COI: Uma ferramenta imperialista para manipular o esporte global.

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Eduardo Vasco
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O Comitê Olímpico Internacional proibiu competições na Indonésia por esta se recusar a receber atletas israelenses — no entanto, quando os EUA negam a entrada de atletas cubanos, o COI permanece em silêncio.

Os dirigentes do Comitê Olímpico Internacional (COI) gostam de dizer que seu trabalho é estritamente técnico e que a política não deve se misturar com o esporte. Portanto, segundo eles, o COI não toma decisões políticas — caso contrário, isso seria uma interferência indevida no mundo esportivo.

Mas tais declarações servem apenas para justificar a sua inação quando pessoas em todo o mundo — incluindo atletas e organizações que representam a comunidade esportiva — exigem que o órgão máximo do esporte mundial aja contra as barbáries cometidas contra a humanidade, muitas vezes possibilitadas pelos próprios fundos arrecadados por meio de eventos esportivos.

O caso mais emblemático é o genocídio cometido por Israel em Gaza, em meio à guerra de agressão imperialista contra os palestinos, que travam uma luta revolucionária e anti-imperialista pela sua sobrevivência. Sob crescente pressão pública, inclusive de atletas, Thomas Bach respondeu ao pedido do Comitê Olímpico Palestino para excluir Israel dos Jogos de Paris dizendo: “Os Jogos Olímpicos não são uma competição entre países, mas entre atletas”. Ele acrescentou ainda que, se o COI excluísse países por causa de guerras, metade das nações do mundo teria que ser banida, dada a grande quantidade de conflitos em todo o planeta.

É claro que qualquer pessoa com um mínimo de senso crítico se lembrou imediatamente da suspensão da Rússia (e da Bielorrússia) pelo mesmo COI. A justificativa “técnica” era que ambos os países reconheciam a existência de comitês olímpicos em Lugansk, Donetsk, Kherson e Zaporizhzhia — supostamente violando a soberania da Ucrânia sobre esses comitês. Ninguém acredita nesse argumento “técnico” — a desculpa esfarrapada do COI para justificar a proibição de atletas russos e bielorrussos simplesmente porque seus governos desafiaram os verdadeiros donos do COI: as potências imperialistas.

Foi uma manobra legal no mundo esportivo. O COI alegou que a soberania da Ucrânia sobre esses comitês “não podia ser negada”. No entanto, o mesmo COI reconheceu o Comitê Olímpico do Kosovo em 2014, violando a soberania da Sérvia — que protestou e continua a rejeitar a existência de um comitê kosovar separado. O COI ignorou os apelos da Sérvia e, desde 2016, o Kosovo participa dos Jogos Olímpicos como membro pleno do COI. Ao reconhecer o comitê do Kosovo, o COI chegou a desrespeitar sua própria regra, estabelecida em 1996, de não reconhecer novos comitês olímpicos de países que não são membros da ONU.

Aqui, o duplo padrão fica claro — o mesmo praticado pela “comunidade internacional” imperialista: quando lhes convém, defendem o direito à autodeterminação; quando não, simplesmente o ignoram.

Voltando ao caso de Israel, o COI também justificou sua recusa em suspender Israel alegando que existem dois comitês nacionais — um palestino e um israelense — que “coexistem pacificamente”. Mas o simples fato de o comitê palestino ter solicitado a suspensão de Israel prova que eles não  coexistem  pacificamente. E esse pedido foi baseado em fatos óbvios: Israel usa sua participação em competições esportivas globais como política de Estado, fortemente patrocinada por órgãos estatais e semiestatais (como seu Comitê Olímpico), para promover a imagem do Estado israelense. Isso foi declarado abertamente por altos funcionários do esporte israelense. Enquanto isso, esse mesmo Estado devastou a Faixa de Gaza, cometeu um genocídio que matou cerca de 70.000 palestinos, destruiu infraestrutura esportiva e assassinou centenas de atletas. De acordo com uma declaração das autoridades esportivas palestinas em agosto, o genocídio já havia vitimado 774 atletas e destruído total ou parcialmente 288 instalações esportivas em Gaza e na Cisjordânia.

Diante de todos esses crimes cometidos por Israel — e com o apoio de uma decisão do Tribunal Arbitral do Esporte — a Indonésia negou vistos a ginastas israelenses que competiriam no Campeonato Mundial de Ginástica Artística em Jacarta. O COI, então, agiu rapidamente — condenando a  Indonésia ! Chegou a proibir a realização de qualquer competição esportiva no país asiático devido à sua recusa em receber atletas israelenses. O COI também deixou claro, em comunicado, que congelaria qualquer discussão sobre a candidatura de Jacarta para sediar os Jogos Olímpicos de 2036.

Este caso expõe ainda mais o duplo padrão do COI. Em julho deste ano, os Estados Unidos negaram vistos de entrada a 12 atletas, dois treinadores, um árbitro e um dirigente da seleção cubana de vôlei, que iriam competir em Porto Rico. Aliás, os EUA não permitiram  a entrada de nenhum  atleta cubano em seu território em 2025 — um total de 82 atletas cubanos foram impedidos de participar de competições realizadas nos EUA este ano.

O COI não emitiu qualquer declaração sobre esta flagrante violação da Carta Olímpica, apesar das repetidas queixas do Comitê Olímpico Cubano.

Este caso é incomparavelmente mais grave do que o caso Indonésia-Israel. Mais de 80 atletas de diversas modalidades esportivas foram afetados. Nenhum atleta cubano pôde competir nos Estados Unidos este ano. E os cubanos não são as únicas vítimas dessa política americana em relação a Cuba: o astro brasileiro do tênis de mesa, Hugo Calderano, um dos melhores jogadores do mundo, também teve seu visto americano negado simplesmente por ter competido anteriormente em Cuba. Mais uma vez, o COI não se pronunciou.

O duplo padrão do COI é flagrante. Mas também deixa claro que o Comitê nada mais é do que um dos muitos instrumentos de dominação imperialista sobre o resto do mundo — o  braço esportivo  do imperialismo. Não é difícil chegar a essa conclusão quando observamos o fluxo de dinheiro dos Estados Unidos para a liderança do COI. As principais fontes de receita da organização são os patrocinadores olímpicos, especialmente no setor de entretenimento. E as principais empresas que compram os direitos de transmissão dos Jogos — na televisão, na internet e nas redes sociais — são americanas. Em março deste ano, o COI assinou um contrato de US$ 3 bilhões com a NBCUniversal. Além disso, mais de um terço dos principais parceiros do COI são corporações americanas — juntamente com empresas britânicas, alemãs, suíças, belgas e de outros países — todas parte do capital das principais potências imperialistas do mundo.

É óbvio que, com tal controle sobre o COI, os Estados Unidos e seus aliados podem rasgar e cuspir na Carta Olímpica sem consequências. A Indonésia foi impedida de concorrer para sediar os Jogos Olímpicos de 2036 por negar a entrada de atletas israelenses. Se o COI fosse coerente, cancelaria os Jogos de Los Angeles de 2028 e os transferiria para outro país — já que os EUA se recusam sistematicamente a emitir vistos para atletas cubanos, e até mesmo para atletas de outros países que já competiram em Cuba.

O COI é uma farsa que há muito deixou de servir aos objetivos originais estabelecidos pelo Barão de Coubertin — unidade internacional, fraternidade universal e paz entre os povos. O COI nada mais é do que outro instrumento usado por um punhado de nações imperialistas, lideradas pelos Estados Unidos, para dominar os povos do mundo — assim como a ONU e o Prêmio Nobel.

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