(Foto: Agência Brasil)
" riso sempre foi um direito dos poderosos e hoje eles riem mais do que nunca, com o sabor da perversão desconhecida de quem é pobre", escreve Marcia Tiburi
Marcia Tiburi
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O riso é uma solução catártica habitual em um país como o Brasil. Não há nenhum mal nisso, ao contrário, rir é um direito e faz bem à saúde mental. Verdade que tem sido muito difícil rir depois de 650 mil pessoas mortas por Covid e as evidências de que a necropolítica é um projeto para a colônia chamada Brasil.
Os altíssimos níveis de desemprego, a fome e a miséria das pessoas vivendo nas ruas, não dão muito espaço para ninguém se sentir muito bem caso ainda esteja vivendo no conforto. “Ainda” é uma palavra para se ter em mente. A promessa atual é de mais desigualdade na guerra econômica de todos contra os desfavorecidos que se faz passar por uma guerra apenas de “narrativas”.
Mesmo assim, a lista de compras das Forças Armadas brasileiras ganhou espaço na imprensa e nas redes sociais como uma espécie de catarse coletiva. Alguns demonstraram preocupação diante do que consideram uma irresponsabilidade da imprensa em criar caso onde não haveria. Afinal, há justificativas plausíveis para compras farmacêuticas sob os mais diversos pretextos e contextos. Entre o direito à piada e ao esclarecimento, o povo fica submetido à retórica da enganação que faz parte da guerra de narrativas onde quem sai perdendo, como sempre, é o povo. Desnorteadas e sem saber muito bem o que pensar, as pessoas seguem pelo lado mais fácil. Rir sempre foi uma solução para desviar do desespero. É uma verdadeira tática do que se considera saúde emocional por oposição à depressão.
A depressão cívica é a inglória alternativa ao riso no qual os desgraçados assumem o gozo possível. A depressão cívica concerne à tristeza pelo país que deverá se acentuar caso se perceba que rir agora dos militares pode ser cedo demais. Ora, o riso sempre foi um direito dos poderosos e hoje eles riem mais do que nunca, com o sabor da perversão desconhecida de quem é pobre. Os militares estão no poder e sua marionete carismática continua produzindo efeitos sobre as massas anestesiadas. As gargalhadas sempre foram um apanágio dos donos do poder que continuam rindo juntos. Agora, junto aos militares, “com o STF com tudo”, como diziam os golpistas, estão os pastores das igrejas de mercado, igrejas da corrupção, vampirizando o ministério da educação. Talvez quem ri hoje esteja tentando fazer o que não poderá fazer nunca mais, pois se não há educação, não há futuro, e quando não há futuro, não haverá como rir por último. O riso dos carrascos está, contudo, garantido.
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