terça-feira, 25 de janeiro de 2022

Os Estados da NATO cometem um suicídio energético?


O absurdo da política de "descarbonização" imposta pela UE

F. William Engdahl [*]

Há uma grande contradição na postura militar cada vez mais agressiva dos EUA e da NATO em relação à Rússia e à China, quando comparada com as políticas económicas nacionais da Agenda Verde, claramente suicidas, dos EUA bem como dos Estados da UE na NATO. Uma surpreendente transformação das economias industriais mais avançadas do mundo está em curso e ganhando força. O coração desta transformação é a energia e a exigência absurda de uma energia “zero carbono” até 2050 ou antes. Eliminar o carbono da produção de energia não é possível neste momento, ou talvez nunca. Mas a pressão para isso significará destruir as economias mais produtivas do mundo. Sem uma base energética viável, os países da NATO tornam-se uma piada militar. Não podemos falar de energia “renovável” para o solar, o eólico e de armazenamento em baterias. Devemos falar de Energia Não Confiável. É um dos delírios científicos mais colossais da história.

Em 31 de dezembro, o novo governo de coligação alemão fechou permanentemente três das seis centrais nucleares restantes. Fizeram-no numa altura em que as reservas de gás natural estavam extremamente baixas, entrando o inverno rigoroso, quando qualquer frente fria severa poderia levar a apagões do sistema elétrico. Devido à recusa alemã em permitir a importação de gás russo através do segundo gasoduto, Nord Stream 2, a Alemanha enfrenta um aumento de 500% no preço à vista da eletricidade em comparação com janeiro de 2021.

Uma crise de energia pré-programada na UE

Em 2011, quando a chanceler Merkel declarou o fim antecipado da energia nuclear, a sua infame Energiewende, para eliminar a energia nuclear e ir para fontes renováveis, 17 centrais nucleares forneciam de forma confiável 25% de toda a energia elétrica do país. Agora, as três centrais restantes devem fechar até ao final de 2022. Entretanto, a agenda da Energia Verde de 2016 do governo, prevê fechar 15,8 GW de geração de carvão a partir de janeiro de 2022. Para compensar o facto de que as energias solar e eólica, apesar da propaganda, não preenchem a lacuna, a rede elétrica da Alemanha deve importar significativas quantidades de eletricidade de vizinhos da UE como a França e a República Checa, ironicamente, em grande parte das suas centrais nucleares. A Alemanha hoje tem os maiores custos de eletricidade de qualquer nação industrializada em resultado da Energiewende.

Existe agora um problema com o fornecimento de eletricidade nuclear da França. Em dezembro, a EDF, a empresa estatal francesa, anunciou que um total de quatro reatores nucleares fechariam para inspeção e reparações após a descoberta de danos por corrosão. O presidente Macron, que enfrenta as eleições de abril, está tentando exibir-se como o campeão do nuclear na UE, opondo-se à forte posição antinuclear da Alemanha. Mas a ligação ao nuclear é vulnerável e é improvável que a França faça qualquer novo investimento importante em energia nuclear apesar das recentes declarações, havendo planos para desligar doze reatores nos próximos anos, juntamente com centrais a carvão, deixando a França e a Alemanha vulneráveis a futura escassez de energia. O programa "França 2030" de Macron prevê uns lamentáveis 1,2 mil milhões de dólares de investimento em tecnologia nuclear para pequenas centrais nucleares.

Mas a questão nuclear não é a única mosca na sopa energética da UE. Cada aspeto do atual plano de energia da UE é projetado para destruir uma economia industrial moderna e os que generosamente financiam think tanks verdes como o Instituto Potsdam na Alemanha sabem disso. Trazer a energia eólica e solar, as duas únicas opções que estão a ser seriamente implementadas, para substituir carvão, gás e energia nuclear, é simplesmente impossível.

Os moinhos de vento e a loucura das multidões

Para a Alemanha, um país com sol abaixo do ideal, o vento é a principal alternativa. Porém, como o inverno de 2021 dramaticamente mostrou, há um problema com o vento: é que nem sempre sopra e fá-lo de forma imprevisível. Isto significa ou apagões ou um sistema de apoio confiável, portanto carvão ou gás natural, dado que o nuclear é forçado a sair do sistema.

As centrais eólicas são erroneamente classificadas em termos de capacidade teórica bruta quando Estados como a Alemanha querem gabar-se do progresso nas energias renováveis. Na realidade, o que conta é a eletricidade realmente produzida ao longo do tempo ou o que é chamado de fator de utilização ou fator de carga. Para energia solar, o fator de utilização é tipicamente apenas cerca de 25%. O sol no norte da Europa ou na América do Norte não brilha 24 horas por dia. Nem os céus estão sempre sem nuvens. Da mesma forma, o vento nem sempre sopra e é pouco confiável.

A Alemanha orgulha-se de 45% de energia renovável bruta, mas isso esconde a realidade. O Instituto Frauenhofer, num estudo de 2021, estimou que a Alemanha deve instalar pelo menos seis a oito vezes a energia solar para atingir as metas 100% livres de carbono em 2045, algo que o governo se recusa a estimar custos, mas estimativas privadas estão na casa dos milhões de milhões. O relatório diz que para a atual capacidade solar bruta de 54 GW, são necessários 544 GW até 2045. Isso significaria um espaço de 1,4 milhões de hectares, mais de 16 000 quilómetros quadrados de painéis solares sólidos em todo o país. Adicionem-se as principais estações eólicas a isto. É uma receita de suicídio.

A fraude da energia eólica e solar como uma opção sensata sem carbono está começando a ser percebida. Em 5 de janeiro, em Alberta, Canadá, onde o governo está a construir furiosamente parques eólicos e solares, num dia de frio severo, com temperaturas de - 42º C, as 13 instalações solares conectadas à rede de Alberta, avaliadas em 736 MW, contribuiam com 58 MW para a rede. Os 26 parques eólicos, com uma capacidade nominal combinada de 2 269 MW, alimentavam a rede com 18 MW. O total de energias renováveis foi de apenas 76 megawatts de um valor teórico de 3 005 megawatts supostamente verdes de energias renováveis. O Texas durante a neve severa de fevereiro de 2021 teve problemas semelhantes com energia solar e eólica, assim como a Alemanha. Além disso, quando neva, os parques solares são inúteis.

Além de atingir zero carbono de fontes renováveis, enormes extensões de terra devem ser recobertas com refletores solares ou dedicadas a parques eólicos. De acordo com uma estimativa, a quantidade de terreno necessária para acomodar as 46 480 centrais solares fotovoltaicas previstas para os EUA é de 1 700 000 quilómetros quadrados, quase 20% dos 48 territórios menores dos EUA. Estas são as áreas do Texas, Califórnia, Arizona e Nevada somadas. Somente no estado americano da Virgínia, uma nova lei verde, a Lei de Economia Limpa da Virgínia (VCEA) criou um enorme aumento nas aplicações de projetos solares até agora para 780 milhas quadradas [2021 km2] de paineis solares. Como David Wojick aponta, são mais de 2 milhões de hectares de campo, terras agrícolas ou florestas destruídas e recobertas com cerca de 500 projetos separados cobrindo grande parte da área rural da Virgínia, que precisará de impressionantes 160 milhões de painéis solares, principalmente da China e todos destinados a tornarem-se centenas de toneladas de lixo tóxico.

Milhões de empregos?

O governo Biden e o czar das energias renováveis, John Kerry, alegaram falsamente que a sua Agenda Verde ou Melhor Reconstruir (Build Back Better) significará milhões de novos empregos. Eles omitem que os empregos serão na China, que produz de longe muito mais painéis solares, um quase monopólio depois que destruíram a concorrência dos EUA e da UE há uma década com painéis subsidiados baratos Made in China. Da mesma forma, a maior parte da energia eólica é produzida na China por empresas chinesas. Enquanto isso, a China usa volumes recordes de carvão e adia sua promessa de zero carbono uma década inteira após a UE e os EUA até 2060. Eles não estão dispostos a comprometer seu domínio industrial com uma teoria climática baseada em dados falsos e na mentira de que o CO2 está prestes a destruir o planeta.

A federação sindical alemã DGB estimou recentemente que, desde 2011, o país perdeu cerca de 150 mil empregos apenas no setor renovável, principalmente porque os painéis solares fabricados na China destruíram as principais empresas solares alemãs. E a Alemanha é o país da UE mais louco por verde. Por definição, as energias renováveis como a energia eólica ou solar geram custos de eletricidade de base muito mais altos, destroem mais empregos na economia geral do que jamais criam.

Colapso industrial da NATO

Como a energia solar e a eólica são, na realidade, muito mais caras do que a eletricidade convencional de carvão, hidrocarbonetos ou nuclear, aumentam o custo geral da energia elétrica para a indústria, forçando muitas empresas a fechar ou mudarem-se para outro lugar. Apenas a fraude estatística oficial esconde isso. A Europa e a América do Norte precisarão de grandes volumes de aço e cimento para construir os esperados milhões de painéis solares ou parques eólicos. Isso precisa de enormes quantidades de carvão convencional ou energia nuclear. Quantas estações de carregamento de baterias para carros elétricos serão necessárias para alimentar 47 milhões de carros elétricos alemães? Quanta mais em energia elétrica adicional será necessário? [NT]

Um importante fazedor de opinião de energia verde nos EUA, RethinkX, emitiu um estudo de propaganda para energias renováveis em 2021 intitulado Rethinking Energy 2020-2030: 100% solar, eólica e baterias é apenas o começo. A sua resposta aos problemas de baixa capacidade de utilização da energia eólica e solar é construir 500% ou até 1000% mais do que o previsto para compensar o seu baixo fator de utilização de 25%. Eles fazem a alegação absurda, sem nenhuma prova concreta de que “A nossa análise mostra que 100% de eletricidade limpa da combinação de energia solar, eólica e baterias (SWB) é fisicamente possível e economicamente acessível em todo o território continental dos Estados Unidos, bem como a esmagadora maioria de outras regiões povoadas do mundo até 2030... essa superabundância de produção de energia limpa – que chamamos de superpotência – estará disponível a um custo marginal próximo de zero durante a maior parte do ano". Esta afirmação é apresentada sem um pingo de dados ou análise de viabilidade científica concreta, mera afirmação dogmática.

O falecido arquiteto canadense da Agenda 21 da ONU, Maurice Strong, um multimilionário amigo do petróleo de David Rockefeller, foi subsecretário das Nações Unidas e secretário-geral da conferência do Dia da Terra de Estocolmo em junho de 1972. Ele também foi administrador da Fundação Rockefeller. Mais do que qualquer outra pessoa, ele é responsável pela agenda de desindustrialização da “economia sustentável” de carbono zero. Na Cúpula da Terra da ONU no Rio, em 1992, declarou abertamente a agenda contundente dos defensores da eugenia radical, tal como Gates e Schwab: “Não é a única esperança para o planeta o colapso das civilizações industriais? Não será nossa responsabilidade fazer isso acontecer?” Esta agenda tem muito da Grande Reinicialização (Great Reset) atual.

Guerra agora?

Se as economias outrora avançadas e intensivas em energia dos países membros da NATO na Europa e nos EUA continuarem nessa jornada suicida, sua capacidade de montar uma defesa ou ataque militar convincente irá tornar-se uma miragem. Recentemente, a corrupta presidente alemã da Comissão da UE, Ursula von der Leyen, declarou que a indústria de defesa alemã de alta tecnologia e seus fornecedores não deveriam receber crédito bancário porque não eram suficientemente “verdes” ou “sustentáveis”. Alegadamente os bancos já receberam a mensagem. Junto com o petróleo e o gás, agora a produção de defesa é o alvo. Von der Leyen como ministra da Defesa da Alemanha foi amplamente culpada por permitir que a defesa alemã colapsasse a um estado catastrófico.

Na unilateral busca da sua insana Agenda 2030 e da agenda Zero Carbono, a Administração Biden e a UE estão a colocar a sua indústria num caminho deliberado para a destruição bem antes do final desta década. Estará isto, por sua vez, direcionando a atual agenda da NATO para a Rússia na Ucrânia, Bielorrússia, Arménia e Cazaquistão? Se as Potências da NATO sabem que não terão a infraestrutura industrial militar básica num futuro próximo, acharão melhor provocar uma possível guerra com a Rússia agora, para eliminar uma resistência potencial à sua agenda de desindustrialização? Além da China, a Rússia tem o potencial único para desferir um golpe devastador na NATO se for provocada.

Formação de psicoses coletivas ou loucura de multidões

Em 1852, o historiador inglês Charles Mackay escreveu um clássico intitulado Memoirs of Extraordinary Popular Delusions and the Madness of Crowds, dando uma visão pouco conhecida da histeria em massa por trás das Grandes Cruzadas religiosas do século XII, a Mania das Bruxas ou a Mania das Tulipas Holandesas e numerosos outros delírios populares. É um texto relevante para entender a irracional corrida global ao suicídio económico e político.

Os mesmos atores-chave por detrás dos mandatos em massa para a vacina anti COVID, uma vacina de alteração genética experimental não comprovada, e os bloqueios que se seguiram em todo o mundo, incluindo Bill Gates e o Papa Francisco, estão por detrás do Great Reset do Fórum Económico Mundial de Klaus Schwab e da loucura da Agenda Verde 2030 de Carbono Zero da ONU, para fazer o mundo aceitar medidas económicas draconianas sem precedentes.

Isso exigirá uma população dócil e fisicamente fraca para ser manipulada, o que o professor de psicologia belga Dr. Mattias Desmet e o Dr. Robert Malone chamam de "formação de psicose coletiva", uma psicose de multidão, um tipo de hipnose em massa que ignora a razão. É claro que tanto o mito do aquecimento global quanto a agenda da pandemia Corona vírus, exigem essa hipnose em massa – uma “extraordinária ilusão popular”. Sem a histeria do medo da COVID, nunca permitiríamos que a Agenda Verde chegasse tão longe, que as nossas redes elétricas estivessem à beira de apagões e as nossas economias à beira do colapso.

O objetivo final da pandemia da COVID OMS e da Agenda Verde é uma marcha para a grande redefinição distópica de Schwab de toda a economia mundial em benefício de uma ditadura empresarial por um punhado de corporações globais como BlackRock ou Google-Alphabet.

12/Janeiro/2022[NT] 

O cálculo das necessidades em energia elétrica para a descarbonização foi realizado no estudo: Assessment of the Extra Capacity Required of Alternative Energy Electrical Power Systems to Completely Replace Fossil Fuels. Uma resenha do mesmo está disponível aqui: Importante estudo finlandês revela a impossibilidade da descarbonização.

[*] Consultor de risco estratégico e conferencista, formado em política pela Universidade de Princeton, autor de best-sellers sobre petróleo e geopolítica.


Este artigo encontra-se em resistir.info

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