Uma vez, o ex-diretor da CIA William J. Casey disse abertamente ao presidente americano Ronald Reagan e a outros assessores durante uma reunião na Casa Branca: "Saberemos que o nosso programa de desinformação está completo quando tudo aquilo em que o público americano acreditar for falso".
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Esta semana pôde assistir-se a relatos na comunicação social dos EUA admitindo abertamente que os serviços de inteligência americanos estão a semear conscientemente desinformação na comunicação social.
Uma vez, o ex-diretor da CIA William J. Casey disse abertamente ao presidente americano Ronald Reagan e a outros assessores durante uma reunião na Casa Branca: “Saberemos que o nosso programa de desinformação está completo quando tudo aquilo em que o público americano acreditar for falso”.
Alguns viram essa observação como um aparte irreverente que não era suposto ter uma consequência real. Outros, no entanto, afirmaram que tinha conotações sinistras muito mais deliberadas, cuja escala de controle público do pensamento é um objetivo consciente.
Quando se observa como o conflito na Ucrânia e as relações ocidentais com a Rússia estão a desenrolar-se e a forma como a comunicação social ocidental noticia isso, as palavras de Casey parecem ser um aviso sombrio.
Esta semana apareceram alegações chocantes amplificadas na comunicação social americana e ocidental de um massacre na cidade ucraniana de Bucha supostamente realizado por tropas russas. A fonte dessas alegações foi a milícia ucraniana associada ao Batalhão Azov, infestado de nazis. O Batalhão Azov, cujos membros exibem abertamente a insígnia das Waffen-SS, foi treinado e armado pelos Estados Unidos e outros militares da NATO na última década.
Não houve nenhuma tentativa da comunicação social ocidental de verificar as alegações sensacionais feitas contra a Rússia. Foram impressas e transmitidas com entusiasmo, levando a mais sanções ocidentais e fornecimento de armas à Ucrânia em apoio ao regime de Kiev. O que é ainda mais perturbador é que a informação que pretende incriminar as tropas russas é questionável. As supostas atrocidades parecem ter ocorrido vários dias depois de as forças russas se retirarem da área.
Moscovo alegou que os assassinatos foram realizados pelo batalhão Azov, apoiado pelo Ocidente, numa provocação de bandeira falsa para culpar a Rússia. No entanto, a comunicação social ocidental rotulou em reflexo as alegações russas como “propaganda do Kremlin”. Até mesmo analistas ocidentais e fontes de comunicação social alternativa foram difamados ou censurados por ousar desafiar a narrativa de supostas atrocidades russas. Uma dessas vozes independentes é a de Scott Ritter, ex-oficial do Corpo de Fuzileiros Navais dos EUA, que foi temporariamente banido das redes sociais esta semana por fazê-lo.
Uma ironia amarga é que esta semana também se assistiu a reportagens na comunicação social americana admitindo abertamente que os serviços de inteligência americanos estão a semear conscientemente desinformação na comunicação social. Longe de sentir vergonha ou arrependimento, as agências de inteligência e a comunicação social dos EUA estão exultantes com a prática de atribuir à Rússia a “guerra de informação”.
Algumas das histórias de desinformação admitidas incluem alegações de que a Rússia estava planear usar armas químicas na Ucrânia; que o presidente russo Vladimir Putin estava a ser enganado pelos seus generais sobre a falta de progressos na guerra; e que Moscovo estava a procurar obter suprimentos de armas da China para a guerra na Ucrânia. Todas estas histórias são agora reconhecidas como falsas. A comunicação social dos EUA está a mentir ao público e a admitir isso abertamente. Mas, supostamente, tudo bem porque é em nome da guerra de informação contra a Rússia.
Outra história de desinformação foi a alegação feita em fevereiro pelo Departamento de Estado de que a Rússia estava a preparar-se para encenar ataques de bandeira falsa para servir de pretexto para invadir a Ucrânia. Quando o porta-voz do Departamento de Estado Ned Price foi desafiado pelos repórteres na época a fornecer provas concretas, ele insinuou sarcasticamente que esses repórteres estavam a promover propaganda russa. Acontece agora que o Departamento de Estado estava a vender mentiras plantadas por seus serviços de inteligência.
Nada desse conluio chocante entre serviços de notícias supostamente independentes e o aparelho secreto de inteligência deveria ser surpreendente. Afinal, o ex-diretor da CIA Mike Pompeo estava a gabar-se em público sobre o modo como a agência “mentiu e trapaceou o tempo todo” como um distintivo de honra.
Sabemos, de há décadas atrás, como a Operação Mockingbird foi um programa ambicioso da CIA para se infiltrar em todos os meios de comunicação dos EUA com editores e repórteres obedientes como agentes.
Frank Wisner, um importante oficial de inteligência da CIA, uma vez maravilhou-se com o que ele chamou influência da agência sobre a comunicação social como o “Poderoso Wurlitzer”, uma imagem adequada de um tocador de realejo a chamar a atenção para o discurso e a perceção do público.
Num trabalho de investigação de 1977 feito por Carl Bernstein, do Washington Post, famoso pelo seu papel no Watergate, foi relatado que centenas de jornais e emissoras nos Estados Unidos foram recrutados para o serviço da CIA. Os meios de comunicação incluíam o supostamente venerando New York Times até aos jornais provinciais em estados rurais poeirentos. Curiosamente, considerando a visão anterior de Bernstein sobre o controle do pensamento público pelo aparelho de inteligência, ele mais tarde tornou-se um defensor da farsa “Russiagate” inventada pela inteligência dos EUA, implicando o ex-presidente Donald Trump como um fantoche russo.
Outra formidável fonte de verdade é o ex-agente sénior da CIA John Stockwell, que deu testemunhos copiosos e escreveu livros sobre como a CIA executa campanhas de desinformação da comunicação social em escala massiva e mundial.
Na Europa, o ex-editor de jornal alemão Udo Ulfkotte escreveu uma reportagem sobre como a CIA e outras agências de inteligência ocidentais recrutam funcionários em todos os principais meios de comunicação europeus para atuar como os seus olhos, ouvidos e bocas. Sabe-se também que a emissora estatal britânica, a BBC, foi, e talvez ainda seja, censurada pelo seu serviço nacional de inteligência, o MI5.
Embora tais revelações fossem conhecidas e divulgadas, era sempre uma conversa mole para evitar amplificar o escândalo para uma profissão que se gaba de guardiã do interesse público independente, da liberdade de expressão e pensamento, crítica do poder político e todo tipo de outros nobres epítetos.
Sempre foi um conceito ocidental denegrir a propaganda estatal como algo que foi feito na União Soviética e na Rússia de hoje, na China e em outros supostos estados “autocráticos”.
Diz o roto ao nu! A comunicação social ocidental, há muito, é muito mais culpada de vender desinformação ultrajante ao serviço das suas insituições de segurança militar. A farsa das armas de destruição em massa que levou à guerra genocida no Iraque em 2003 foi talvez o ponto mais baixo entre inúmeros outros episódios desonrosos. Há mais tempo tinha havido o falso incidente do Golfo de Tonkin que levou à Guerra do Vietname. Mais recentemente, houve a suposta mas falsa campanha de violações por soldados sob o comando do líder líbio Muammar Gaddafi que levou ao bombardeio da NATO na Líbia e ao assassinato de Gaddafi em 2011. O bombardeamento da NATO à Síria foi precedido de falsas alegações generalizadas da comunicação social ocidental de atrocidades com armas químicas que foram realmente realizados por representantes da mudança de regime apoiados pela NATO.
Na Ucrânia, a guerra foi precipitada pela NATO armando um regime nazi que estava a atacar a etnia russa no Donbass. Desde que a guerra eclodiu em 24 de fevereiro, após oito anos de provocações, a comunicação social ocidental acusou os militares russos de bombardear hospitais e teatros e agora de executar civis a sangue frio.
Isto é da mesma comunicação social que agora admite abertamente ser agente da desinformação e que parece não ter vergonha disso. Na verdade, eles estão orgulhosamente a gabar-se do seu papel de mentirosos como algo nobre. Esses meios de comunicação são cúmplices em alimentar conflitos e guerras. A sua função é encher o público de ignorância e nacionalismo exacerbado contra a Rússia para fortalecer a causa das indústrias e economias belicistas. Neste clima orwelliano distorcido, falar a verdade é cometer crime de pensamento e ser vilipendiado por aqueles que se exaltam na mentira.
08/Abril/2022
Ver também:La intoxicación lingüística. El uso perverso de la lengua, de Vicente RomanoO original encontra-se em www.strategic-culture.org/news/2022/04/08/us-media-boast-of-waging-information-war-against-russia/ e a tradução em pelosocialismo.blogs.sapo.pt/os-estados-unidos-vangloriam-se-de-196725Este editorial encontra-se em resistir.info
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