O presidente da Repblica, Jair Bolsonaro, acompanhado do ministro da Economia, Paulo Guedes (Foto: Alan Santos/PR)
No Brasil de Bolsonaro e Guedes está tudo em alta: o desemprego, as taxas de juro, a inadimplência, a inflação, o gás... Em baixa, está Bolsonaro
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Paulo Guedes, o antigo Posto Ipiranga, já deve ter usado muito o chavão "Is the economy your full". Como se agarra ao cargo, nunca deve ter traduzido para o chefe: É a economia seu tolo. A expressão é muito usada em ano de eleição, quando se quer justificar uma derrota que se avizinha. Quase sempre associada ao governo de plantão, que não soube dar respostas adequadas para a economia do país.
No Brasil de Bolsonaro e Guedes está tudo em alta: o desemprego, as taxas de juro, a inadimplência, a inflação, o gás de cozinha, a energia elétrica, o diesel, a gasolina, o dólar e o descontrole da gestão. Em baixa, está Bolsonaro. Seguido pelo salário mínimo, às aposentadorias e os precatórios a receber. Como se pode ver um quadro desanimador, que dificilmente irá se reverter nos poucos meses que restam. (*)
Uma recente publicação da OCDE, do dia 2, com 30 países, mostra que as condições econômicas do Brasil são as piores possíveis. Quando se relaciona a alta dos juros com a inflação, só estamos pior que a Argentina e a Turquia. Como não sou do meio, busco na opinião dos outros uma base para sustentar meus comentários. Foi através dessa necessidade, que li com atenção a matéria sobre gasto público e desigualdade, de Eduardo Cucolo. (**)
O artigo trata de como renomados economistas dos EUA, percebem a crise do capitalismo e buscam respostas para a situação americana. Segundo eles, nas últimas três décadas, de forma lenta e gradual, vem se alterando o conceito de austeridade fiscal. É um processo em curso que nem todos percebem. O Prêmio Nobel de Economia/2021, já comentado aqui no blog, foi um claro sinal nessa direção que surpreendeu o mundo. Uma verdadeira ruptura com o conservadorismo econômico vigente. Uma nova abordagem sobre políticas governamentais, necessárias para garantir bem-estar e crescimento, combater monopólios e amenizar o impacto de mudanças climáticas e problemas sociais, fazem parte das conclusões do estudo. Trato isso no meu próximo comentário. (***)
(*) O vento e o tempo não estão a favor de Bolsonaro. Se as intenções de voto ficarem abaixo de 20% ele abandona a reeleição e vai em busca de um mandato que o proteja. Já ouvi gente falando que o plano B seria concorrer ao Senado por Santa Catarina. Xô atraso.
(**) Sem ser economista preciso mais do que nunca, ler e ouvir os outros. Cresce o número dos que me acompanham nas redes sociais e junto vem o cuidado com o que escrevo. Na primeira semana do ano, por exemplo, fui informado pelo Linkedln que o meu perfil recebeu 730 visualizações.
(***) O estudo que resultou no documento "Consenso entre os economistas/2020", ouviu 1436 membros da Associação Americana de Economia feito entre dezembro de 2020 e janeiro de 2021.
PS - O Brasil tem suas peculiaridades. O nosso convívio com a inflação alta nos ensinou a buscar proteção para o dinheiro. Foi assim por muitos anos, com a Caderneta de Poupança fazendo esse papel. Durante o governo Collor/Zélia o confisco criminoso rompeu com a relação de confiança que havia. Em 2021, segundo dados recentes do Banco Central, a poupança perdeu R$ 35,5 bi. O primeiro resultado negativo em 5 anos. Não me parece um caso de desconfiança, como o ocorrido com Collor, mas da necessidade das pessoas em função do empobrecimento que vivenciámos.
Como era de prever, Bolsonaro não sabe o que fazer (parte II)
No meu tempo de deputado federal poucas lembranças restaram de Bolsonaro. E das que ficaram, são as piores possíveis. Uma pessoa despreparada, truculenta e sem noção. Por um conjunto de fatores já comentados aqui no blog, a sua relação com o cargo de presidente do Brasil só confirmou a expectativa que tinha. Faltam poucos meses para a próxima eleição e nada vai mudar. Segundo Vinícius Torres Freire, a brutalidade, exibição de vergonhas e artes do espectro fascista fazem parte do seu projeto eleitoral. (*)
Quem acompanha o blog já deve ter percebido que não escrevo para petistas. O foco é outro, mostrar os desencontros desse governo e o atraso que ele representa. Atraso no sentido amplo da palavra, que nos dá o direito de afirmar que Bolsonaro está isolado e não sabe o que fazer. Como ele próprio admite, desconhece a economia e suas consequências. Não consegue definir prioridades a ponto de ir para um parque de diversões, se entupir de camarão, e não ir à Bahia e nem a Minas para ver o estrago das fortes chuvas.
Sua rejeição aumenta a cada mês, estima-se que já perdeu mais de 35 milhões de votos. São votos que não voltam mais, como diria um economista americano "is the economy your full". A novidade que os economistas de lá trazem é de que o gasto público não é um problema, mas uma forma de mitigar os problemas sociais e ambientais. Claro que no Brasil do Bolsonaro, controlado pelo Centrão, não existe essa possibilidade. O Orçamento da União, literalmente, virou um banquete de interesses. (**)
Para os novos pensadores da economia moderna, essa discussão e suas conclusões fazem parte do artigo "Consenso entre economistas 2020", da Associação Americana de Economistas. O trabalho iniciado na década de 70, se tornou uma prática feita a cada década. Entre os entrevistados, 67% se declararam acadêmicos, 13% na área de negócios, 12% fazem parte de órgãos públicos e os demais atuam em outras áreas.
O nível de consenso em torno de cada tema é calculado por vários critérios técnicos estabelecidos pelos pesquisadores, que perceberam uma significativa mudança de rumo nos últimos 50 anos. Entre eles a questão da imigração nos EUA, como positiva, a mudança climática como risco econômico para o país e que lidar com os preconceitos em indivíduos e instituições pode melhorar o bem estar geral. Também há forte consenso de que o poder econômico corporativo se tornou muito concentrado e que se torna necessário o Estado se atentar para isso.
Aqui, no atual governo, a academia não consegue respirar, inovação e conhecimento não são prioridades. A comunicação do presidente é para confundir a opinião pública, porque sabe que o conhecimento liberta. Foi assim com a vacinação, com a proteção da Amazônia, com a crise hídrica, com a privatização da Eletrobras, com a cultura e em relação ao trabalho voluntário que organizações independentes, não governamentais, fazem pelo país afora. O futuro do Brasil nunca esteve tão longe de um governo como agora. XÔ ATRASO!
(*) Para Vinícius, o que sobrou para Bolsonaro tentar um segundo mandato são suas blasfêmias e ameaças. Sua última indagação: "O que mais lhe resta além da fuga?" (Torres Freire além de jornalista é mestre em economia pública pela Universidade de Harvard nos EUA).
(**) Nos últimos três anos a peça orçamentária virou uma ficção. Sobrou muito pouco para o Executivo implementar suas políticas públicas, se é que tem. O Centrão ficou com a chave do cofre. As Emendas do Relator, o Fundo Partidário e o Fundo Eleitoral, engordaram substancialmente para evitar que prospere dentro do Congresso a ideia do impeachment. E o país que se dane.
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