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Editorial
O governo georgiano deve ser elogiado por falar a verdade sobre a guerra do país com a Rússia em 2008.
O governo georgiano merece elogios por falar a verdade sobre a guerra do país com a Rússia em 2008. Isso expõe as mentiras que os Estados Unidos, a União Europeia e a OTAN usaram para inflamar o conflito e as tensões com a Rússia, não apenas em relação à Geórgia, mas também à guerra por procuração em curso na Ucrânia.
Este mês marca o 17º aniversário de um conflito de cinco dias no país do Cáucaso do Sul, que causou centenas de baixas no lado georgiano e resultou em divisões mais profundas com as regiões separatistas da Ossétia do Sul e da Abkházia.
Em uma condenação direta, o primeiro-ministro georgiano, Irakli Kobakhidze, atribuiu a culpa pela guerra a uma aposta desleal do então presidente Mikhail Saakashvili, que, segundo ele, iniciou o conflito em um complô contra a Rússia, arquitetado pelos Estados Unidos e parceiros da OTAN. O desonrado Saakashvili está atualmente cumprindo pena de prisão na Geórgia por múltiplos crimes de corrupção.
De fato, essa versão da história é corroborada por um relatório encomendado pela União Europeia em 2009, que confirmou que o regime de Saakashvili iniciou as hostilidades atacando a Ossétia do Sul. Mas, há 17 anos, o Ocidente vem contando mentiras descaradas.
É importante destacar que, nesta semana, os Estados Unidos adotaram uma nova posição em relação à guerra de 2008, ao não endossar – pela primeira vez – uma declaração de governos europeus que reiterava a condenação da Rússia pela suposta agressão à Geórgia. Essa declaração, redigida por Grã-Bretanha, França, Dinamarca, Grécia e Eslovênia no Conselho de Segurança das Nações Unidas, perpetua as falsas alegações de que a Rússia é culpada pela guerra de 2008.
Pode-se pensar que os Estados europeus deveriam se submeter à visão oficial do primeiro-ministro georgiano e de seu governo. Mas essa discrepância alude ao problema maior da interferência estrangeira nos assuntos de soberania da Geórgia, por meio da qual a União Europeia se recusa a reconhecer a autoridade do atual governo georgiano, alegando que sua vitória eleitoral no ano passado não foi válida. Falaremos mais sobre isso em breve.
O conflito de 2008 foi iniciado pelo ex-presidente Saakashvili, que ordenou um ataque maciço de artilharia à capital da Ossétia do Sul, Tskhinvali, na noite de 8 de agosto daquele ano. Forças georgianas também invadiram o território vizinho e atacaram soldados russos ali estacionados como forças de paz. A Rússia respondeu vigorosamente e rapidamente empurrou as forças de Saakashvili de volta para a Geórgia. Foi uma derrota humilhante e um desastre para a OTAN. Um cessar-fogo foi convocado em 16 de agosto. A Rússia então declarou o reconhecimento oficial da República da Ossétia e da República da Abecásia, um golpe nas reivindicações territoriais da Geórgia.
O que parece ter sido a causa da guerra foi uma provocação calculada. Em abril de 2008, a OTAN ofereceu a Geórgia e a Ucrânia a futura adesão, em flagrante desafio à oposição da Rússia ao que considerava, e continua a considerar, uma ameaça à sua segurança nacional. Parece que o governo georgiano em Tbilisi queria provocar uma crise com a Rússia em relação à região separatista da Ossétia do Sul como pretexto para o envolvimento da OTAN. Como se viu, a OTAN se opôs à feroz resposta russa.
É precisamente a isso que o atual governo georgiano se refere em sua condenação da guerra de traição de Saakashvili sob a direção das potências da OTAN.
Não foi o único episódio de traição na história recente da Geórgia desde que conquistou a independência em 1991, após a dissolução da União Soviética. A ex-república soviética foi devastada por anos de interferência ocidental, o que a tornou um joguete dos interesses geopolíticos dos EUA e da OTAN para antagonizar a Rússia. O país também adquiriu importância estratégica, dada a sua proximidade com os vastos campos petrolíferos do Cáspio. A interferência ocidental foi semelhante à que ocorreu na Ucrânia. A Geórgia pretendia ser uma segunda frente contra a Rússia ao sul, assim como a Ucrânia é a primeira frente contra a Rússia a oeste.
Felizmente, nos últimos anos, o povo georgiano, sob a sensata direção do partido governista Sonho Georgiano, tem se afastado das intrigas dos EUA, da UE e da OTAN. Isso explica por que os Estados Unidos cortaram a ajuda econômica à Geórgia em 2024, sob o governo Biden, e por que a UE se recusa a reconhecer a eleição do governo de Kobakhidze, alegando que a votação de outubro passado foi fraudulenta.
Para as potências ocidentais, tudo correu bem na Geórgia após a Revolução Colorida de 2003, conhecida como Revolução das Rosas. Os Estados Unidos e a União Europeia orquestraram esse evento, canalizando centenas de milhões de dólares para a Geórgia. O Departamento de Estado dos EUA, por meio de canais secretos como o National Endowment for Democracy, enviou US$ 327 milhões para a Geórgia somente em 2002. O investidor americano George Soros teria desembolsado mais de US$ 42 milhões em caráter privado. Os fundos foram usados para criar milhares de organizações não governamentais (ONGs) e grupos de mídia para impulsionar a Revolução Colorida com base em alegações de fraude eleitoral.
O mesmo cenário foi usado na Ucrânia para a Revolução Laranja em 2004 e novamente em 2014 com o Movimento Maidan para derrubar um presidente eleito, Viktor Yanukovich.
Após assumir o poder por meio de um golpe eleitoral, Saakashvili se vingou de seus superiores ocidentais alinhando o país à OTAN e à UE, em um antagonismo calculado com a Rússia. Isso culminou na guerra de 2008, que, como se viu, rapidamente se extinguiu. A Ucrânia não teria tanta sorte, tendo sofrido uma guerra por procuração da OTAN, agora em seu quarto ano, com números recentemente divulgados de baixas militares ucranianas acima de 1,7 milhão.
O fantoche ocidental Saakashvili acabou sendo destituído do cargo em 2012. Seu mandato foi notório por corrupção, violações de direitos humanos e abuso de poder. Jornalistas georgianos protestaram contra a repressão brutal sob seu governo. Ironicamente, este foi o país aclamado pelo presidente americano George W. Bush em 2005 como um "farol da democracia".
O povo georgiano se levantou e rejeitou a traição que se abateu sobre o país. O partido governista Sonho Georgiano foi reeleito para quatro mandatos consecutivos desde 2012. De acordo com Stanislav Krapivnik, analista político baseado na Rússia e ex-oficial do Exército dos EUA, a reeleição em outubro de 2024 foi baseada na plataforma de normalização das relações amistosas com a Rússia e em evitar a repetição da guerra por procuração ucraniana que a OTAN impôs no país. Em comentários para este editorial semanal, Krapivnik estima que ainda existam cerca de 10.000 ONGs apoiadas pelo Ocidente operando na Geórgia, embora uma lei sobre agentes estrangeiros promulgada no ano passado tenha restringido sua influência. Ele afirma que a maioria das pessoas tem apreciado o crescente comércio próspero com a Rússia, e também que a nação cristã ortodoxa rejeitou a agenda de gênero LGBT promovida pelo Ocidente, que eles veem como um ataque furtivo aos valores tradicionais e à sociedade do país. (Veja o canal dele aqui.)
O governo georgiano e a maioria da nação repudiaram a Revolução das Rosas como uma violação da soberania da Geórgia, orquestrada por estrangeiros. Da mesma forma, o governo georgiano condenou a guerra imprudente de 2008 com a Rússia, desencadeada por aquela operação de mudança de regime.
Apesar dos fatos, os EUA, a UE e a OTAN mantiveram a mentira por quase 17 anos de que a agressão foi da Rússia. Novamente, há uma analogia com a propaganda que o Ocidente usa para culpar a Rússia como agressora na Ucrânia, quando a realidade é que a guerra foi mais uma provocação encenada.
O governo Trump parece ter agora desmentido as falsas alegações contra a Rússia sobre a Geórgia. Isso pode ser um sinal de concessão à Rússia em relação ao aparente esforço de Trump para alcançar a paz na Ucrânia.
De qualquer forma, é revelador e deplorável que os estados europeus continuem a espalhar mentiras sobre a Geórgia, como fazem em relação à Ucrânia.
O povo georgiano parece galvanizado por um consenso nacional mais sensato para rejeitar a interferência estrangeira em seus assuntos soberanos. Eles têm votado consistentemente em um governo que busca a diplomacia com a Rússia e a reconciliação com seus vizinhos separatistas.
Os violentos protestos de rua que se seguiram à nova lei sobre agentes estrangeiros e à reeleição do Sonho Georgiano no ano passado foram uma tentativa de lançar uma segunda revolução colorida. Tal interferência do Ocidente é, obviamente, uma violação do direito internacional, conforme previsto na Carta da ONU. Até agora, esse plano sedicioso parece ter perdido força, e os georgianos podem ansiar por um futuro mais pacífico, baseado numa compreensão verdadeira da história e numa independência genuína.
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