
Fontes: Correio da Cidadania (Brasil) [Imagem: Guerra da água em Cochabamba (Bolívia) em abril de 2000. Créditos: Aldo Cardoso]
rebelion.org/
Traduzido do português para Rebelión por Alfredo Iglesias Diéguez
Neste artigo, o autor reflete sobre a importância da consciência de classe, que é crucial para que as classes trabalhadoras tomem partido na luta de classes.
A história da humanidade é a história da luta de classes. E essa é uma verdade que não se limita às sociedades capitalistas. Em outros modos de produção, como a escravidão ou o feudalismo, também havia classes: escravos e senhores, servos e nobres. O modo de produção capitalista, sob o qual vivemos hoje, também tem suas classes: a burguesia e os trabalhadores. E essa luta acontece na vida cotidiana. Os donos do capital dominam a vida dos trabalhadores que buscam, por diversos meios, se libertar. Essa é a batalha diária em todas as épocas, porque, no fundo, quem gosta de ser dominado, subjugado, humilhado? Ninguém!
Em virtude dessa verdade incontestável, a luta de classes se expressa em todos os espaços, inclusive nas redes sociais. Lá, a luta é dura porque, como os donos do capital controlam as plataformas, as notícias sobre as lutas e rebeliões dos trabalhadores não circulam tão amplamente. É a chamada “ditadura do algoritmo”. Provavelmente já ouvimos falar muitas vezes sobre a "ditadura de Maduro", mas raramente sobre os bilionários que controlam a mídia e decidem o que vemos nas telas dos nossos celulares. Por isso, quase não veremos nada sobre a resistência heróica do povo palestino contra o genocídio promovido por Israel, enquanto veremos postagens de muitas pessoas defendendo Israel e retratando o povo árabe como uma nação de criminosos.
Também veremos inúmeras lamentações de Bolsonaro e seus filhos exigindo anistia, mas raramente veremos a lembrança das lamentações e do desespero daqueles que sofreram o abandono do Estado durante a pandemia. Mais de 800.000 pessoas morreram devido à negligência daqueles que agora choram porque estão prestes a enfrentar a justiça.
O mesmo pode ser dito das ações do milionário/presidente dos Estados Unidos, que vem cometendo atrocidades desde que assumiu o poder naquele país. Ele ameaça invadir países, censura professores, faz prisões ilegais e usa leis de guerra para enviar imigrantes para prisões em El Salvador; Tudo isso é apresentado como simples “notícias”, sem acrescentar nenhum tipo de adjetivo a Donald Trump. Imagine se Nicolás Maduro, que fez isso, ou qualquer outro presidente de qualquer país, saísse: eles seriam tachados de loucos, tiranos, ditadores.
Obviamente, isso não é surpreendente para aqueles que sabem como o mundo progride e como a luta de classes se expressa. Mas, como grande parte da população continua alheia a esse debate, as "notícias" espalhadas nas redes sociais e na mídia são apenas informações desconexas que causam um rebuliço momentâneo, mas que imediatamente se dissolvem no ar assim que surge algo mais interessante do que política, talvez alguma fofoca sensacionalista envolvendo uma celebridade.
Na semana passada, por exemplo, a Argentina testemunhou protestos em larga escala dos aposentados do país, que estão passando por uma crise profunda, perdendo seu poder de compra e sofrendo com a pobreza extrema. Alguns posts sobre a marcha, a ação policial e pronto. Quase não há menção ao governo de Javier Milei, que vem desmantelando o país e a vida dos trabalhadores. Pelo contrário, quando o nome do sujeito surge, é para dizer algo bom sobre ele, mesmo com todas as evidências de que esse presidente roubou a nação, abusou da confiança das pessoas e fez propaganda de investimentos podres.
Aí continuamos, nesse caminho pedregoso de luta sem fim, cujo objetivo é informar o trabalhador para que ele se perceba dentro dessa batalha contra a classe dominante. Por fim, há muitos que adotam o discurso dos ricos e poderosos como se fosse seu. Eles não se consideram parte da classe dominada e defendem aqueles que os oprimem. Considere que há aqueles que, sendo trabalhadores, abraçam a bandeira israelense em defesa do genocídio palestino, acreditando ingenuamente que os árabes são bandidos por natureza, ou defendem Trump como o salvador da pátria, quando na verdade é ele quem está destruindo as possibilidades de vida nos países dependentes. Há quem adore Bolsonaro, sem entender que ele é apenas um gestor da classe dominante, buscando extrair o máximo que pode para seu próprio benefício, sem considerar a população. Há quem ame Elon Musk, acreditando que ele seja um benfeitor da humanidade.
Tudo isso é a luta de classes se expressando. Daí a importância da consciência de classe, que é justamente saber onde estamos no grande jogo do capital. Se somos da classe trabalhadora, precisamos saber exatamente o que devemos fazer historicamente, quais são nossos interesses, que posição devemos tomar, que bandeiras devemos defender. No mundo capitalista, os donos do capital – a classe dominante (burguesia) – são um pequeno número de pessoas (1%) que acumulam quase toda a riqueza do mundo. Os 99% restantes dos seres humanos pertencem à classe trabalhadora, aqueles que só têm seus corpos, sua força de trabalho, para vender. Então por que eles não se rebelam? Por que eles defendem seus opressores? Porque eles não têm consciência de classe. E os ricos? Ah... eles têm consciência de classe... e defendem seus interesses em todos os momentos.
Esta é a nossa árdua tarefa: revelar o que está oculto, desvendar os interesses da classe dominante, que não são os nossos, buscar a raiz dos problemas e tragédias que afligem os trabalhadores para que, por meio da reflexão crítica sobre a realidade, a consciência de classe possa emergir. Veja-se como um trabalhador, como parte de uma classe explorada e oprimida e, a partir daí, caminhe em direção à transformação.
É fato que nos tempos atuais o volume excessivo de informações — muitas delas mentiras ou ideologia da classe dominante — tem dificultado esse processo. Mas não devemos perecer. O mundo muda e se transforma por meio da luta, e a mudança chega mais cedo ou mais tarde. Temos duas opções: ou ficamos sentados e choramingamos enquanto o processo continua, ou apressamos a chegada da vitória na batalha da vida.
Os desafios são grandes, mas quando não foram? Pense nos servos das glebas feudais enfrentando os nobres, ou nos escravos enfrentando os ladrões de corpos e vidas... Não havia tempo para lamentar, assim como não temos agora. Quando há consciência de classe, as pessoas avançam, de espada na mão, lutando contra os vilões.
Então, como diria Artigas: Vamos atacar!

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