Emoções positivas têm sido menos estudadas do que emoções negativas, como o medo, que "têm correlatos comportamentais óbvios, como paralisia ou fuga, fáceis de observar e mensurar", de acordo com um estudo. Foto de Martin Surbeck / Projeto de Pesquisa Kokolopori Bonobo via AP
Paris. O riso ajuda os bonobos, macacos cujas vocalizações durante as brincadeiras geram emoções que influenciam seu comportamento, a ver a vida pelo lado positivo, sugere um estudo.
"Sabe-se que as emoções influenciam uma ampla gama de funções cognitivas, incluindo memória, atenção e tomada de decisões", disse à AFP Sasha Winkler, coautora do estudo publicado quinta-feira na Scientific Reports.
No entanto, as emoções positivas têm sido menos estudadas do que as emoções negativas, como o medo, que "têm correlatos comportamentais óbvios, como o congelamento ou a fuga, que são fáceis de observar e medir", observa o pesquisador de antropologia evolucionária da Universidade Duke, nos Estados Unidos.
Segundo o especialista, esse viés na pesquisa também se deve à "relutância em atribuir emoções aos animais".
O riso é tradicionalmente considerado uma característica humana exclusiva.
No entanto, há muitas semelhanças entre isso e os sinais emitidos por outros animais durante as brincadeiras.
Os grandes símios produzem vocalizações semelhantes a risadas quando lhes fazem cócegas ou durante brincadeiras violentas, assim como as crianças humanas.
Essas vocalizações compartilham uma origem evolutiva comum com o riso humano, e os cientistas acreditam que elas servem para reduzir o risco de a brincadeira ser interpretada como agressão.
Em vez disso, eles seriam o veículo de contágio emocional, um processo pelo qual sinais emocionais emitidos por um indivíduo desencadeiam estados semelhantes em outros.
Para testar a influência do riso, os autores do estudo conduziram um experimento com bonobos na Ape Cognition and Conservation Initiative em Des Moines, EUA.
Empatia
Esse experimento exigiu ensaios de dois a quatro meses.
"Um dos principais desafios era que os bonobos só participavam se quisessem: eles podiam deixar o grupo voluntariamente para participar de sessões em outra sala", explica Winkler.
Mali, uma bonobo fêmea de 14 anos, e Teco, Nyota e Kanzi, três machos de 12, 24 e 41 anos, foram primeiro familiarizados com uma caixa preta contendo comida e uma caixa branca vazia.
Os pesquisadores os ensinaram a se afastar da caixa branca, que não tinha recompensa.
Eles então adicionaram aleatoriamente três caixas de cores ambíguas, do cinza claro ao cinza escuro, que continham comida apenas em metade das caixas.
Em alguns testes, eles tocaram gravações de risadas de bonobos, enquanto em outros eles tocaram apenas o som do vento.
Os bonobos se aproximaram da caixa preta em 93% dos casos e da caixa branca em apenas 1%.
Quando confrontados com as caixas cinzas, eles se aproximavam das caixas escuras com mais frequência do que das claras. Mas eram três vezes mais propensos a verificar as caixas cinzas quando ouviam risadas.
"Eles tendiam a se comportar de forma mais otimista", resumem os autores.
Esses resultados apoiam a teoria de que os sinais comunicativos "evoluíram principalmente para modificar o comportamento dos destinatários, influenciando seus estados afetivos, em vez de transmitir informações precisas", diz Winkler.
"O fato de que simplesmente ouvir o riso, sem qualquer contexto visual ou social, pode influenciar a tomada de decisão dos bonobos mostra o quão abrangentes esses efeitos emocionais podem ser", acrescenta.
O contágio emocional é considerado um componente essencial da empatia, que desempenha um "papel importante na evolução dos comportamentos pró-sociais, permitindo a cooperação em larga escala observada nas sociedades humanas", continua o antropólogo.
"Compreender quando nossos ancestrais comuns com outros grandes primatas desenvolveram esses aspectos de empatia tem implicações importantes para entender melhor nossa própria sociabilidade", ele enfatiza.

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