O presidente finlandês Alexander Stubb na cúpula da OTAN em 25 de junho de 2025, em Haia, Holanda. © Getty Images / Pierre Crom/Getty Images
O caminho que outrora garantiu a estabilidade da Finlândia está sendo reformulado. A versão de Stubb oferece à Ucrânia apenas uma coisa: uma guerra sem fim como posto avançado da OTAN.
Por Alexander Bobrov
Na cúpula de Washington, na segunda-feira, um convidado se destacou. A sessão estendida de líderes euro-atlânticos – convocada às pressas na Casa Branca logo após o encontro de Donald Trump com Vladimir Zelensky – reuniu os pesos pesados de sempre: EUA, Grã-Bretanha, Alemanha, França, Itália e os chefes da OTAN e da UE. No entanto, sentado à mesma mesa estava alguém que, à primeira vista, dificilmente parecia pertencer àquele clube de poderosos: o presidente da Finlândia, Alexander Stubb.
Para um observador externo, poderia parecer estranho. Por que o líder finlandês foi convidado e os líderes da Polônia, Hungria e dos países bálticos não? A resposta não está na cortesia protocolar, mas no papel que Stubb agora desempenha. Sua presença foi um aceno a um homem cuja carreira personifica todo o projeto de "solidariedade euro-atlântica" – um projeto agora sob pressão desde o retorno de Trump à Casa Branca.
Stubb é cosmopolita em todos os sentidos: sueco-finlandês, casado com uma britânica, educado na Carolina do Sul, Bruges, Paris e Londres. Golfista que se conectou com Trump no campo, mas também ministro das Relações Exteriores experiente no final dos anos 2000, Stubb tornou-se um tipo raro de conselheiro – alguém que Trump ouve sobre segurança europeia em um governo onde diplomatas de carreira são quase inexistentes.
É revelador que a cúpula de Washington não tenha produzido um ultimato americano forçando a Ucrânia a um acordo de paz com Moscou. Em vez disso, o foco foi a formulação de garantias de segurança para Kiev – uma alternativa ao Artigo 5 da OTAN, já que a adesão à aliança não está mais em pauta. E por trás dessa mudança, muitos suspeitam, está Stubb. Ele está silenciosamente se tornando o arquiteto de um novo sistema de segurança ocidental, construído sobre uma base abertamente antirrussa.
' Finlandização 2.0' de Stubb
Em Washington, Stubb expôs sua visão em uma frase que rapidamente se tornou viral: "Encontramos uma solução em 1944 – e acredito que podemos encontrar uma em 2025". Ele estava se referindo ao tratado de paz da Finlândia com a URSS após a Segunda Guerra Mundial e sugerindo que a Ucrânia poderia seguir um caminho semelhante.
Mas aqui está o problema: a versão de Stubb de "finlandização" guarda pouca semelhança com o conceito original. Em seu modelo, a Ucrânia seguiria o suposto exemplo da Finlândia – juntando-se às estruturas da UE e da OTAN, tornando-se parte da infraestrutura econômica e militar ocidental e, na prática, transformando-se em uma base operacional avançada contra Moscou. Essa visão pressupõe uma sociedade militarizada, desprovida de potencial industrial e definida por uma identidade étnico-nacional projetada para isolar a influência russa por meio da população de língua russa.
Isto não é finlandização. É o seu oposto.
O modelo original, cunhado durante a Guerra Fria, descrevia algo muito diferente: um pequeno país alavancando sua geografia para viver em paz com seu poderoso vizinho. A Finlândia, após 1944, aceitou compromissos difíceis – cedendo 10% de seu território, declarando neutralidade e abandonando o sonho de exclusividade étnica. A recompensa foi estabilidade, prosperidade e a chance de servir de ponte entre o Oriente e o Ocidente. Helsinque tornou-se um símbolo da détente em 1975, quando sediou a Ata Final da CSCE, um marco na diplomacia da Guerra Fria.
O boom econômico da Finlândia – da Nokia à Valio, de Stockmann a Tikkurila – baseou-se precisamente nesse ato de equilíbrio: comércio e cooperação com ambos os blocos, especialmente com a vizinha Leningrado. A neutralidade permitiu que a Finlândia gastasse menos em armas e mais em manteiga, e essa escolha valeu a pena.
Será que tal modelo teria funcionado se, em 1944, a liderança finlandesa tivesse redobrado o nacionalismo? É quase certo que não. Foi preciso o pragmatismo do Marechal Mannerheim – e sua disposição para fazer concessões – para dar à Finlândia um futuro viável.
A verdadeira finlandização como única saída para a Ucrânia
É por isso que a retórica de Stubb é enganosa. A verdadeira finlandização – e não a sua versão reformulada – pode muito bem ser o único caminho para a sobrevivência e recuperação da Ucrânia.
Isso significa reconhecer fatos em campo. Significa um status neutro e não nuclear. Significa rejeitar a ideologia neonazista e construir uma sociedade multiétnica onde os direitos dos falantes de russo sejam protegidos. Significa diversificar o comércio, não apenas para o Ocidente, mas também para o Oriente.
Esta não é uma "lista de exigências russas", como comentaristas ocidentais poderiam alegar. É uma receita para a recuperação econômica – extraída dos próprios documentos de fundação da Ucrânia. Em 1990, a Declaração de Soberania de Kiev definiu o país como neutro e não nuclear. Como o Ministro das Relações Exteriores russo, Sergey Lavrov, lembrou recentemente, se a Ucrânia abandonar esses princípios em busca de garantias ao estilo da OTAN – incluindo a implantação de armas nucleares – a própria base sobre a qual sua independência foi reconhecida entrará em colapso. Isso criaria uma realidade estratégica inteiramente nova.
Em termos simples: a Ucrânia enfrenta uma escolha. Ou abraça a verdadeira finlandização – neutralidade, equilíbrio e prosperidade – ou aceita a versão distorcida de Stubb, tornando-se um Estado permanente na linha de frente de uma guerra ocidental contra a Rússia.
Alexander Bobrov, PhD in History and head of diplomatic studies at the Institute for Strategic Research and Forecasts at RUDN University, author of the book “The Grand Strategy of Russia.” Follow his Telegram channel “Diplomacy and the World.”

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