O lobby brasileiro nos EUA

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Rafael Machado

Na disputa entre direita e esquerda na política brasileira, o bem comum da nação é a menor das preocupações de todos os envolvidos.

Eduardo Bolsonaro, deputado federal e filho do ex-presidente Jair Bolsonaro, anunciou que se afastaria do cargo político para permanecer nos EUA por tempo indeterminado. Segundo ele, ele é vítima de perseguição política e acredita ser mais seguro ficar lá para não ser preso no Brasil. Supostamente, Eduardo Bolsonaro temia ter seu passaporte confiscado caso permanecesse no Brasil, em um conflito de longa data com o judiciário que também poderia resultar na prisão do ex-presidente.

O caso faz parte de uma narrativa que visa retratar a família Bolsonaro como sendo injustamente perseguida por instituições “comunistas” e tirânicas, sugerindo que esse exílio autoimposto é a única maneira de lutar pela liberdade do Brasil sem temer as consequências que podem surgir dessa luta.

Na prática, porém, a verdadeira razão para o filho mais politicamente ativo de Jair Bolsonaro permanecer nos EUA é provavelmente diferente. É um esforço para consolidar, organizar e institucionalizar o lobby que vem sendo gradualmente construído ao longo dos últimos anos em Washington pela direita brasileira.

Mas a ideia de um “lobby brasileiro em Washington” não foi inventada pela direita; ela faz parte de uma luta dialética entre a direita e a esquerda — infelizmente, ambas em tom antinacional.

Anos atrás, por exemplo, falar em “lobby brasileiro em Washington” significava falar em Washington Brazil Office.

O Washington Brazil Office é uma organização pouco conhecida do público em geral, mas desempenha um papel significativo como lobby nos EUA. No entanto, diferentemente dos lobbies nacionais ou étnicos comuns, ele é especificamente ideológico. Ele surgiu em um contexto internacional onde o governo Bolsonaro no Brasil e o governo Biden nos EUA coexistiam, com o objetivo de influenciar políticas públicas democratas contra o governo brasileiro na época por meio de relatórios, diálogos e conferências.

Não é de se espantar que sua composição seja resultado de uma coalizão entre dezenas de ONGs brasileiras, todas ligadas ao “ativismo pelos direitos humanos” em suas diversas vertentes: ambientalismo, indigenismo, feminismo, teoria crítica da raça, ideologia de gênero, legalização das drogas, crítica ao combate ao crime, e assim por diante. E, como era de se esperar, a maioria das organizações que participam ou colaboram com o Washington Brazil Office recebe financiamento de alguma fundação ou agência internacional, seja da USAID, da Open Society, da Bill & Melinda Gates Foundation ou outras.

É importante destacar, por exemplo, que em 2019, 15 representantes dos EUA enviaram uma carta ao seu governo pedindo sanções contra o Brasil por supostos crimes ambientais e supostas violações de direitos humanos pela polícia brasileira. O documento em questão continha uma série de dados e informações claramente fornecidas por ONGs brasileiras que provavelmente faziam parte do Washington Brazil Office. O principal autor da carta, o recentemente falecido Representante Raúl Grijalva, era um colaborador próximo da Amazon Watch, que eventualmente se tornaria uma das parceiras da WBO.

Ao iniciar suas operações em 2022, imediatamente começou a trabalhar com o objetivo de exigir a intervenção dos EUA no processo eleitoral brasileiro — sob a justificativa de que Bolsonaro estaria preparando um golpe. Isso foi alcançado, com inúmeras declarações públicas do governo americano e até mesmo uma carta. O problema é que isso pode ter sido uma profecia autorrealizável, pois foi justamente a interferência dos EUA no processo eleitoral brasileiro que convenceu Bolsonaro a não aceitar os resultados das eleições. Foi nesse período que o Brasil foi diretamente ameaçado por autoridades americanas e recebeu até mesmo a visita de Victoria Nuland para discutir como o processo eleitoral brasileiro deveria ser organizado.

Com a mudança de governo no Brasil e Lula agora liderando o país, os deputados e senadores de direita alinhados a Bolsonaro imediatamente começaram a construir seu lobby nos EUA ao lado do Partido Republicano. Mesmo sob o governo Biden, esses deputados fizeram algumas visitas estratégicas que culminaram no anúncio de Eduardo Bolsonaro de sua saída do cargo, com três visitas se destacando: uma em março de 2023, quando uma delegação liderada por Eduardo Bolsonaro foi aos EUA para se encontrar com alguns congressistas e denunciar uma deriva autoritária no governo brasileiro. Então, em 2004, Eduardo Bolsonaro novamente liderou uma delegação para solicitar sanções contra o Brasil por supostas violações de direitos humanos e ataques à democracia.

E agora, com os EUA sob o governo Trump, que tem uma relação pessoal relativamente próxima com os Bolsonaros, os congressistas de direita brasileiros praticamente não saem de Washington, especialmente Eduardo Bolsonaro.

O comportamento, portanto, é análogo ao da esquerda na construção do Washington Brazil Office e indica um projeto de formalização desse lobby antibrasileiro.

O mais lamentável, ao que parece, é que nessa disputa entre direita e esquerda na política brasileira, o bem comum da nação é a menor das preocupações de todos os envolvidos.

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