Vídeo da Marinha sobre "privilégios" (Foto: Reprodução)
Apesar das desídias das instituições, de alguns governantes e políticos vilipendiadores do povo não podemos deixar de acreditar que um país diferente é possível
brasil247.com/
No final da semana passada fomos surpreendidos com um vídeo da Marinha do Brasil de extrema arrogância ofensiva à população brasileira.
A produção improdutiva mescla cenas de atividades desenvolvidas pelos membros da marinha, intercaladas com cenas do cotidiano do povo brasileiro em situações de lazer com o fim de estabelecer um contraponto do quanto é penosa a vida de quem serve nessa força e o quanto seus membros são diferenciados por exercerem missões árduas, complexas e desafiadoras, enquanto o restante do povo se diverte.
O vídeo provocativo e intimidador aos demais brasileiros surge na mídia dias depois dos indiciamentos de 25 militares no relatório da Polícia Federal pelos crimes de: abolição violenta do Estado Democrático de Direito, organização criminosa, tentativa de golpe de Estado e plano de assassinato do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, do vice-presidente, Geraldo Alckmin, e do Ministro do STF Alexandre de Moraes. Mais uma vez, uma das Forças Armadas testa o povo, subestimando-o com absoluto escárnio e soberba aviltante.
Num país com maioria de brasileiros que acorda de madrugada todos dias, que passa duas horas ou mais espremida em transportes públicos precários nas grandes cidades, ou segue à pé por quilômetros para chegar ao trabalho, por não possuir a mínima condição de arcar com mais uma despesa; num país com elevado contingente de trabalhadores uberizados, que por dia chegam a rodar pelos espaços urbanos mais de 16 horas; num Brasil com famílias desempregadas vivendo nas ruas, com entregadores de fast food que arriscam suas vidas durante as entregas, sem dinheiro para comer, é curioso que estes brasileiros tenham sido omitidos do vídeo. Para Marinha, sem privilégios, somente seus integrantes têm seus soldos pagos em dia, têm suas aposentadorias aos 50 anos, têm direito a refeições diárias na caserna, contam com assistência própria à saúde, além de boa parte dos servidores ter direito a próprios nacionais (casas em vilas militares) a preço módico para morar. Francamente, a frase final da marinheira ao final do vídeo: Privilégios? Vem para Marinha!!! Ironicamente tem todo sentido.
Como se não bastasse as aberrações das Forças Armadas que apreciam golpes, que se autopromovem como se fossem castas acima do bem e do mal, há as polícias militares estaduais motivadas por ações violentas que atingem não só os suspeitos de crime, bem como as pessoas inocentes que perdem suas vidas pelas inúmeras balas perdidas.
Num país que vive em sobressaltos pela reincidência de acontecimentos impensáveis, a exemplo das últimas ocorrências em São Paulo, governada por Tarcísio de Freitas e sua polícia militar que assassina friamente pessoas pretas desarmadas, que joga pessoas de pontes, que fere deliberadamente transeuntes, perder a confiança absoluta nas instituições que deveriam proteger as pessoas, em vez de exterminá-las, não é incomum. Em março deste ano, o governador bolsonarista que come de garfo e faca e é o candidato já escolhido pela mídia corporativa para concorrer à Presidência do país em 2026, ao ser questionado sobre as suspeitas de irregularidades cometidas pela polícia militar paulista que resultaram na morte de inúmeras pessoas na baixada santista no verão passado, respondeu: "sinceramente, nós temos muita tranquilidade com o que está sendo feito. E aí o pessoal pode ir na ONU, pode ir na Liga da Justiça, no raio que o parta, que eu não tô nem aí".
Depois das tragédias desta semana que impactaram a opinião pública e sendo censurado pela própria grande mídia que o promove, Tarcísio ponderou melhor suas palavras sobre as ações policiais criminosas. Contudo, não demitiu seu Secretário de Segurança, Guilherme Derrite, ex deputado do PL, que carrega em seu currículo um histórico de extrema violência, enquanto comandante da Tropa de Elite da Polícia Militar (Rondas Ostensivas Tobias Aguiar - ROTA). Por incrível que possa parecer, essa fera, que foi expulsa da Rota por sua prática letal, está cotada para senador em 2026, ou governador de São Paulo, se Tarcísio de Freitas concorrer à Presidência.
Num horizonte nada promissor, há violências de outra natureza que sentenciam tempos obscuros para o país, oriundas de parlamentares da direita oportunista, a denominada ala do centrão e da extrema direita fascista. As mudanças anunciadas pelo governo quanto ao ajuste fiscal, encaminhadas à Câmara de Deputados sofrem chantagens para serem aprovadas. O governo, por meio da Advocacia Geral da União, foi forçado a recorrer ao STF para pedir a revisão das regras de transparência na destinação das emendas parlamentares decididas pelo ministro Flávio Dino, com aquiescência unanime do Supremo Tribunal Federal. Esse movimento ocorre para que o pacote de cortes de gastos, seja aprovado. Frente a essa circunstância de pressão por parte da Câmara, o Planalto também teve que apressar a liberação de R$ 7,8 bilhões para custeio de emendas parlamentares. Futuramente, a isenção de Imposto de Renda para quem recebe até cinco mil reais por mês, anunciada para aprovação em 2025 pelo Congresso, com validade para 2026, com certeza vai ser motivo de futuras chantagens, bem mais perversas.
Outras tentativas de imposições de freios a qualquer avanço em políticas promotoras de bem estar social e de minimização da profunda desigualdade socioeconômica proposta pelo governo progressista são diuturnamente praticadas pelo mercado financeiro. Os rentistas funcionam como sanguessugas algozes do povo. Fortalecidos pela mídia corporativa patrocinada por eles, tentam arruinar as iniciativas do governo por meio de especulações contra a moeda brasileira. Na semana passada, tão logo anunciadas as medidas de isenção de impostos para as classes menos abastadas, o dólar disparou a um patamar elevadíssimo.
O país continuará vivendo na corda bamba, enquanto estiver configurado em meio a contradições de um sistema ultra concentrador de renda, enquanto estiver submetido à supremacia do mercado financeiro, enquanto o Congresso for composto em sua maioria por políticos fisiologistas, chantagistas da República em detrimento dos interesses do povo, enquanto as forças militares considerarem-se superiores aos demais brasileiros, enquanto se arvorarem a dar golpes na democracia, enquanto as polícias militares, com raras exceções, agirem por meio de abordagens de extrema letalidade com relação às camadas pobres, pretas e periféricas.
Apesar das desídias militares, das ações de políticos vilipendiadores do povo não podemos deixar de acreditar que um país diferente é possível. Ainda que lentamente, o atual governo tem contornado os limites impostos, celebrando benefícios para o país, como o recente fechamento de acordo de livre comércio entre o Mercosul e a União Europeia, depois de longos 25 anos de negociações. Este acordo, quando for finalmente efetivado por todos os países participantes, estimulará suas economias. Conforme o Planalto, “abre oportunidades de comércio e investimentos sem comprometer a capacidade para a implementação de políticas públicas em áreas cruciais como saúde, desenvolvimento industrial e inovação” (Revista Carta Capital/André Lucena /06/12/2024). Outras notícias alvissareiras dizem respeito ao anúncio da ONU de que Insegurança Alimentar Severa caiu 85% no Brasil em 2023, como resultado do aprimoramento responsável e sustentável de políticas sociais, a taxa de desemprego é a mais baixa da história.
Encerro esse texto com uma reflexão profundamente inspiradora proferida por José Mujica, ex-presidente do Uruguai, em discurso na ONU realizado em 2013: “É possível arrancar quase toda a miséria do planeta. É possível criar estabilidade e será possível às gerações futuras, se conseguirmos pensar como espécie e não só como indivíduos (Disponível em educacaopublica.cecierj.edu.br)".
Nenhum comentário:
Postar um comentário
12