Fontes: Rebelião
O número de pobres no mundo aumenta a cada ano devido a vários fatores, como violentas mudanças climáticas que produzem secas, furacões, terremotos, inundações; o aparecimento, desde fevereiro de 2019, da pandemia covid-19 e, acima de tudo, a indolência dos regimes capitalistas neoliberais cujos governantes pensam em aumentar sua riqueza em detrimento da maioria.
Essa combinação de fatores fez com que o mundo já tivesse 840 milhões de famintos, acrescentando outros 130 milhões àquela lista desprezível em 2020.
Um relatório do Estado da Segurança Alimentar e Nutrição Mundial das Nações Unidas explica que cerca de 132 milhões de pessoas sofreram uma situação de “fome crônica” durante 2020 e se somaram aos 708 milhões que viviam nessas circunstâncias em 2019.
Especialistas de organismos internacionais indicam que a Ásia é o continente com o maior número de famintos com 382 milhões, seguida da África com 250 milhões e da América Latina e Caribe com 50 milhões. O número total é completado por aqueles nessa categoria na Europa e na América do Norte.
Como complemento direto a essa lamentável situação, foi demonstrado que os regimes capitalistas neoliberais não foram capazes de proteger seus habitantes dos efeitos depreciativos produzidos pela pandemia do coronavírus.
Os elevados custos dos cuidados médicos privados utilizados nos tratamentos da COVID não podem ser suportados por muitos habitantes que se vêem obrigados a se confinarem às suas casas e procurarem remédios caseiros ou medicamentos mais baratos que, na maioria dos casos, não são eficazes e a morte trágica os atinge.
Para agravar a situação de milhões de pessoas que sobrevivem neste mundo cada vez mais desigual, outra má notícia está sobre eles.
Segundo a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO), os preços mundiais dos alimentos voltaram a subir em abril, durante 11 meses consecutivos.
A entidade divulgou que o índice mundial de preços dos alimentos ficou em média US $ 120,9 em abril, 2,2% a mais que em março e 30,8% no comparativo anual, atingindo o maior nível desde 2014
Esse índice é uma medida da variação mensal dos custos da cesta básica e consiste na média de cinco índices de preços da cesta básica em relação às exportações de cada um desses produtos.
A FAO informou que em abril, o açúcar teve alta de 3,9% e chegou a mais de 60% em relação a 2020 devido ao lento avanço da safra no Brasil e aos prejuízos causados pelas geadas na França.
No caso dos óleos vegetais, cresceu 1,8% em abril devido ao aumento dos preços mundiais do óleo de palma, por medo de que a produção ficasse mais lenta do que o esperado. Os valores dos óleos de soja e colza aumentaram ainda mais, enquanto os de bovinos, ovinos e suínos subiram 1,7% e os de aves não sofreram alteração.
Os cereais subiram 1,2% e 26% desde 2019. O milho subiu 5,7% e 66,7% em relação ao ano passado, resultado de plantios menores que o esperado nos Estados Unidos, Argentina e Brasil.
Em meio a esse cenário, a insegurança alimentar aguda cresceu em 2020 e 2021, em decorrência de conflitos, crise econômica exacerbada pela pandemia e pelo assalto de fenômenos naturais.
A rede global contra a crise alimentar vislumbra um 2021 muito difícil, pois no ano passado 155 milhões de pessoas em apenas 55 países estiveram em crise, o que representou cerca de 20 milhões a mais em relação ao último relatório. Da mesma forma, 28 milhões em 38 países estavam em situação de emergência alimentar e entre os mais afetados estavam a República Democrática do Congo, Iêmen e Afeganistão.
Dominique Burgeon, diretor de emergência e resiliência da FAO, disse que para evitar que uma crise generalizada eclodisse em 2021, a ação humanitária é urgentemente necessária para salvar vidas e meios de subsistência em grande escala.
Antonio Guterrez, Secretário-Geral da ONU, disse que este relatório é uma leitura decepcionante pelo aumento de pessoas em condições de insegurança alimentar aguda que precisam de assistência nutricional rápida. Tudo deve ser feito, disse ele, para parar esse ciclo vicioso e abordar a eliminação da fome como base para a estabilidade e a paz, enquanto transforma os sistemas alimentares para torná-los mais inclusivos, resilientes e sustentáveis.
Outro fenômeno que atinge as nações são os altos níveis de endividamento que adquiriram ao longo de décadas e que foram reforçados pela pandemia.
Na América Latina e no Caribe, informou a CEPAL, essa situação também colocou em crise a possível recuperação econômico-social.
Todos os países latino-americanos sofreram uma deterioração em sua situação fiscal com o aumento de sua dívida de 69,8% para 79,3% do PIB entre 2019 e 2020, o que a torna a região mais endividada do mundo em desenvolvimento e com maior serviço da dívida externa em relação às exportações de bens e serviços.
Essa é a triste história dos pobres neste mundo neoliberal tão desigual e que a cada dia, com mais força, os povos clamam pela adoção de uma nova e mais justa ordem internacional.
Hedelberto López Blanch, jornalista, escritor e pesquisador cubano.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
12