Jair Bolsonaro (Foto: REUTERS/Adriano Machado | Marcello Casal Jr/Agência Brasil | José Cruz/Agência Brasil)
"Algum doador está mesmo interessado em saber o que o condenado e inelegível fará com as sobras dos R$ 17,2 milhões?", indaga o colunista Moisés Mendes
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Em outras circunstâncias e com outros personagens, essa não seria uma pergunta banal: o que Bolsonaro irá fazer com os R$ 17,2 milhões que recebeu, via Pix, para pagar multas por não ter usado máscara na pandemia e capacete nas motociatas?
O apelo feito por bolsonaristas, que resultou na captação milionária, deixava claro que ele precisava de dinheiro para quitar o que era cobrado na Justiça.
Estimativas diversas das cifras a serem pagas ficam em torno de R$ 1 milhão. O que Bolsonaro fará com a sobra de pelo menos R$ 16 milhões?
É uma questão ética, assim como passam por abordagens éticas todos os crimes cometidos pelo sujeito e há muito tempo sob investigação ou em processos em andamento.
A sonegação da vacina e a matança da pandemia, a tentativa de furto das joias das arábias, a fraude do cartão de vacinação, a articulação do golpe, a afronta aos mortos da Covid e aos seus parentes e amigos.
Tudo o que envolve Bolsonaro e o bolsonarismo tem déficit de ética, incluindo sua manifestação voluntária sobre a atração que sentiu por uma criança de 14 anos.
Mas e daí? O que muda com a dinheirama do Pix? Em todos os casos citados acima, ele já sugeriu que não tem relação com nada, nem com as joias, nem com a fraude da vacina, nem com o golpe.
Pode dizer que não pediu ajuda a ninguém, que a iniciativa do Pix foi de amigos e que as pessoas doaram porque quiseram doar.
Os apelos especificaram que o dinheiro era apenas para pagar as multas, até porque o PL já havia assegurado salários para Bolsonaro e Michelle e até o aluguel de uma casa.
O que importa é que Bolsonaro é o beneficiado pelas doações, que estão aplicadas em renda fixa, segundo o Coaf.
Se tivesse sido reeleito, ao final do mandato Bolsonaro teria ganho R$ 1,4 milhão em salários, numa conta simples, com a soma do vencimento atual do presidente da República.
Como derrotado, fracassado como golpista e enredado em dezenas de processos pelos mais variados crimes, recebeu antecipadamente pelo Pix R$ 17,2 milhões.
Como presidente, teria um salário de R$ 30,9 mil. Com o rendimento do Pix, recebe mais de R$ 200 mil por mês, assegurados pelos juros de Roberto Campos Neto. É o mais espetacular e rentável caso de benemerência.
Para comparar, no ano passado, o Criança Esperança da Globo mobilizou todas as estrelas do grupo e arrecadou R$ 15,8 milhões.
Bolsonaro fará o que com a fortuna que tem no banco? No sábado, em Santa Catarina, ele disse:
"Dá para pagar todas as minhas contas e ainda sobra dinheiro aqui para a gente tomar um caldo de cana e comer um pastel com a dona Michelle".
O presumido deboche faz com que a questão ética se estenda também aos doadores. É razoável que milhares de pessoas patrocinem a quitação de punições impostas a um sujeito que acumulou crimes contra a saúde pública ao agir deliberadamente pelo caos e pela morte na pandemia?
Numa situação normal e com outros protagonistas, mesmo que sem consequências na Justiça, a história dos R$ 17,2 milhões teria impacto negativo devastador na vida de qualquer figura pública.
Como o personagem é Bolsonaro, é bem provável que o efeito seja o contrário. A maioria dos doadores de Bolsonaro não é formada por otários, como supõe a esquerda. Não são trouxas. São avalistas dos seus crimes, ou não estariam bancando as multas.
Polícia Federal, Ministério Público e Judiciário sabem que Bolsonaro come joias, come rachadinhas, comeu o cartão corporativo e finge arrotar pastel com caldo de cana.
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