É possível que, quando Jair Bolsonaro finalmente for preso, desfaça-se a trama que, até agora, o poupou das suspeitas pelo envolvimento com a morte de Marielle Franco, e a Polícia Federal finalmente desvende o mistério mais óbvio desses tempos de violência.
O deputado Quaquá está correto. Não há nenhuma lógica nessa versão de um crime praticado pelos irmãos Brazão – ligados à pequena delinquência do Rio de Janeiro, não ao Escritório da Morte, como os Bolsonaro.
Desde 2019, o Jornal GGN vem mostrando evidências do envolvimento dos Bolsonaro com o assassinato de Marielle.
Os assassinos se reuniram no condomínio Vivendas da Barra.. no dia 14 de março de 2018 O matador Ronnie Lessa e o motorista Élcio de Queiroz chegaram às 17:10 e saíram logo depois.
Tempos depois, surgiu a primeira evidência do envolvimento dos Bolsonaro. O porteiro do condomínio informou à Polícia Civil que o motorista pediu, primeiro, a casa do “seu Jair”.
O Jornal Nacional deu a nota. De madrugada, Bolsonaro divulgou uma live com ataques à Globo e informando que, no momento indicado pelo porteiro, ele estava em Brasília. Logo, não poderia ter recebido a ligação.
Em duas oportunidades, mostramos que era um álibi falso: o sistema da portaria permitia transferência de ligações para celulares.
No mesmo dia do crime, a jornalista Thais Bilenky, de Brasília soltou em seu Twitter que Bolsonaro planejava voltar para o Rio, por conta de uma intoxicação alimentar. Quem está indisposto procura hospital, não ponte aérea. No dia seguinte, apareceu em publicação no Facebook almoçando na casa de um colega deputado, sem nenhum sinal de indisposição estomacal.
Aliás, o primeiro ridículo da cobertura jornalística foi não ter levantado ligações dos Bolsonaro com Ronnie Lessa: ambas as famílias ligadas ao crime organizado, com Flávio e Carlos Bolsonaro empregando familiares de matadores e homenageando-os na Câmara Municipal e na Assembleia Legislativa; e ambas as famílias morando a poucos metros uma da outra.
Em julho passado, a Folha levantou que Bolsonaro auxiliou Ronnie Lessa em tratamento médico. Nem isso foi capaz de despertar a letargia da Polícia Federal, da Polícia Civil do Rio de Janeiro e do Ministério Público Estadual sobre o envolvimento dos Bolsonaro com o crime.
A segunda evidência – mais forte ainda – foi um vídeo gravado por Carlos Bolsonaro no mesmo dia. Ele retirou o equipamento da cabine, em um caso claro de mexer nas provas, ignorado totalmente pelos promotores estaduais que investigavam o caso. Depois, gravou um vídeo onde ele próprio mostrava o visor do equipamento.
Mostrava que, de manhã, não havia nenhuma ligação para a casa do pai. Quando começou a analisar as ligações de tarde, deu-se conta de uma ligação para sua casa. Teclou o gravador e apareceu a voz do porteiro avisando “seu Carlos”, que havia chegado “o seu Uber” Era 17 horas.
Ora, o álibi de Carlos Bolsonaro era de que passou a tarde do crime na Câmara Municipal. E, agora, ele próprio comprovava que estava no condomínio no mesmo momento em que se reuniam os assassinos. E saía de lá no mesmo momento em que os assassinos partiam para sua empreitada.
Segundo as primeiras investigações, Élcio de Queiroz chegou às 17:10 no condomínio e saiu, junto com Ronnie Lessa, pouco depois. O Uber para pegar Carlos Bolsonaro chegou às 17:58.
Não ficou nisso.
Na época, delegados críticos da operação me disseram que, internamente, trabalhava-se com a motivação política – não a disputa de terras, que acabou sendo aceita pelas investigações. Análises do Google de Ronnie Lessa comprovaram que ele procurava personalidades contrárias à operação GLO (Garantia de Lei e Ordem).
Recortes de jornais da época mostravam que os maiores críticos da GLO eram justamente Jair Bolsonaro e Hamilton Mourão, supondo que fizesse parte de um acordo entre Michel Temer e General Villas Boas, visando apoiar a candidatura de Temer em 2018.
Segundo o Congresso em Foco:
“Réu por incitação ao crime de estupro e injúria, o deputado Jair Bolsonaro (PSC-RJ) disse nesta sexta-feira (16) que o modelo de intervenção federal determinada por Michel Temer na segurança pública do Rio de Janeiro, formalizada em decreto no início da tarde, se presta a “servir esse bando de vagabundos” – ou seja, aos membros do governo. Pré-candidato à Presidência da República, o parlamentar reclamou do fato de que a decisão foi tomada “dentro de um gabinete” e não consultou as Forças Armadas”.
No final do ano, com Bolsonaro disparando nas pesquisas, o general Villas Boas patrocinou um acordo entre Bolsonaro e Braga Neto, que assumiu cargo relevante no governo.
Nos meses seguintes, a verdade foi aparecendo aos poucos, como o envolvimento do delegado Rivaldo Barbosa com o crime. Em depoimento à polícia, Rivaldo afirmou que recebeu ordens do general Richard Nunes para apagar as mensagens de WhatsApp que trocava com Marielle.
Mas o caso Marielle caiu nas costas dos irmãos Brazão, ligados ao pequeno crime do Rio de Janeiro.
No início de 2019, o interventor General Braga Neto, afirmou saber quem foi o mandante, mas não queria se antecipar às investigações.
– Nós fizemos todo um trabalho. Não procuramos um protagonismo. Eu poderia ter anunciado quem a gente acha que foi, ou dito ao (general) Richard (Nunes, secretário de Segurança Pública durante a intervenção, para que o fizesse), mas quisemos fazer um trabalho realmente profissional – afirmou o ex-interventor nesta sexta-feira, no evento de transmissão de cargo do comando do Exército, em Brasília.
No início do inquérito, foi apontado o ex-capitão Adriano da Nóbrega – estreitamente ligado aos Bolsonaro – como responsável pela contratação de Ronnie Lessa. Adriano foi executado na Bahia, não se soube de seu celular e abandonou-se completamente as investigações sobre a conexão entre ele e Ronnie Lessa.
Agora, com Braga Neto preso, Rivaldo Barbosa afastado e com a próxima prisão de Bolsonaro, espera-se que o caso, finalmente, possa ser esclarecido, e Marielle possa descansar em paz.
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