sábado, 25 de maio de 2024

O NEGÓCIO DO JAIR - A História secreta do clã Bolsonaro (gota 14)


Passava pouco das duas da tarde quando a promotora Patrícia do Couto Villela, coordenadora do grupo que investigava Flávio Bolsonaro no MP-RJ, abriu uma chamada de vídeo no computador. Com a pandemia, os promotores tinham deixado de ir ao prédio da avenida Marechal Câmara e passaram a trabalhar de suas respectivas casas. Além de Villela, participavam pelo MP os promotores Luís Fernando Ferreira Gomes e Eduardo Santos de Carvalho. Todos formais, no visual e no trato, como se o ambiente da promotoria tivesse simplesmente mudado de cenário. Na última tela, via-se Flávio acompanhado de Luciana Pires, sua principal advogada. O senador e a defensora estavam no gabinete dele no Senado, sentados lado a lado, ambos de máscara.

Assim, à distância, Flávio finalmente atendeu ao pedido de depoimento dos promotores. Não que ele fosse obrigado a ir: apenas um juiz, com um processo instaurado, é que pode tornar o depoimento obrigatório e, mesmo assim, o réu tem direito ao silêncio. Essa fase, porém, ainda era a da investigação. E o problema do senador era a cena pública. Depois de anos bradando contra o foro privilegiado e as acusações de corrupção do PT, o parlamentar se recusava a explicar as suspeitas contra a sua pessoa. A primeira convocação para depor fora dezoito meses antes, em janeiro de 2019. E sua reação havia sido solicitar foro especial.

Até então, Flávio agira sob a tutela de Frederick Wassef. Agora, com a troca da banca de defesa, a tática havia mudado. Os novos defensores, Luciana Pires, Rodrigo Roca e Juliana Bierrenbach, aconselhavam Flávio a se mostrar disponível aos promotores. No mundo jurídico, e até na cena pública, um investigado em silêncio soa como réu confesso. Era importante que ele enfrentasse o MP. Existia ainda uma vantagem política: o depoimento, como tudo na investigação, corria sob sigilo. As incoerências de suas histórias para explicar o agigantamento de seu patrimônio, sem lastro em sua renda formal, ficariam apenas entre quatro paredes, ou seja, entre ele e o MP.

“Dra. Luciana e sr. Flávio, muito obrigada pela diligência. Vou alertá-los que é resguardado ao sr. Flávio, a dra. Luciana deve ter lhe passado, o direito ao silêncio em relação às perguntas que lhe serão feitas a partir de agora. Alguma dúvida?”, iniciou Patrícia Villela, para o registro formal.

“Não, doutora. De forma alguma. No que eu puder ser útil para esclarecer as dúvidas, quaisquer dúvidas, estou à disposição”, respondeu Flávio, tentando parecer solícito.

“Vou começar pedindo que o senhor faça um breve histórico sobre o seu ingresso na Alerj e todos os cargos que ocupou na casa. Lideranças, comissões.”

“Bom, fui eleito com 21 anos de idade para o meu primeiro mandato e com 31 mil votos…”

Ao se candidatar em 2002, Flávio estava no segundo ano de direito da Universidade Candido Mendes, na unidade do centro do Rio, e ainda cursaria outros três para se formar, em 2006. No currículo, tinha apenas um estágio em eletrônica no IME (Instituto Militar de Engenharia), ao longo de 1999, e um voluntariado junto à Defensoria Pública do Rio, trabalho que fez duas vezes por semana entre 2001 e 2002.

A experiência de Flávio, antes do parlamento, pode fazer parecer que ele chegou com uma bagagem um tanto rasa para um cargo no legislativo estadual fluminense. A régua dele, porém, era em família, e o irmão Carlos, até mais novo do que ele, conquistou uma vaga como vereador do Rio, em 2000, com menos idade e ainda dividindo o tempo de campanha com apostilas de vestibular. Do currículo público, Flávio costuma deixar de fora que, enquanto cursava direito e estagiava na Defensoria, ele ocupou um cargo na liderança do PPB, na Câmara dos Deputados, em dezembro de 2000.1 Um suposto trabalho à distância numa época em que a internet não era popular, disseminada e acessível como hoje. À época o PPB era o partido de seu pai, e o mesmo cargo já havia sido de Cristina, então sua madrasta. Ela abandonou a função para se tornar chefe de gabinete de Carlos Bolsonaro na Câmara Municipal do Rio. No papel, Flávio ficou com o posto e o salário, que era de 4,7 mil reais, na época, hoje cerca de 18 mil reais. Lá, permaneceu nomeado por quase dois anos, sendo exonerado só em junho de 2002, pouco antes da eleição.

Além do breve currículo, Flávio também chegou ao Palácio Tiradentes, sede da Alerj, quase sem patrimônio. Ao protocolar a papelada para disputar o pleito, ele entregou ao Tribunal Regional Eleitoral (TRE-RJ) sua declaração de imposto de renda. No ano anterior à eleição, seu único emprego fora justamente na Câmara dos Deputados, aquele que ele nem contava que havia tido e que lhe rendera ao longo daquele ano um total de 56 548,63 reais. Na lista de bens, um Gol 1.0 turbo, ano 2001, que valia 25,5 mil reais. Ainda morava com a mãe, no apartamento na Vila Isabel, aquele quitado com dinheiro vivo.

De 2001 para 2020, as coisas mudaram muito. A vida de todos na família Bolsonaro era outra, mas a de Flávio especialmente tinha passado por uma enorme transformação. Depois de quatro mandatos na Alerj, ele tinha conquistado uma cadeira no Senado pelo RJ e a lista de bens também era outra, incluindo carros, um apartamento e uma sala comercial na Barra da Tijuca, além de 50% de uma franquia da loja de chocolates Kopenhagen e algumas aplicações. Um total de mais de 4 milhões de reais até o início de 2020.

ALI, DIANTE DOS PROMOTORES, Flávio tentou explicar sua trajetória, lembrar de funcionários e contratações, bens adquiridos e vendidos, relações com policiais investigados por diferentes crimes, inclusive acusados de integrar grupos milicianos. Conforme o depoimento avançava, porém, ele começou a ter sucessivos lapsos de memória. Dizia não recordar muita coisa, ou mesmo declarava, hesitante, ignorar outras tantas. Não lembrava de negociações, pagamentos, detalhes de sua loja e até dos nomes das pessoas que escolheu para ocupar o cargo mais importante de seu mandato, a chefia de gabinete.

“Quais foram os seus chefes de gabinete? O que o levou a nomeá-los e a exonerá-los?”, perguntou Patrícia Villela.

“São cargos em confiança. Logo no início do mandato… formação de equipe, eu não lembro agora de cabeça quais foram os que passaram na chefia de gabinete minha. Mas sempre com critérios ali de competência, proximidade e entendimento de legislação militar. Sempre foi esse critério que a gente adotou lá por causa do público alvo. O último foi o coronel Braga, da FAB, que trabalhou na assessoria parlamentar da Aeronáutica por algum tempo no Congresso Nacional e ele veio a ser meu chefe de gabinete.”

“O senhor lembra de alguém mais além dele?”

“Como houve no começo uma dificuldade de achar uma pessoa que se encaixasse na função, passaram quase vinte anos do primeiro mandato. Foi em 2002 o primeiro mandato. Não. Que eu me lembre… não lembro de nomes assim…”

A pergunta tinha uma razão. O MP já havia apurado que na gestão da primeira chefe de gabinete de Flávio Bolsonaro, Mariana Mota, ocorreram depósitos de outros assessores de modo bastante semelhante ao que constava na conta de Queiroz, além de outras negociações nebulosas. Mota pagava, por exemplo, as despesas de aluguel de um primo de Flávio, Leonardo Rodrigues de Jesus, o Léo Índio, que seria seu assessor. Também soou bastante inusitado que ele tivesse esquecido o nome dela, já que vez ou outra ele e o pai ainda a encontravam em eventos e até chegaram a posar para fotos. Mas a promotora não insistiu.

Em seguida, o promotor Luís Fernando Ferreira Gomes assumiu a condução das perguntas e quis saber de Queiroz. O senador repetiu a história de que o policial e o pai se conheceram no Exército e que mais tarde Jair o indicou para trabalhar com o filho, até por questões de segurança: em julho de 2006, Flávio havia sofrido um assalto à mão armada na Tijuca e tivera um carro roubado.

O senador prosseguiu falando de seu gabinete na Alerj. Disse que não havia lugar para todo mundo trabalhar. “Nenhum parlamentar coloca vinte pessoas no gabinete, não tem nem espaço físico”, alegou. Só que ele não era obrigado a contratar tanta gente, poderia ter economizado dinheiro público. Quando os questionamentos chegaram às nomeações de parentes, Flávio começou a tentar emplacar suas histórias.

Contou que quando era “permitido”, nomeou o avô, João Braga, ainda no início do primeiro mandato. A verdade é que desde 1988, não seria permitido nomear parentes em cargos comissionados devido à necessidade de impessoalidade no serviço público, como consta da Constituição de 1988, artigo 37. Se o STF depois resolveu vetar expressamente, em 2008, é porque um grupo de parlamentares se aproveitava da situação, dissimulando a ideia de uma zona cinzenta porque não estava escrito de modo terminante que a prática era proibida. Mas o princípio que impedia sempre esteve na Carta Magna e ela orienta toda a legalidade da ordem jurídica no Brasil.

E, na primeira parte do depoimento, Flávio se estendeu, dizendo que delegava controles e responsabilidades a seus assessores. Dentro da Alerj, o controle era do coronel Braga, seu atual chefe de gabinete, e as equipes de rua seriam da responsabilidade de Queiroz. Admitiu que nomeou parentes do amigo do pai porque confiava plenamente em Queiroz. Os dois conviviam mais que com as respectivas famílias, disse.

Pouco a pouco, o promotor Ferreira Gomes foi conduzindo as perguntas para tópicos relacionados às nomeações de funcionários-fantasmas, que todo mês devolviam 80% a 90% de seus salários em dinheiro vivo, valores que na sequência serviam para comprar, efetuar pagamentos e o que mais fosse.

“O senhor sabia se alguns dos seus assessores de fato não prestavam serviço público, o que se chama de funcionário-fantasma? Chegou a ter alguma suspeita?”

“Todo mundo trabalhava no gabinete. Se eu soubesse que não trabalhasse eu seria o primeiro a exonerar.”

“Ok. O senhor pediu para fornecer alguns nomes. Vou falar aleatoriamente porque são muitos.” E o promotor foi citando um a um os nomes dos funcionários que constavam na lista de repasses a Queiroz desde o relatório do Coaf.

Uma análise das contas bancárias do grupo, um total de dez pessoas, mostrou que esse núcleo chegou a repassar mais de 2 milhões de reais a Queiroz. A cada nome, Flávio tinha uma resposta. Um deles estaria na Europa no período da nomeação para gozar férias não vencidas. Coisa de 248 dias. Os demais assessores suspeitos de serem “fantasmas” atuariam numa espécie de “trabalho de rua” para colher demandas da população. Uma havia indicado uma praça para reforma, outra fazia militância de base com famílias de policiais. No final, o investigador perguntou sobre uma ex-vizinha de Queiroz, do tempo em que ele morou em Oswaldo Cruz, na Zona Norte: “O senhor se recorda de Luiza Souza Paes?”.

“Também me recordo. É filha de um amigo do Queiroz, também nessa região.”

“O senhor se recorda o que ela fazia no seu gabinete? Se ela comparecia ao seu gabinete?”

“Eu via com pouca frequência no gabinete. Às vezes comparecia, mas era mais uma pessoa que o Queiroz fazia a supervisão do trabalho. Equipe de rua praticamente.”

“O senhor sabe se ela ocupou outros cargos na Alerj?”

“Acho que ela trabalhou um tempo na TV Alerj, se não me engano.”

Depois das primeiras perguntas gerais, o promotor passou a se aprofundar na versão de Fabrício Queiroz sobre o grupo de assessores. Flávio sabia da existência de algum funcionário dito extraoficial? Sabia da existência dos repasses e depósitos do staff de Flávio para Queiroz ou para ele, Flávio? Os promotores já sabiam que não existia nenhum repasse direto para Flávio, mas tinham encontrado um depósito de 25 mil reais, em dinheiro vivo, em agosto de 2011, de Queiroz para Fernanda, mulher do senador.

“Além desses assessores formalmente nomeados existia alguma espécie de assessor extraoficial trabalhando para o senhor direta ou indiretamente?”

“Que eu saiba não, eu jamais permitiria.”

“A sua advogada deve ter esclarecido que essa foi uma das alegações do investigado Fabrício Queiroz. Então não é verdade essa alegação?”

“Pode ser verdade, mas se eu soubesse eu não permitiria.”

“E o senhor sabia se o sr. Fabrício Queiroz recebia dinheiro de algum assessor?”

“Óbvio que não, se eu soubesse, mais uma vez, eu seria o primeiro a tomar providências.”

“O senhor ou alguém da sua família recebeu dinheiro do investigado Fabrício Queiroz ou de algum outro servidor da Alerj?”

“Não. Eu nunca recebi dinheiro de ninguém do meu gabinete.”

“E nem ninguém da sua família?”

“Que eu saiba também não.”

“Nem mediante transferências bancárias?”

“Que eu saiba não.”

“O senhor fazia pessoalmente suas transações bancárias ou delegava para alguém?”

“Muitas das vezes eu mesmo fazia o pagamento, às vezes usando o cartão, às vezes em espécie. Às vezes pedia pra algum secretário meu pagar, ou podia ser o Queiroz esporadicamente. […] Quando pedia pra alguém pagar, eu mesmo dava o dinheiro pra pessoa pagar minhas contas, em espécie. Quando eu ia pagar, ou era espécie ou passava cartão.”

“De onde saía esse dinheiro em espécie? O sr. sacava da sua conta?”

“Sacava da minha conta ou pegava também dinheiro em espécie lá na minha lojinha que eu tenho. Recebi dinheiro em espécie por ocasião da venda de um imóvel, isso tá declarado na escritura, em Laranjeiras. A origem era essa, do dinheiro que eu pagava em espécie.”

Assim, de modo sutil, o promotor introduziu o tópico das vultosas quantias de dinheiro vivo na rotina de Flávio. As perguntas e respostas ocorriam praticamente sem nenhum atrito, mas era patente o nervosismo do senador. A promotoria parecia ter optado por deixar as mentiras e contradições fluírem com naturalidade, sem necessariamente emparedar o investigado. Perguntaram também sobre o costume de Flávio pedir a Queiroz para quitar suas contas. Existiam imagens do policial pagando dois boletos de Flávio, em espécie. O senador disse ignorar quantas vezes aquilo havia ocorrido e que era só “para conta pequena”. Os boletos que o MP já tinha flagrado, para custeio da escola das filhas de Flávio, eram no valor de 6,9 mil reais.

Mais alguns minutos e o promotor voltou a insistir nos pagamentos em dinheiro. O próprio Flávio se adiantou em explicar um controverso episódio em 2017. Imagine-se a cena: um deputado estadual, sozinho na frente de um caixa eletrônico. Aí ele puxa um envelope e deposita 2 mil reais. Depois outro, mais um e assim por diante. Quarenta e oito vezes. Dava um total de 96 mil reais. A cena ficou tão simbólica que até virou fantasia de Carnaval em 2019. Segundo o senador, esse dinheiro se originou da venda de um apartamento. O comprador até confirmou que havia pagado parte da dívida, 100 mil reais, em espécie, mas não em cédulas dispostas em envelopes de 2 mil reais.

“O senhor se recorda se suas contas-correntes costumavam receber outros depósitos de forma fracionada?”

“Não. Pelo que eu me lembre, todos esses depósitos fui eu que fiz. Principalmente, depois que eu vendi o apartamento. Até uma garantia da origem lícita é que eu não tinha medo de botar na minha conta. Eu fazia fracionado desse jeito porque, às vezes, o cartão ia virar negativo. Tinha que colocar um complementozinho ali. Fazia dessa forma para ter mais privacidade ao invés de ir lá na boca do caixa e enfrentar fila. Botava ali o limite no caixa eletrônico sem problema nenhum para não ficar negativado.”

“Mas o senhor não tinha assessores que podiam fazer? Porque o Fabrício Queiroz fazia.”

“É que assim…”

“Então todos os depósitos na sua conta foram feitos pelo senhor?”

“Que eu me lembre, sim.”

As perguntas eram feitas ora por Ferreira Gomes, ora pelo outro promotor, Eduardo Santos de Carvalho. Como Flávio mencionou os pagamentos em dinheiro vivo, Carvalho quis saber se ele guardava dinheiro em casa: “O senhor mencionou pagamentos em espécie. O senhor costuma guardar dinheiro em espécie em casa?”.

“Guardo para despesas pequenas pessoais, só, dr. Eduardo. Vou chutar aqui. Devo ter 8 mil reais em casa, de vez em quando. Não vou juntando dinheiro em casa, não.”

“Tá. Abaixo de 10 mil reais?”

“Ah, é”, respondeu Flávio.

Já mais próximo do fim, o roteiro de perguntas foi direcionado para as negociações de imóveis. Entre 2005 e 2020, ele havia negociado dezenove imóveis em aquisições que lhe renderam um lucro de 3 milhões de reais.

Os promotores já sabiam que as contas dele e da mulher haviam sido irrigadas com depósitos de procedência desconhecida e em dinheiro vivo. Em geral, envelopes de 5 mil reais depositados pouco antes do dia de quitar o boleto do financiamento. Mas não fizeram a pergunta diretamente. Nos autos, porém, eles já tinham mapeado 141 depósitos suspeitos entre 12 de junho de 2014 e 9 de agosto de 2018. Um total de 275,5 mil reais.

O promotor perguntou sobre a compra do apartamento em que o casal morou até mudar para Brasília, um imóvel adquirido por 2,55 milhões de reais em 2017. Valor quitado por meio de cheques, transferências e um financiamento bancário. Mas nessa negociação também havia um pagamento de 30 mil reais em espécie, feito diretamente por Flávio ao proprietário.

“O proprietário afirmou que o senhor pagou 30 mil reais em espécie. O senhor confirma e se recorda a razão desse pagamento?”

“Foi. Era coisa que ele queria negociar comigo. Queria deixar cortina, lustre, não sei o quê. Tirou mais 30 mil reais.”

“Mas não lembra especificamente quais eram os móveis?”

“Era coisa banal. […] Um imóvel que valia 2,5 milhões e o cara cobrando 30 mil reais, para manter o negócio, cedi para o cara.”

“O senhor se recorda por que não fez essa transferência por ? […]”

“Eu tinha uma coisinha guardada em casa. Preferi fazer desse jeito.”

“Uma coisinha? Trinta mil reais? Era mais?”

“Mas é só isso que ele declarou aí.”

“Tinha mais dinheiro em casa nessa época?”

“Olha, provavelmente não. Eram aqueles 30 mil reais. Eu não guardava tanto dinheiro em casa. Mas era o que eu tinha ali em mãos e acertei desse jeito com ele.”

A resposta um pouco debochada apontou a discrepância. Como Flávio já tinha tropeçado na própria narrativa, o promotor resolveu tentar outra ponta solta que envolvia o dinheiro recebido por Fernanda, mulher de Flávio, do policial: “Uma declaração do senhor que me deixou em dúvida. O senhor disse que nem o senhor nem seus familiares teriam recebido dinheiro do sr. Fabrício Queiroz ou de outros assessores. Mas foi localizada pelo menos uma transferência, aliás, um depósito de 25 mil reais, identificado como portador dos recursos o sr. Fabrício Queiroz. O senhor sabe a origem desse dinheiro e a razão desse depósito?”.

“Não sei a origem do dinheiro. Mas dá uma checada direitinho que eu tenho quase certeza que não deve ter nada a ver com Queiroz. Queiroz nunca depositou dinheiro na conta da minha esposa, pelo que eu saiba.”

“Tá encerrado esse tópico”, finalizou o promotor.

Flávio também se enrolou bastante quando foi questionado sobre a compra que fez de duas quitinetes em Copacabana, em 2012. O vendedor depositou cheques de Flávio e outros 638 mil reais em espécie. Tudo ao mesmo tempo e no dia em que foi feita a escritura de venda. Só que esse era outro branco na memória de Flávio: “Que eu me recorde não”, afirmou. “Se eu não me engano, foi por transferência bancária desse sinal. Cheques. E no dia, eu paguei as duas salas junto com a minha esposa. Foi no próprio cartório. Paguei e, segundo a própria escritura, já entrei com a chave.”

Os promotores já sabiam que o comprador anotara um encontro na agência do HSBC para fechar o negócio. Mas esse foi outro momento em que a memória de Flávio falhou. Os investigadores aparentemente deixaram que ele fosse evasivo, de propósito.

ADIANTE, Flávio envolveu o pai, os irmãos e outros funcionários em negociações suspeitas e, por consequência, na investigação em si. Todos faziam parte do Negócio do Jair. A partir de 2007, o grande negociador dos imóveis da família passava a ser o primogênito. Jair trocou uma casa por outra quando casou com Michelle. Depois parou de fazer negócios e passou a ajudar Flávio em suas aquisições. O primeiro negócio de Flávio com a ajuda de Jair foi a aquisição de doze salas comerciais na Barra da Tijuca, em 2008.

“As corretoras imobiliárias, foram duas Cyrella e TG Brooksfield, informaram que os pagamentos do financiamento dessas salas foram financiados pelas próprias corretoras. Parte deles (pagamentos) foi feita com dinheiro em espécie, mais especificamente no ano de 2008, 86 779,43 reais. Outra parte foi feita com cheques, especificamente 8,8 mil reais, e outros pagamentos foram feitos por boletos bancários. Inicialmente o senhor se recorda de quem eram os cheques utilizados nesses pagamentos?”

“Os cheques eram meus”, respondeu Flávio.

“Eram seus? Tá. E os depósitos em espécie?”

“Eu saí pedindo emprestado para o meu irmão, para o meu pai, eles me emprestaram esse dinheiro. Tá tudo declarado no meu Imposto de Renda, que foi comprado dessa forma. Depois eu fui pagando a eles esses empréstimos. Acho que o Jorge, que era chefe de gabinete do meu pai, também me ajudou.”

“O senhor mencionou que efetuou empréstimos, que estão inclusive declarados na sua declaração de Imposto de Renda. E depois nos anos seguintes, tem as declarações dos pagamentos desses empréstimos, da devolução. Essas transações foram feitas sempre em dinheiro ou era transferência bancária?”

“Não. Era em espécie, em dinheiro.”

AO REVISAR AS DECLARAÇÕES do Imposto de Renda, o MP constatou que Flávio não tinha como justificar, com o dinheiro que entrava em suas contas, as dívidas que acumulava entre gastos e aquisições de imóveis, ano após ano. Tampouco havia saques de sua conta nas datas de pagamentos de despesas com dinheiro vivo. Nem na conta de sua mulher — que inclusive ficou mais de quatro anos sem fazer um único saque, de 2010 a 2014.

Mas o mais importante era como tudo estava interligado. Nessa lista confusa de entradas e saídas, existiam os empréstimos em dinheiro vivo da família e de funcionários de Jair Bolsonaro. O senador dizia que pedira dinheiro emprestado a várias pessoas para custear a compra das salas comerciais. Nos documentos, constam empréstimos de Jair (55 mil reais), Carlos (35 mil reais), Léo Índio (60 mil reais) e Jorge Francisco (80 mil reais), que era chefe de gabinete de Bolsonaro na Câmara e trabalhou com a família por vinte anos. De todos, o que menos parecia ter condição de fazer aquele empréstimo era Léo, assessor do primo na Alerj. Em 2007, o salário dele era de 3,1 mil reais líquidos.

No entanto, em 2010, quando Flávio revendeu as salas e até obteve certo lucro, ele contraiu outros empréstimos. Pegou mais 70 mil reais com Jorge e outros 100 mil reais com Wolmar Villar Júnior, funcionário do gabinete de Bolsonaro na Câmara e agora assessor especial da Presidência da República. Wolmar é um dos mais antigos no staff de Bolsonaro, está com o clã desde 1992. Sua mulher, Miqueline Sousa Matheus, também tinha um cargo no gabinete da Câmara, entre 2005 e 2018. Mesmo assim, na época do empréstimo, o casal se inscreveu no programa de habitação Morar Bem, do Distrito Federal, espécie de braço estadual do Programa Minha Casa Minha Vida, do governo federal. Eles não conseguiam comprar uma casa própria com uma renda de cerca de 8 mil reais, em 2011, mas teriam 100 mil reais em dinheiro vivo para um empréstimo.

Ao mesmo tempo, ainda em 2010, Flávio informou que fez uma doação de 733 mil reais para sua mãe, em espécie. De acordo com os documentos, entre 2009 e 2013 ele teria quitado, também em dinheiro, os empréstimos feitos com a família e os funcionários do pai.

Algum tempo depois, quando o depoimento e os detalhes do imposto de renda vieram à tona, Flávio não quis explicar nada. Aliás, nunca mais. Nem ele, nem a mãe. E essas eram apenas parte das questões sensíveis que envolviam a família. Em agosto de 2020, o repórter Fabio Serapião tinha conseguido cópia da quebra de sigilo bancário de Fabrício Queiroz e Márcia Aguiar. Ali, o jornalista verificou que das contas do casal saíram 27 cheques no total de 89 mil reais para a primeira-dama Michelle Bolsonaro. Os novos dados colocavam sob suspeita a versão de Jair para um dito empréstimo dele para Queiroz. Em dezembro de 2018, para tentar acalmar o escândalo, Bolsonaro justificara o primeiro conjunto de cheques como o pagamento de uma dívida de 40 mil reais. Agora, sabia-se que esses depósitos ocorreram por anos, de 2011 a 2016. Se Queiroz pegou esse valor emprestado, por que iria devolver mais do que o dobro?

Aquela crise em torno de Queiroz e envolvendo a primeira-dama causou estresse no casamento. Havia algum tempo Michelle culpava o marido e se ressentia por aquela exposição. Nenhum dos dois falou publicamente sobre a descoberta dos novos cheques e questionar Bolsonaro sobre esse assunto se tornou um risco. Depois da prisão de Queiroz, por quase dois meses ele foi blindado pela equipe e evitou entrevistas. Aproximou-se mais dos partidos do centrão para tentar estabilizar seu mandato, temendo um afastamento.

Mas, num domingo, no fim de agosto de 2020, o presidente voltou a fazer mais um de seus passeios, dessa vez perto da Catedral de Brasília. Durante a caminhada, tumultuada devido ao público e ao staff de seguranças, gerou mais uma das inúmeras aglomerações que provocou ao longo da pandemia. Ali, durante o trajeto, um repórter do jornal O Globo aproveitou a chance e perguntou sobre os cheques. A resposta veio com uma ameaça: “Minha vontade é encher sua boca com uma porrada, tá?”.

A defesa de Flávio atuou como pôde para engendrar estratégias de anular a investigação e combater os vazamentos dos dados do procedimento. Como a denúncia não era protocolada pelo MP, o clã ficava possesso ao ver reportagens sobre seus dados financeiros. Assim, os advogados fizeram denúncias no Conselho Superior do Ministério Público acusando os promotores pelo repasse de dados, escreveram artigos atacando a imprensa e, em determinado momento, entraram com uma ação pedindo censura contra a TV Globo. Conseguiram uma decisão, inconstitucional, proibindo a empresa de publicar reportagens sobre o caso de Flávio. No pedido de censura, existiam insinuações de que os jornalistas estavam fazendo crime de receptação ao receber dados sigilosos. O episódio foi usado como uma espécie de recado para os demais repórteres.

Interpretações bastante equivocadas. O dever de sigilo cabe às partes de um processo, jamais a um jornalista com acesso a informações de interesse público. O dever de sigilo do repórter é com a fonte, é um direito constitucional. Que a defesa de Flávio esperneasse porque aquilo era prejudicial a seu cliente, em meio à tensão do período que antecedeu a denúncia, era até compreensível. Inaceitável era ver uma decisão judicial autorizar a censura generalizada. Isso depois de inúmeras decisões da Suprema Corte do país firmando a jurisprudência do acesso à informação e do fim da censura.

Aquela trava vinha porque a defesa tinha entendido que a lista de perguntas feitas a Flávio no depoimento era, na realidade, também um roteiro do que estaria na denúncia contra ele. E era impossível para os advogados impedir, naquele momento, que a denúncia fosse apresentada. O volume das provas era bastante contundente, e colossal. A única coisa que ainda não existia nos autos era uma confissão.

O SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL ganhou um novo ministro no dia 5 de novembro de 2020. Depois de um mês da indicação, o desembargador do TRF-1 (Tribunal Regional Federal da 1a Região) Kassio Nunes Marques tomou posse da cadeira que pertencia ao ministro Celso de Mello, então decano do Supremo.

Nunes Marques, como prefere ser chamado, tinha se tornado magistrado em 2011, em uma das vagas destinadas à advocacia — o quinto constitucional. Natural de Teresina, no Piauí, ele iniciou a carreira no Judiciário após ter sido o mais votado para desembargador na lista tríplice da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil). Na época, fora nomeado pela presidenta Dilma Rousseff. Esse histórico não impediu que ele fosse escolhido pelo presidente Jair Bolsonaro, que costuma renegar qualquer servidor relacionado com os governos petistas.

Ao chegar ao STF, ele trazia um longo currículo. Cursou direito na Universidade Federal do Piauí, depois fez mestrado na Universidade Autónoma de Lisboa, em Portugal. Ainda fez um doutorado na Universidade de Salamanca na Espanha e um pós-doutorado em direitos humanos na mesma instituição. No currículo, ele ainda declarava: “Pós-doutor em Direito Constitucional” pela Universidade de Messina, Itália, e um “Posgrado em Contratación Pública”, da Universidad de La Coruña, na Espanha. No entanto, não demorou para a imprensa descobrir que o curso na Itália não passava de um ciclo de seminários, e o “posgrado” espanhol foi um curso de extensão de cinco dias. E, como se não bastasse, reportagens da revista Crusoé e do jornal O Globo identificaram que três trechos da dissertação de Nunes Marques eram iguais a artigos de outro advogado.

Mas a partir do momento em que a escolha de Jair Bolsonaro por Nunes Marques começou a circular, nada parecia deter a nomeação. Seu nome já havia sido ventilado anteriormente para vagas no STJ, mas de repente foi elevado a candidato ao Supremo. Poucos sabiam, mas o magistrado vinha costurando apoios de diferentes lugares. Tinha o sinal positivo de Davi Alcolumbre, então presidente do Senado, e do senador Ciro Nogueira, presidente do PP, um partido da base de Bolsonaro. Também transitava com facilidade entre outros partidos. E antes de ser ungido, ou melhor, nomeado, foi apresentado aos ministros do STF Gilmar Mendes e Dias Toffoli, em um sinal de deferência.

Esses movimentos do eleito desagradaram a base bolsonarista, especialmente nas redes sociais. Mas, no íntimo, o clã sabia que o momento exigia alguém que eles acreditassem que seria totalmente leal. Wassef, mesmo afastado, orquestrava essas escolhas e, junto a Flávio Bolsonaro, tinha convencido o presidente a adiar a escolha do “ministro terrivelmente evangélico” e optar por Nunes Marques.

Quando o novo ministro passou na sabatina do Senado, em outubro de 2020, ninguém sabia desse detalhe. Ele teve 57 votos favoráveis e foi aprovado. Nas palavras do presidente, ele se tornou “os 10%” de Bolsonaro dentro da Corte. Uma afirmação que se tornaria cristalina a partir dos votos do ministro no ano seguinte e decisiva para a vida de Flávio Bolsonaro.

Mas no dia em que Nunes Marques assumiu a cadeira de Celso de Mello, os Bolsonaro mal comemoraram, pois estavam preocupados com outra coisa. A denúncia do MP do Rio acusando Flávio viera à tona no dia anterior, 4 de novembro de 2020. E, sim, as perguntas feitas ao senador tinham tudo a ver com o conteúdo do documento de quase trezentas páginas.

Flávio foi acusado de liderar uma organização criminosa e desviar 6,1 milhões de reais da Alerj. Queiroz, apontado como um dos operadores, movimentou 2,1 milhões de reais do total do dinheiro desviado. Mas o atual chefe de gabinete, o discreto coronel Miguel Braga Grillo, também foi denunciado como operador, já que era por ele que passava toda a administração do gabinete, incluindo as folhas de ponto dos assessores que recebiam sem trabalhar. Ao todo, dezessete denunciados. Do lado de Queiroz, Márcia, Nathália e Evelyn, a mulher e duas filhas do policial. No de Flávio, Fernanda, sua mulher. Nos demais, outros assessores que fizeram repasses a Queiroz e o corretor americano que depositou 638 mil reais em espécie após vender dois imóveis ao filho de Bolsonaro.

O MP fluminense fugia de tudo que chegasse muito perto de Jair Bolsonaro. Eles não tinham jurisprudência para atuar, mas também não agiam para repassar os dados a quem tinha, a PGR. Cheques de 89 mil reais para Michelle, 733 mil reais na conta de Rogéria?

Essa informação passou batida nas acusações da denúncia. Os parentes de Cristina, o núcleo de Resende do esquema do clã, seguiram sob investigação em um caso desmembrado.

Existia, porém, uma novidade bastante importante, uma confissão — e ela vinha de um caminho improvável, da estatística Luiza Souza Paes. Amedrontada com a possibilidade de ser presa após ter tido duas operações de busca e apreensão na sua casa, a jovem havia procurado o MP em setembro de 2020 para fazer uma colaboração espontânea. Tinha perdido o emprego e estava com dificuldades para arrumar outro. Ao menos, foi isso que ela relatou aos procuradores do caso.

No depoimento, Luiza contou como foi parar no gabinete de Flávio. Em 2011, quando ainda cursava a faculdade, seu pai, Fausto, estava tentando um emprego junto ao gabinete de Flávio. Queiroz não conseguiu uma vaga para ele, mas disse que podia ver um estágio para Luiza. Só que quando a jovem chegou para tomar posse, o emprego não era um estágio, mas um cargo no gabinete de Flávio. Ela quis saber quais seriam suas tarefas e lhe disseram que não precisava se preocupar. Quando surgisse algo, ela seria procurada. Sua única tarefa era sacar todo mês o salário que vinha da Alerj e depositar para Queiroz na boca do caixa, sem identificar. Ela ficava com setecentos reais. O resto, 2,8 mil em média, ia para a conta ou para as mãos de Queiroz. E ela também tinha obrigação de entregar parte dos vencimentos de férias, 13º, vale-alimentação e até da restituição do Imposto de Renda.

Luiza admitiu que, no período em que esteve como assessora, devolveu cerca de 155 mil reais para o policial. Confessou que nunca deu expediente e, portanto, era uma funcionária- -fantasma. E tudo isso ocorreu não apenas quando ela estava no gabinete. No período em que esteve lotada na TV Alerj, ela também tinha que entregar o dinheiro a Queiroz. Ou seja, a rachadinha saía do gabinete de Flávio e continuava em cargos de confiança em outras áreas da Casa. Mas o dinheiro voltava para o gabinete por meio de Queiroz. Luiza confirmou ainda que ela não era a única naquela situação. Outras pessoas, como a personal trainer Nathália, filha de Queiroz, participavam de esquema semelhante.

Luiza também forneceu os documentos de sua conta que mostravam os saques e depósitos. Entregou outros dados, como as localizações de seu celular em dezembro de 2018, e falou das tentativas que a defesa de Flávio fez para atrapalhar as investigações. Contou ter sido orientada por Luis Gustavo Botto Maia, em dezembro daquele ano, a não prestar depoimento. No dia marcado para ela ir depor, foi chamada para conversar com Frederick Wassef num hotel na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro. Foi lá que ela conheceu o advogado a quem depois passou a chamar de “maluco” e “louco de pedra”.

O depoimento de Luiza corroborava as investigações e funcionava como a última peça do quebra-cabeça que tinha sido montado desde a entrega dos valores até a lavagem do dinheiro. Com a colaboração, a jovem se comprometeu a restituir o dinheiro que ficou com ela ilegalmente e o MP pediu, na denúncia, que ela tivesse redução de pena. A estatística foi denunciada por peculato e organização criminosa. Entre os investigadores, porém, havia expectativa de que outros se apresentassem para falar do envolvimento de Flávio. Todos os acusados permaneceram em liberdade para responder ao processo. Só Márcia e Queiroz continuavam em prisão domiciliar.

Alguns meses se passaram e ficou claro que, ao longo do ano de 2021, se os investigadores, que atuaram no caso desde o início de 2019, pretendiam avançar, as decisões do STJ e as inúmeras mudanças no comando do MP fluminense não iriam permitir. Enquanto a imprensa trabalhava em diversas matérias para explicar o conteúdo da enorme denúncia contra ele, o senador se metia em mais uma negociação nebulosa. A mais dispendiosa de sua vida. Em 23 de novembro de 2020, ele pagou um sinal de 200 mil reais para adquirir uma mansão com valor total de 5,7 milhões de reais no Lago Sul, em Brasília. Um imóvel de 1,1 mil metros quadrados de área construída, num terreno com mais do que o dobro desse espaço. Quatro suítes, closet, salas de estar e de jantar com pé direito duplo, escritório, home theater, espaço gourmet com ampla varanda, brinquedoteca, piscina e tudo mais que o primogênito achou que tinha direito. Coincidência ou não, o valor da aquisição era quase igual ao que o MP exigia que o novo proprietário devolvesse aos cofres públicos e próximo do total desviado por ele da Alerj.




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