Jair Bolsonaro e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (Foto: Reuters)
"Bolsonaro quer se vender como o 'bem' e, por isso, usa o mal retoricamente. O mal é abstrato e Bolsonaro se aproveita disso", diz Marcia Tiburi
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Jair Bolsonaro começou a falar em “luta do bem contra o mal” na nova fase da campanha política que é a verdade do seu governo. De fato, propaganda de si e encenação foi só o que ele fez enquanto deixava seus parceiros, Guedes e outros, a governar de fato. Apesar de todos os desastres em que afundou o Brasil, Bolsonaro quer se vender como o “bem” e, por isso, usa o mal retoricamente. O mal se torna um operador de poder, um termo que serve como parâmetro de mistificação no seu hiperpopulismo. Percebendo o esgotamento de termos como “comunismo” e vendo que “pedofilia” já não produz efeitos de poder, depois de muitos escândalos envolvendo bolsonaristas, Bolsonaro passou a usar a palavra “mal” requentando a retórica religiosa que estimula o fanatismo sem o qual ele não existiria mais.
A intensificação mística produz o clima de messianismo necessário para a coesão da seita em torno de Bolsonaro. Por isso, Michelle Bolsonaro, com seu comportamento pastoral, começou a aparecer mais e falar no lugar do marido. O governo está cada vez mais reduzido à igreja.
Ora, o mal é um conceito abstrato e relativo. Se trata de um significante vazio e Bolsonaro se aproveita disso.
Sendo um significante vazio, é preciso colocar nele um conteúdo. Bolsonaro simplesmente escolheu colocar Lula e a esquerda como esse conteúdo, como poderia ter colocado o cristianismo, o capitalismo ou, se fosse honesto, a si mesmo. O jogo retórico é evidente.
O rebanho bolsonarista depende desse tipo de palavra de ordem e de estímulo para o êxtase que caracteriza seu jogo. Sem mistificação, delírio e fanatismo não existe bolsonarismo.
Os eleitores de Lula jamais se contentariam com palavras de ordem, pois esperam de um governante um projeto positivo de país e não a destruição e a morte que fazem parte da teocracia bolsonarista.
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