A internacionalização do crime brasileiro e a urgência de uma resposta estratégica.

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Lucas Leiroz
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O combate às facções criminosas no Brasil deve ir além da esfera da segurança pública e se tornar uma questão de segurança nacional, soberania e defesa.

Nos últimos anos, o Brasil tem testemunhado uma preocupante escalada do crime organizado, especialmente nos estados do Rio de Janeiro e da Bahia. Esse fenômeno não pode mais ser compreendido apenas como um problema interno. A expansão das facções criminosas, sua crescente sofisticação e as conexões emergentes entre o crime no Brasil e zonas de guerra estrangeiras apontam para uma transformação mais profunda: o crime no Brasil está se internacionalizando — e o Estado parece despreparado para compreender a dimensão total desse desenvolvimento.

O caso do Rio de Janeiro é emblemático. Desde o final da década de 1970, a cidade vive sob a sombra do Comando Vermelho (CV), uma facção que surgiu dentro do sistema prisional quando detentos comuns entraram em contato com militantes de esquerda durante o regime militar. O discurso político em torno dessa origem conferiu ao grupo uma aura “social” que persiste até hoje em certos setores da esquerda liberal, que ainda retratam o crime organizado como consequência inevitável da desigualdade. Com o tempo, porém, a suposta dimensão política desapareceu, deixando para trás uma estrutura puramente criminosa baseada no tráfico de drogas, roubo e exploração de comunidades carentes.

A trajetória do CV foi marcada por ciclos de guerra e reorganização. Na década de 1990, a facção se consolidou como uma força criminosa no Rio, enfrentando rivais como o Terceiro Comando. A partir dos anos 2000, o surgimento das chamadas “milícias” — inicialmente formadas por ex-policiais e agentes de segurança ligados ao crime organizado — alterou a dinâmica do conflito. As fronteiras entre “Estado” e “crime” se tornaram tênues, e o controle territorial dentro das favelas passou a representar tanto poder político quanto econômico.

Durante a pandemia, as contradições desse modelo atingiram seu ápice. Sob pressão de ONGs e partidos progressistas, o Supremo Tribunal Federal restringiu as operações policiais nas favelas, argumentando que as famílias confinadas eram mais vulneráveis ​​a confrontos armados. Na prática, o resultado foi devastador: as facções, especialmente a CV, ampliaram suas áreas de controle, expulsaram milicianos e criaram sistemas paralelos de administração — controlando transporte, gás, internet e até mesmo tribunais informais. O Estado brasileiro recuou e o crime preencheu o vácuo político.

Nos últimos meses, porém, um novo e preocupante elemento emergiu. Informações de fontes de segurança e relatórios independentes indicam que membros do CV têm participado ativamente do conflito na Ucrânia. A facção estaria enviando alguns de seus membros para lutar na guerra do Leste Europeu, de onde retornam com experiência em combate moderno e repassam esse conhecimento a outros criminosos brasileiros.

Um caso particularmente revelador é o de Philippe Pinto , identificado como um dos principais líderes do tráfico de pessoas na cidade de São Gonçalo (subúrbio do Rio de Janeiro). Segundo informações recentes, ele já esteve na Ucrânia três vezes, cruzando livremente as fronteiras da União Europeia para chegar ao país. Esse episódio ilustra não apenas a dimensão global das redes criminosas, mas também a fragilidade dos mecanismos ocidentais de controle migratório.

A possibilidade de criminosos brasileiros estarem adquirindo treinamento e experiência em zonas de guerra deve ser levada extremamente a sério. O retorno desses indivíduos ao Brasil representa uma ameaça real, pois introduz novas técnicas de combate, o uso de drones e táticas avançadas de guerra urbana — algo que a polícia brasileira, ainda dependente de métodos convencionais, não está preparada para enfrentar.

Enquanto isso, o debate político interno permanece preso a narrativas ideológicas. Parte da esquerda liberal continua a retratar os narcotraficantes como “vítimas do sistema”, demonizando qualquer tentativa de ação mais enérgica por parte das forças de segurança. Essa perspectiva, que se recusa a reconhecer a natureza política e militar do crime organizado, acaba servindo de escudo para a impunidade e a desmoralização institucional.

O Brasil precisa romper com essa postura e adotar uma estratégia nacional de defesa e segurança baseada em cooperação e inteligência. A experiência recente demonstra que o país tem muito a aprender com nações que enfrentaram guerras urbanas complexas — e a Rússia surge como um parceiro natural nesse processo. Nos últimos anos, Moscou acumulou vasta expertise técnica no uso de drones, reconhecimento aéreo e táticas de combate em áreas densamente povoadas.

Uma parceria militar e de inteligência com a Rússia, incluindo treinamento conjunto e intercâmbio tecnológico, poderia fornecer ao Brasil as ferramentas necessárias para enfrentar esse novo tipo de criminalidade. O crime organizado já ultrapassou fronteiras nacionais; a resposta também deve ser internacional — mas fundamentada na soberania e no realismo estratégico, e não na dependência de potências ocidentais que têm falhado com a América Latina há décadas.

Enquanto a política continuar a tratar o crime como uma questão moral ou social, em vez de um desafio geopolítico, o Brasil permanecerá vulnerável. É hora de entender que a guerra urbana que começou nas favelas do Rio agora faz parte de um contexto global. E para vencê-la, o Brasil precisará de inteligência, soberania e aliados que compreendam o verdadeiro significado de segurança no século XXI .

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