terça-feira, 29 de junho de 2021

Assange ainda está na prisão


Julian Assange permanece numa prisão de segurança máxima, apesar de nunca ter sido condenado por nada excepto uma quebra de fiança há muito tempo atrás e apesar de o pedido de extradição do Governo dos EUA ter sido recusado.

Já fazem quase seis meses desde que estive no tribunal a ouvir a decisão de rejeição da extradição de Julian e foi na mesma semana em que Baraitser ordenou que este fosse mantido na prisão enquanto aguardava um recurso dos EUA. Desde então, os EUA apresentaram o seu recurso, que é de certa forma desmedido nos seus esforços para desacreditar uma série de testemunhos de eminentes peritos na audiência. A defesa apresentou a sua resposta, incluindo o aviso prévio em que Baraitser descobriu para os EUA que a defesa pretende contrapor-se ao recurso.

Desde então passaram-se mais de três meses – e nada. O Tribunal Superior não só não estabeleceu uma data para o recurso dos EUA como nem mesmo indicou se o recurso estado-unidense cumpre as exigências para ser ouvido – há quem pense que o recurso carece de pontos de direito argumentáveis e pode ser simplesmente rejeitado. Mas a abordagem aparentemente descansada do Tribunal Superior para analisar o assunto é totalmente inadequada uma vez que, nesse ínterim, um homem inocente está a sofrer a forma mais extrema de encarceramento existente no Reino Unido.

O status de Assange é que a sua extradição foi rejeitada. Ele não deve de todo estar na prisão, muito menos em tão penosas condições.

Em contraste, estou sentado no meu gabinete apesar de ter sido sentenciado a oito meses de prisão. Estou em liberdade enquanto o Tribunal Superior decide se ouve o meu recurso. Meus advogados acreditam, a partir dos seus contactos com os administradores do tribunal, que é perfeitamente possível que o Tribunal Superior decidirá sobre se considera o meu recurso, no prazo de quatro semanas de suspensão da minha sentença de prisão concedida por Lady Dorrian . Isto porque, do contrário, posso ser aprisionado.

Por que é que o Supremo Tribunal pode potencialmente decidir se deve ouvir o meu recurso tão rapidamente devido à ameaça de prisão, quando o Tribunal Superior está a demorar seis vezes ou mais para decidir se deve ouvir o recurso dos EUA, quando um homem inocente já está preso? Não faz sentido.

Não se deve à complexidade: embora o caso de Julian seja mais importante, quaisquer pontos de direito em questão no recurso dos EUA são notavelmente menos complexos do que no meu próprio recurso. Para mim, a única explicação possível é a determinação do Estado em manter Julian preso a todo o custo.

Agora é evidente que Biden pretende avançar com a acusação de Julian, um editor e jornalista, ao abrigo da Lei de Espionagem. Isto apesar da oposição, por mais tardia que seja, de todas as grandes organizações noticiosas e de todas as principais ONG orientadas para as liberdades civis. A recente viagem europeia de Biden foi coreografada para estabelecer as suas plenas credenciais como um combatente da Guerra Fria e para assegurar uma ortodoxia ocidental de hostilidade para com a China. Biden está a revelar-se, como previsto, um perfeito representante do estado de segurança e militar.

Depois de ter aumentado o salário mínimo para 15 dólares e de ter apresentado propostas de despesas significativas para o "New Deal", Biden pode dar toda a atenção ao sério trabalho neoliberal de melhorar a sorte dos ultra-ricos.

Em Outubro de 2020, publiquei um post especificamente acerca da supressão maciça na Internet de informação sobre os negócios corruptos de Joe e Hunter Biden, particularmente na Ucrânia. Em 10 de Fevereiro de 2021 publiquei um artigo sobre o despedimento de Nathan Robinson do Guardian, o qual incluía a sua declaração de que o Guardian havia tornado ineficaz a sua coluna sobre a corrupção de Hunter Biden.

Russell Brand causou um alvoroço na semana passada quando falou acerca da supressão de informação sobre a corrupção de Biden, precisamente segundo as linhas do meu artigo de Outubro passado. Naturalmente, ele foi imediatamente "afastado", tal como fora Glenn Greenwald.

Há um fenómeno fascinante nas democracias ocidentais de falsos partidos políticos da esquerda liberal a actuarem como facilitadores da elite global multimilionária. Biden, Starmer, Sturgeon, Macron, Trudeau, Sanchez, todos pretendem ser alguma espécie de alternativa ao neoliberalismo desenfreado enquanto ao mesmo tempo actuam como os seus mais eficazes possibilitadores. Todos são advogados muito motivados não só do neoliberalismo como também do militarismo e do complexo de segurança e postura de guerra-fria da NATO, mais parceiros na constante redução de liberdades civis. Nenhum deles tem a mínima intenção de colmatar o fosso entre o cidadão comum e a super-riqueza.

A democracia da falsa escolha parece ser um título de trabalho decente para o estado actual da sociedade ocidental.

21/Junho/2021Ver também:


[*] Ex-embaixador britânico no Uzbequistão.


Este artigo encontra-se em https://resistir.info/ .

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