícil pagar reparações pela escravatura, porque as famílias escravizadas já morreram há muito tempo. As reparações têm de ser pagas aos vivos – e afinal, são os negros vivos que permanecem prejudicados.

Há uma forma de tornar a população negra economicamente tão resiliente quanto tem sido a população branca. Esta é dar-lhe o mesmo acordo que criou a maior parte da riqueza da classe média branca. O governo deveria comprar ou construir casas – casas privadas, tal como os bairros brancos, e não habitações públicas. Deveriam oferecer aos compradores o mesmo negócio que foi dado em 1945. Qualquer família negra receberia uma casa, com uma hipoteca de 25% do rendimento do chefe de família, a ser amortizada ao longo de 30 anos.

Suponha que o comprador negro ganha o salário mínimo, ou cerca de US$25.000 por ano. Então 25% disto seriam de US$6.250 – apenas cerca de U$500 por mês. Ao longo de 30 anos, o comprador pagaria US$187.500 –grande parte disto em juros, garantidos pela FHA [Federal Housing Administration].

Como questão política prática, é claro, um tal ganho inesperado teria de ser oferecido uniformemente a todos os americanos. Os hispânicos e os brancos pobres qualificar-se-iam.

Este é o único meio de criar resiliência económica a uma classe que foi excluída com base em critérios raciais e que permanece excluída até hoje.

Sem um subsídio especial deste tipo, não se pode falar seriamente de igualdade. Os compradores minoritários foram as grandes vítimas da corrida às hipotecas lixo e dos despejos de Obama.

V: Num artigo recente do N.Y. Times, David Leonhardt levanta a questão de porque é que a economia dos EUA se saiu muito melhor sob os presidentes democratas do que sob os republicanos? Na verdade, ele argumenta que a diferença é "surpreendentemente grande" quando se mede a taxa de crescimento anual, a taxa de crescimento do Produto Interno Bruto, empregos, rendimentos, produtividade – mesmo os preços das acções.

Bem, o New York Times tem sido o líder em "fake news", sobretudo pelo seu apoio aos interesses imobiliários e financeiros, e do Partido Democrata.

O foco nas taxas de crescimento, medidas pelo PIB, é um travesti da realidade. Desde 2008, o PIB para 95% dos americanos realmente diminuiu. Ainda estamos na Depressão Obama – era esse o estado de coisas quando a crise da covid-19 nos atingiu. Pavlina Tcherneva do Instituto Levy do Bard College produziu as estatísticas.

Quando os devedores ficam para trás e têm de pagar taxas de juros de penalização aos bancos e empresas de cartões de crédito, isto é contabilizado como um "aumento do PIB", classificado como "serviços financeiros". Como se os bancos estivessem a prestar um serviço cobrando taxas mais elevadas a devedores indigentes que não conseguem manter-se a par dos seus custos de vida.

Cerca de 7% do PIB é um hipotético "valor de arrendamento de casa própria" – o que os proprietários teriam de pagar a si próprios se arrendassem as suas casas a si próprios como inquilinos. Como as rendas têm aumentado (em grande parte por proprietários absenteístas que compraram casas que foram arrestadas), isto aumenta o PIB. Deixa de fora a minoria de proprietários, cuja taxa de propriedade da casa é muito mais baixa do que aquela dos brancos.

O que The New York Times e outros que olham para o PIB deixam de fora é quão desigual se tornou a distribuição da riqueza e do rendimento desde 2008, na verdade desde a década de 1980. Economistas estão agora a falar numa recuperação em forma de K : ascensão para os proprietários de acções e de títulos (cerca de Um Porcento da população possui algo como 80 por cento destes títulos) e de imobiliário. Mas os que ganham salários estão a ser esmagados. A "recuperação" para eles não é uma recuperação. Trata-se de um boom para os ricos, para a classe rentista, principalmente no sector da Finança, Seguros e Imobiliário (FIRE).

Aquele sector é a principal clientela do New York Times. E a maior parte da classe doadora do Partido Democrático vem do sector FIRE. Apesar disto, o êxito dos democratas na política identitária criou uma situação política na qual apenas eles podem aplicar políticas anti-trabalho e anti-negros, porque os seus políticos são capazes de obter votos do trabalho e dos negros.

Não vejo como possa haver progresso real a menos que o Partido Democrata seja substituído, pelo menos com liderança do DNC que transformou a sua política em demagogia. A sua política de identidade baseia-se em todas as identidades, excepto no facto de ser um assalariado.

V: Central para Biden e a visão neoliberal da ordem mundial da América é uma filosofia económica de privatização e financeirização. Como pensa que isto se vai processar na política externa e económica da administração Biden de gastos militares e venda de armas e utilização de ameaças e força militar, se necessário, para impor o domínio internacional dos EUA e a hegemonia tecnológica?

Biden passou a sua carreira a defender o sector financeiro e a sua política principal é privatizar infraestruturas básicas. Isto significa impedir os governos de fornecerem serviços básicos com base no custo ou subsidiados – educação, cuidados de saúde, estradas e comunicações. No entanto, foi assim que a América se tornou a principal economia industrial a partir do final do século XIX em diante. A financeirização e privatização deixaram-na numa economia de alto custo, não competitiva nos mercados mundiais. É por isso que a sua economia é desindustrializada.

As economias privatizadas e financiarizadas são de alto custo. A América gasta 18% do seu PIB em cuidados de saúde – muito mais do que qualquer outro país. E depois há o orçamento militar. Há um ano atrás, em Janeiro de 2020, Biden escreveu um artigo na [revista] Foreign Affairs , prometendo que a sua próxima "agenda de política externa colocará os Estados Unidos na cabeceira da mesa".

Então, o que é que ele vai liderar? Ele já disse que não vai negociar com o Irão, mas sim manter as políticas da administração Trump em vigor. Ele nomeou falcões neocon para posições de liderança, especialmente Victoria Nuland e outros anti-russos. Biden parece querer usar sanções para isolar países que vê como rivais ou inimigos – os quais acabam por ser uma parte crescente da população mundial, desde a Rússia e China até à Venezuela e Irão.

A realidade é que os Estados Unidos estão a isolar-se a si próprios! Estão a tentar impedir a Europa de importar gás russo e a insistir nos monopólios de TI dos EUA dirigidos contra a China. E Biden tem tão pouco respeito pelos tratados quanto tinha Trump – é por isso que ele mantém a retirada de Trump do acordo com o Irão.

Mesmo que Biden faça um novo tratado, o Congresso teria de aprová-lo. Mas o Congresso tem permanecido firme em que nenhum país estrangeiro pode estabelecer uma política para os Estados Unidos. Por conseguinte, insiste em não se submeter a qualquer norma internacional de direito que não tenha sido elaborada pelos seus próprios doadores políticos.

A iminente fractura global está a tornar-se um combate contra os princípios mais básicos organizativos das economias ao longo da história. Todas as economias com êxito têm sido mistas. E para promover a sobrevivência e prosperidade, é necessário subordinar a procura de ganhos privados a objectivos públicos que beneficiem os 99% e não apenas o 1%.

Esta não é a política de Biden nem qualquer outra política dos democratas ou republicanos.

V: Vê um conflito básico entre as economias rentistas financiarizadas e as democrático-socialistas que procuram promover objectivos públicos que beneficiem os 99 por cento, não apenas um por cento?

As economias privatizadas são economias de alto custo. Isto deve-se principalmente ao facto de as infra-estruturas básicas serem um monopólio natural: estradas e outros transportes, comunicações, correios. Quando são privatizadas, são geridas com fins lucrativos – que consistem principalmente de renda de monopólio, para além dos lucros normais, mais ganhos de capital, uma vez que estes direitos rentistas são capitalizados em acções e títulos a preços crescentes.

A política do capitalismo industrial americano no século XIX era a mesma do socialismo: minimizar o custo de vida e de fazer negócio. A privatização é amplamente responsável pela desindustrialização da economia dos EUA. Enquanto deixa 95 ou 99 por cento da população estagnar, ela tem sido uma grande prosperidade para os 5 a 1 por cento.

V: Poderia estender o que quer dizer com esse conflito e para onde vê a administração Biden a encaminhar-se?

O conflito é frequentemente colocado pela justaposição da Wall Street com a Main Street – ou seja, do sector FIRE com a economia dos bens e serviços industriais. O objectivo da Wall Street é aumentar a riqueza. Isto é feito em grande medida por ganhos de capital, não pela contratação de trabalhadores para produzir mais bens e serviços – tal investimento é feito principalmente no estrangeiro pelas firmas multinacionais de hoje.

V: Como é que o pacote de ajuda de estímulo de US$1,9 milhão de milhões de dólares se enquadra neste debate?

Penso que não se deve chamar-lhe "estímulo". É um alívio de desastres. A ideia é recuperar o atraso. O objectivo deveria ser pelo menos colocar a economia onde estava antes ?– ou seja, ainda na Depressão Obama.

O que FOI um "estímulo" foram os US$6 a 8 milhões de milhões criados pela Reserva Federal para comprar acções e títulos, incluindo títulos lixo, a fim de alimentar o boom da Wall Street. Esta é a essência da recuperação em forma de K. Aumento de preços para a riqueza, queda de salários e do rendimento líquido disponível para o trabalho vivo, após dedução dos pagamentos ao sector FIRE que as famílias têm de pagar antes de tudo – rendas e dívidas, contribuições para o seguro médico, retenção na fonte do FICA [3] (o imposto mais regressivo) e pagamentos mensais a monopólios privatizados de serviços públicos.

Os US$1,9 milhões de milhões em cheques de US$1.400 ou $2.000 deveriam ser enviados mensalmente, não a tempo parcial. A Europa paga à sua força de trabalho despedida 80% dos seus salários normais, para que não soçobrem nos confinamentos do Covid.

V: Há um profundo desacordo sobre como lidar com o aumento das bancarrotas aqui e na Europa.

O próprio Biden é largamente responsável pelo problema das bancarrotas. Foi ele o político que conduziu a reforma regressiva da bancarrota através do Congresso, tornando mais difícil para as famílias de baixos rendimentos liquidar as suas dívidas – e tornando impossível liquidar a dívida estudantil através da bancarrota.

Neste sentido, ele "deve" à economia de compensar o seu frete oportunista de para os seus apoiantes de campanha na Delaware gerida por corporações.

Será que ele o fará? Será que pode fazer? Ele é um falcão do défice e nomeou falcões do défice como Neera Tanden para o seu gabinete. Ele também prometeu que "nada vai mudar". Foi assim que a administração Obama foi gerida (correndo demagogicamente sob um slogan de "esperança e mudança"). Então, Biden será Trump 2.0 ou Obama 3.0? Realmente não importa muito. Porque tanto Obama como Biden eram basicamente republicanos que concorriam pelos eleitores com um perfil étnico diferente e que [a seguir] os entregavam aos seus contribuidores de campanha.

V: Os pedidos de falência nos Estados Unidos subiram no terceiro trimestre para o mais alto nível desde a crise financeira de 2010. Na semana passada, 900 mil americanos registaram novas declarações de desemprego.

As Shadow Statistics de John Williams colocam a taxa de desemprego real em 20 por cento. Muitas pessoas abandonaram o mercado de trabalho, uma vez que não há empregos disponíveis, pelo menos não há empregos para elas.

A moratória das rendas permitiu que muitos trabalhadores desempregados ou de baixos rendimentos permanecessem nas suas casas. Se forem despejados e ficarem sem abrigo, como poderão trabalhar? A verdadeira crise está destinada a cair em Março e Abril. Pequenas empresas, tais como restaurantes e lojas, desistirão e encerrarão.

V: A Europa tem sido mais aberta a estender programas nacionais a fim de manter à tona negócios em perturbação, mas também há um debate intenso sobre se uma estratégia de proteger negócios e trabalhadores "a todo custo" cimentará uma recuperação ou se deixará as economias menos competitivas e mais dependentes de ajudas do governo quando a pandemia refluir.

A Europa e outros países estão a tentar evitar o desastre. A política dos EUA é encarar o desastre como uma oportunidade. É mais fácil fazer fortunas num desastre do que em tempos normais, pelo menos se se for rico, tiver liquidez e acesso a crédito bancário para comprar negócios em dificuldades e propriedades.

O objectivo da Europa – e de economia ao longo dos tempos – tem sido proporcionar resiliência. Isso é o que está a faltar aqui. A doutrina da "responsabilidade individual" é um eufemismo para deixar as classes financeiras tomarem o controle do planeamento económico e social. E o seu objectivo é o seu próprio auto-enriquecimento, não o das economias como um todo.

O que é que pode ser "recuperado"? Para a maior parte dos políticos, significa que os credores – os Um Porcento de topo da economia – possam "recuperar" o dinheiro que lhes é devido pelos 99 por cento endividados.

No sistema político parlamentar europeu, podem surgir terceiros para promover uma política social de resiliência económica. Isso não é possível nos Estados Unidos, devido ao duopólio bipartidário. Os duopólios resolvem-se em monopólios, que é o que realmente temos hoje: pró-Wall Street e anti-laboral, pró-credor e anti-devedor.

22/Fevereiro/2021NT

[1] Redlining: Nos Estados Unidos é a prática de negar servir, directamente ou através do aumento selectivo de preços, residentes de certas áreas com base na composição racial ou étnica daquelas áreas. Enquanto alguns dos exemplos mais famosos de redlining consideram a negação de serviços financeiros, tais como bancos ou seguros, outros serviços como cuidados de saúde ou mesmo supermercados, podem ser negados aos residentes para executarem o redlining. A palavra "redlining" foi cunhada no final dos anos 60 por John McKnight, um sociólogo e activista comunitário. Refere-se à prática de marcar uma linha vermelha num mapa para delimitar a área onde os bancos não investiriam. Posteriormente a palavra estendeu-se à discriminação contra um determinado grupo particular de pessoas (geralmente por raça ou sexo), independentemente da geografia.
[2] Blockbusting era um processo utilizado nos EUA por agentes imobiliários e construtores para convencerem proprietários brancos a venderem a sua casa a baixo preço por receio de que minorias raciais se mudassem em breve para a vizinhança. Os agentes então vendiam as casas a preços muito mais altos a famílias negras desesperadas para escapar de guetos apinhados. O blockbusting tornou-se possível após o desmantelamento legislativo e judicial após a II Guerra Mundial de práticas de segregação imobiliária legalmente protegidas.
[3] FICA (Federal Insurance Contributions Act): Lei federal americana que obriga empregadores a reterem os salários de funcionários para o pagamento da Previdência Social e Seguros de Saúde.

[*] Economista. Muitas das suas obras encontram-se aqui .

O original encontra-se em michael-hudson.com/... . Tradução de JF.

Este artigo encontra-se em https://resistir.info/ .

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