terça-feira, 31 de maio de 2022

O projeto militar é um absurdo inaceitável na democracia

Fontes: Estratégia (CLAE) / Rebelião [Imagem: Reunião de oficiais de alta patente do Exército Brasileiro compartilham objetivos no Partido Militar. Créditos: Redes Sociais]

Neste artigo o autor sustenta que o projeto político dos militares é totalitário, retrógrado, reacionário e, por tudo isso, é antidemocrático.

Além de representar uma visão totalitária, reacionária e retrógrada do país, essa iniciativa dos militares é um verdadeiro absurdo na democracia.

Em reportagem datada de 5 de outubro de 2018, dois dias antes do primeiro turno das eleições daquele ano, o jornalista argentino Marcelo Falak, dos portais Ámbito Financiero e LetraP na Argentina, escreveu que “o presidente Bolsonaro era o projeto secreto dos militares, cúpula”. 

“Jair Bolsonaro foi o homem que a direção das Forças Armadas escolheu há quatro anos para se tornar presidente do Brasil”, começa o citado artigo –confirmando o que realmente aconteceu–; ou seja, o lançamento da candidatura do capitão no pátio da AMAN, ainda em 29 de novembro de 2014 , quatro anos antes das eleições de 2018.

Falak aprendeu com "uma alta autoridade das Forças Armadas que tem um papel institucional relevante" que "se ele [Bolsonaro] vencer as eleições de domingo [7/10/2018], o programa do futuro governo cívico-militar será politicamente conservador e absolutamente liberal na economia, e buscará erradicar a 'extrema esquerda' de uma vez por todas”.

No artigo, Falak destacou detalhes relevantes, como o planejamento da candidatura militar, o ativismo político no quartel, o antipetismo como expressão contemporânea do anticomunismo, a inflexão ultraliberal, a trajetória de Bolsonaro, seu terceiro casamento e até sobre os dois anos de psicanálise . ele deveria ter.

Dando um salto no tempo, depois de passar pelos três anos e cinco meses de um governo militar catastrófico, chegamos a maio de 2022, e então podemos confirmar as previsões da reportagem do jornalista argentino. A principal, que os militares afaguem um projeto de poder duradouro; um projeto de longo prazo.

As ameaças de golpe que se intensificaram nas últimas semanas foram acompanhadas por uma mudança qualitativa no papel de liderança do partido dos generais, dos comandantes das três Forças e do ministro-geral da Defesa. Dispensaram a ação indireta, terceirizada, camuflada, disfarçada, e passaram a assumir um antagonismo frontal e direto com o TSE e o STF. Em última análise, eles se comportaram como uma falange armada ; milícia real de uniforme.

Em evento com a presença do vice-presidente general Hamilton Mourão [5/19], lançaram o chamado “Projeto Nação”, trabalho elaborado por três institutos militares que corresponde ao programa de longo prazo do governo [ou regime] militar, em menos até o ano de 2035.

O documento resume, em relação aos temas discutidos -saúde, educação, costumes, soberania, «globalismo», economia, Amazônia, territórios indígenas, segurança, etc-, a visão doutrinária da contrarrevolução fascista que está sendo promovida pelo bolsonarismo.

O chamado "projeto nacional" expressa uma visão abrangente do país sob a ótica do Exército, não a do poder político soberano. Aliás, a proposta é absolutamente coerente com o processo brutal de devastação e destruição levado a cabo pelo governo militar.

Como apontou o antropólogo Guilherme Lemos em entrevista a Chico Alves no UOL, “não há dissociação entre o projeto e o que o Exército Brasileiro como instituição pensa sobre o Brasil nas mais diversas áreas”.

O pesquisador da UFSCAR alerta para a proposta de criação de um "Centro de Governo", entidade estratégica, com existência permanente, dotada de poder e mandato para concretizar o "projeto nacional" idealizado pelos militares, independentemente das eleições.

Isso significa que a implementação do projeto “independe da alternância de poder, será implementada no atual governo e nos futuros”, avalia Guilherme Lemos.

A publicação do “projeto nacional” é um importante exemplo do posicionamento político e institucional das Forças Armadas, especialmente do Exército. É mais um ingrediente adicionado ao cardápio de ataques sistemáticos de Bolsonaro e do partido dos generais contra o Estado de Direito e a pouca democracia que resta no Brasil.

Além de representar uma visão totalitária, reacionária e retrógrada do país, essa iniciativa dos militares é um verdadeiro absurdo na democracia.

É também uma mensagem inaceitável que os dirigentes partidários das Forças Armadas, que alimentam a tola fantasia de que são os "fundadores" da nação e nacionalidade brasileiras e os únicos capazes de conduzir os destinos do país em vez das elites civis incompetentes pelo menos procurará continuar exercendo a tutela do poder civil.

Isso se não ousar tentar exercer diretamente, de forma ilegítima, o controle do país.

Jeferson Miola é membro do Instituto de Debates, Estudos e Alternativas de Porto Alegre (Idea), foi coordenador executivo do V Fórum Social Mundial e colaborador do Centro Latino-Americano de Análise Estratégica (CLAE).


Rebelión publicou este artigo com a permissão do autor através de uma licença Creative Commons , respeitando sua liberdade de publicá-lo em outras fontes.or Jeff

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