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Coisas importantes estão a ser postas em movimento geopoliticamente por todo o globo, sobretudo em África. Um golpe de Estado derrubou o presidente do Níger, um país de importância crucial para a França e para o bloco da NATO. Os atlanticistas estão agora extremamente preocupados:
A França é o primeiro país do mundo em percentagem total de utilização do nuclear para a produção de energia e o segundo em número total de centrais nucleares. Já vi números segundo os quais o Níger fornece mais de 40% do urânio para a França, embora alguns o considerem na ordem dos 15-25%, bem como 25% para a própria UE.
Agora, o líder do golpe, Abdourahamane Tchiani, proibiu as exportações de urânio e ouro para França, o que poderá devastar as suas indústrias energéticas, embora isso possa ser apenas uma tática para renegociações.
Naturalmente, a Ucrânia culpa a Rússia:
O que Podolyak está a mencionar é que o Mali, o Burkina Faso e a Nigéria emitiram imediatamente declarações em defesa do Níger, afirmando que qualquer tentativa de intervenção de outros países contra o "governo de transição" do Níger seria uma declaração de guerra.
Muitos perguntaram anteriormente o que é que a Rússia faz ou fará contra os EUA ou o Ocidente em geral como retaliação por coisas como os bombardeamentos do Nord Stream. Eu havia dito que a Rússia tem muitos programas "assimétricos" em curso.
Agora está a ser noticiado que o Mali abandonou o francês como língua oficial no país, o que leva a mais um grande passo rumo à descolonização.
O francês é excluído das línguas oficiais do Mali. Portanto, o Mali retira-se oficialmente da África francófona. Note-se que, para além do Mali, a influência francesa é posta em causa na República Centro-Africana e no Burkina Faso. A saída do Níger desta estrutura significará o colapso final do antigo sistema colonial francês que existia no noroeste de África desde os anos 50-60 do século XX. Para a região, estes processos são de natureza tectónica. É a partir daqui que se presta tanta atenção ao Níger, embora aparentemente – quem se importa com o Níger?
A descolonização de África continua.
Nosso país é um ator importante que ajuda a acelerar as mudanças em curso destinadas a formar uma nova ordem mundial multipolar. Daí a histeria do Ocidente em relação às ações da Rússia em África. Afinal de contas, estas ações minam o modo de exploração pelo Ocidente das suas antigas colónias e países dependentes. Ao mesmo tempo, não impomos o nosso diktat aos africanos, mas, tal como nos tempos da URSS, atuamos como libertadores que ajudam a população local a livrar-se dos colonialistas. Estamos do lado certo da história.
Em simultâneo, a China está lentamente a reduzir o fornecimento ao Ocidente de metais preciosos críticos e de terras raras essenciais para as indústrias de circuitos integrados. Novas informações dizem o seguinte:
Os controlos chineses à exportação de germânio e gálio entraram em vigor, em meio a receios de que isso signifique microchips, painéis solares, carros e até armas mais caros. Mais significativamente, as restrições ameaçam afundar os ambiciosos objetivos da administração Biden em matéria de fabrico de microchips domésticos, afirma o especialista em comércio entre a China e os EUA, Thomas Pauken II.
As restrições impostas pela China às terras raras entraram oficialmente em vigor na terça-feira. As medidas foram anunciadas no mês passado depois de Pequim ter afirmado que precisava de proteger a sua "segurança e interesses nacionais". É expectável que provoquem um salto acentuado no custo de uma série de produtos manufaturados avançados, em particular os eletrónicos.
"A China produz mais de 80 por cento do gálio e 60 por cento do germânio do mundo. Peritos preveem que poderá levar "gerações" até os EUA substituírem a capacidade chinesa perdida.
Isto representa um golpe duplo de ambos os lados, uma vez que a Rússia e a China estão a derrotar o Ocidente de forma assimétrica. Já escrevi longamente sobre a forma como o Ocidente gosta de se apresentar como independente e a Rússia como dependente da sua "eletrónica", mas é o próprio Ocidente que está extremamente dependente dos recursos naturais que a Rússia/China produzem, bem como dos que se encontram em África.
Por exemplo, uma pequena amostra:
O metal é crítico para um conjunto de produtos – desde baterias a magnetos e microchips. A China e a Rússia controlam quase dois terços das reservas identificadas – e a procura está a ser impulsionada pelos “gastos de defesa alimentados pelo conflito Ucrânia-Rússia”, segundo o Tungsten West Plc, o qual tenta abrir uma nova mina no sudoeste da Inglaterra neste ano.
A China fornece mais de 90% dos elementos de terras raras utilizados na Europa e os dados mais recentes da UE mostram que as linhas ferroviárias da Rússia permanecem uma via muito ocupada e um braço chave da iniciativa Belt & Road de Pequim.
Este é também um gráfico relevante:
Também temos explorado desde há muito o modo como a Rússia já assumiu o controlo da maior parte dos vastos recursos de terras raras da Ucrânia, a maioria dos quais se situa na região do Donbass e cercanias.
O modo como as coisas estão a evoluir pode conduzir a circunstâncias absolutamente terríveis para o Ocidente, em particular para a Europa, terminando com o seu eventual colapso ou dissolução. Um outro escritor perspicaz esboçou exatamente este cenário num novo artigo que o encorajo a ler:
Alex Krainer's TrendCompass
Estará a UE prestes a começar a desintegrar-se?
O ethos por defeito do comentador mainstream parece ser o de nunca esperar surpresas (exceto as pandemias, claro). No entanto, podemos estar à espera de muitas surpresas nos próximos meses. Uma delas poderá ser uma desintegração acelerada do projeto europeu...
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Ele apresenta um ângulo interessante, embora talvez ligeiramente otimista. No entanto, é importante acrescentar a estes desenvolvimentos a saga em curso dos cereais. A Rússia está agora a pôr um travão ao fornecimento de cereais. Quando se considera os desenvolvimentos africanos juntamente com a saga em curso do corredor de cereais, isto tem potencial para ser um golpe de Estado de recursos contra o Ocidente, embora as terríveis consequências possam não ser imediatamente sentidas ou vistas.
Uma onda de sentimentos pró-russos e anti-ocidentais está a varrer África, mesmo a tempo da próxima cimeira dos BRICS. O presidente da Eritreia, Isaias Afwerki, resumiu as coisas na perfeição. Por favor, assista:
As suas palavras são refletidas pelo novo artigo da Foreign Policy o qual afirma que a América está a corroer o seu poder e o alcance do sistema financeiro global devido à sua dependência de sanções:
O artigo transmite o grave receio no Ocidente de que todos os países estejam a começar a embarcar no comboio Rússia-China, o qual está a criar um "sistema financeiro paralelo" para competir com o ocidental/americano:
Estes acordos financeiros paralelos liderados pela China acarretam riscos sistémicos significativos para os Estados Unidos e os seus aliados.
Um deles é o número crescente de países não sancionados do Sul global que estão a aderir a uma economia mundial paralela anti-sanções. Ao regressar da sua viagem de abril a Pequim, o Presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva reiterou o seu apoio a uma divisa de comércio entre os países BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul). Ao apresentar a iniciativa, Lula citou as suas preocupações acerca de uma economia global dominada pelo dólar, em que os Estados Unidos tiram partido da dominância do dólar para a sua política externa punitiva.
O movimento agora é imparável: As forças anti-imperialistas estão a reunir-se, encorajadas pelo êxito da Rússia em neutralizar as ferramentas de terrorismo financeiro ocidental, anteriormente muito temidas. A guerra da Ucrânia será um verdadeiro momento de viragem que marcará a rutura de eras como a AC e a DC antes dela. O mundo inteiro já despertou para o facto de que a guerra não é apenas sobre a Ucrânia, mas que a Rússia está a combater por todos, pela libertação de todo o mundo privados de direitos e colonizado nas garras do polvo da cabala bancária liderada pelo Ocidente. Esta guerra é a rebelião final contra a hegemonia e o império do Ocidente atlanticista e, mais especificamente, o cartel financeiro – para usar as palavras de G. Edward Griffin – que controla o Ocidente.
Patrushev afirmou que a operação especial marcou o início de um fenómeno – uma maioria global que mostra disponibilidade para a soberania, livre da hegemonia ocidental.
A vitória da Rússia sobre o Ocidente na Ucrânia servirá como um poderoso impulso rumo a uma mudança ainda maior do equilíbrio global em favor de uma ordem mundial multipolar, destacou o secretário do Conselho de Segurança da Rússia.
Ainda há muitos truques assimétricos e táticas de adiamento que o Ocidente tem na manga para utilizar como resposta a estas últimas investidas, de modo que não deveríamos ser demasiado otimistas quanto a resultados imediatos. Mas, como disse, o movimento está claramente a ganhar força e já é imparável –o Ocidente só pode atirar paus e galhos para o caminho do rochedo que rola, com a esperança de o abrandar marginalmente.
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