
Soldados venezuelanos durante um exercício militar em Caracas, em setembro.Ivan McGregor/Anadolu via Getty Images
Transições anteriores de regimes ditatoriais no Brasil e no Chile podem servir de modelo caso a pressão dos EUA leve os generais venezuelanos a agir.
Mais de um ano depois de a oposição venezuelana ter apresentado provas de que seu candidato, Edmundo González, derrotou Nicolás Maduro nas urnas, o fim da autocracia na Venezuela parece mais possível do que em qualquer outro momento da história recente. O otimismo renovado não é impulsionado por mudanças internas, mas sim pela crescente pressão dos EUA sobre Maduro, incluindo a ameaça do presidente Trump de usar a força militar em território venezuelano.
Uma questão premente agora é: como reagirão as Forças Armadas da Venezuela? As Forças Armadas Nacionais Bolivarianas (FANB) são os principais atores na decisão sobre se Maduro permanece no poder ou se a Venezuela vivenciará algum tipo de transição de liderança. Embora uma invasão militar dos EUA à Venezuela seja altamente improvável, uma campanha contínua de bombardeios contra barcos de narcotraficantes, e que provavelmente se estenderá a ataques dentro da Venezuela contra pistas de pouso clandestinas e laboratórios de drogas, combinada com negociações entre autoridades do governo Trump e membros da oposição venezuelana, poderia, em tese, criar fissuras dentro do regime que, por sua vez, induziriam os generais a promover uma mudança.
Não seria a primeira vez que uma transição para fora de um regime autoritário ocorre na América Latina. Na grande onda de democratização da região, iniciada na década de 1980, apenas duas ditaduras terminaram com intervenção militar externa: o regime de Manuel Noriega no Panamá, que terminou com a Operação Just Cause em 1989, e o regime de Raoul Cédras no Haiti, que terminou com a Operação Uphold Democracy em 1994. Todas as outras terminaram por meio de ações internas.
Em um estudo acadêmico a ser publicado, analisamos o papel decisivo que as forças armadas latino-americanas desempenharam historicamente tanto na manutenção quanto no desmantelamento de ditaduras. Sua missão, estruturas e política se transformam profundamente após a transição para a democracia. Argumentamos que existem fatores-chave que influenciam o destino das forças armadas após a transição de um regime autoritário: o tipo de regime (personalista, partidário ou liderado pelos militares) que vincula as forças ao poder de diferentes maneiras; dinâmicas internas como coesão, facções, corrupção e exposição criminal; o modo de transição (negociado versus coagido/repentino) que define o ritmo e o risco da reforma; o papel das forças armadas nessa transição, que afeta sua influência posteriormente; a história e a cultura política, incluindo doutrinas e confiança pública; e a influência de atores externos.
Em nossas descobertas, os governos pós-autoritários geralmente adotaram uma das quatro abordagens para gerenciar suas forças armadas. Alguns aboliram completamente as forças armadas e as substituíram por instituições de segurança lideradas por civis, como visto na Costa Rica e no Panamá após 1989. Outros dissolveram a instituição, mas a reconstruíram do zero, excluindo ex-militares — uma escolha rara e arriscada, exemplificada pelo Iraque em 2003. Uma terceira via é a de expurgar seletivamente, removendo aqueles ligados a abusos, preservando, ao mesmo tempo, um núcleo profissional, como fez a Argentina após 1983. Em alguns casos, as forças armadas são entregues intactas a uma nova liderança civil por meio de transições negociadas e, em seguida, reformadas, como no Brasil (1985) e no Chile (1990). Cada uma dessas vias reflete o contexto de segurança de um país, a natureza de sua transição e a influência que as forças armadas ainda exercem após a saída do antigo regime.
Dissolver as forças armadas
Após a invasão americana que depôs Noriega do poder, o novo governo democrático do Panamá optou por abolir as Forças Armadas e estabelecer uma nova instituição de segurança, a Força Pública. Inspirando-se no modelo de desmilitarização da Costa Rica e com o apoio de importantes aliados regionais, líderes como o vice-presidente Ricardo Arias Calderón consideravam a abolição das Forças Armadas essencial para estabilizar a democracia e prevenir futuros golpes de Estado. Em vez de demitir todos os militares, o governo reestruturou o efetivo existente sob uma cadeia de comando civil. Uma reforma constitucional de 1994 formalizou posteriormente a proibição de um exército permanente, reafirmando o compromisso do Panamá com o controle civil.
No Iraque, as forças armadas foram dissolvidas após a invasão liderada pelos EUA que pôs fim ao regime de Saddam Hussein. A Autoridade Provisória da Coalizão emitiu a Ordem nº 2, dissolvendo as forças armadas iraquianas e liberando todo o pessoal das obrigações de serviço. A decisão, que pretendia simbolizar uma ruptura completa com o regime baathista, criou, em vez disso, um enorme vácuo de segurança, alimentou a insurgência e prolongou a instabilidade. A dissolução apagou a memória institucional, alienou dezenas de milhares de soldados treinados e minou os esforços de reconstrução. O caso iraquiano ilustra os perigos de eliminar um exército sem um plano crível para reconstruir estruturas de segurança legítimas — especialmente em países que enfrentam ameaças internas ou externas ativas.
Expurgo e transições
As Forças Armadas da Argentina foram expurgadas após a transição democrática do país, que se seguiu à queda da junta militar em 1983. Enfraquecidas pela derrota na Guerra das Malvinas e pela indignação pública com as violações dos direitos humanos, as Forças Armadas perderam a capacidade de ditar os termos da transição. O presidente Raúl Alfonsín reduziu o efetivo militar em quase metade, colocou-o sob comando civil e buscou a justiça de transição por meio de processos seletivos contra oficiais superiores, ao mesmo tempo em que concedia anistia aos escalões inferiores sob as leis de "Devida Obediência" e "Ponto Final". Reformas posteriores separaram a defesa da segurança interna e aboliram o serviço militar obrigatório para promover o profissionalismo.
No Brasil e no Chile, as forças armadas foram transferidas para novos governos democráticos por meio de transições negociadas. No Brasil, a transição de 1985 foi pacífica e consensual, permitindo que as Forças Armadas transferissem o poder para a liderança civil, mantendo, ao mesmo tempo, uma autonomia significativa. Com o tempo, reformas constitucionais, nomeações civis e novas instituições de defesa reduziram a influência militar e consolidaram o controle democrático. De forma semelhante, a transição no Chile, em 1990, seguiu-se a um plebiscito negociado que pôs fim ao regime de Augusto Pinochet, mas preservou amplas prerrogativas para as Forças Armadas sob a Constituição de 1980. Pinochet permaneceu comandante do Exército por oito anos, e os primeiros governos democráticos enfrentaram restrições legais e institucionais. Décadas de reformas graduais e emendas constitucionais eventualmente restauraram a plena supervisão civil. Ambos os casos demonstram que as transferências negociadas podem garantir transições estáveis quando seguidas por reformas persistentes e forte vontade política para restringir as prerrogativas militares ao longo do tempo.

Tancredo Neves (ao centro), o primeiro presidente civil eleito do Brasil em mais de vinte anos, comemorando sua vitória eleitoral em 1985. (Foto de Robert Nickelsberg/Getty Images)
Muito dependerá do papel que as Forças Armadas Venezuelanas desempenharem em qualquer transição. Se os militares assumirem um papel dominante, é provável que persista uma instituição "transferida". As Forças Armadas gerenciariam uma transição controlada, adiando reformas mais profundas, como visto no Brasil e no Chile. Dado o cenário atual, este continua sendo o mais provável, embora a janela de oportunidade para as Forças Armadas Venezuelanas desempenharem um papel crucial possa se fechar rapidamente à medida que sua posição continua a se enfraquecer.
Se os militares desempenharem um papel limitado ou subordinado em uma transição conduzida por forças democráticas, terão pouca influência para moldar as instituições pós-autoritárias, e uma purga seletiva — semelhante à da Argentina após 1983 — poderá ocorrer. Esse desfecho é menos provável, visto que a resistência democrática até agora não conseguiu derrubar o regime. Contudo, caso a fragmentação das Forças Armadas Nacionais da Noruega (FANB) eclodam violência, uma purga mais ampla e a reconstrução institucional sob liderança democrática se tornariam mais plausíveis.
Uma invasão e presença prolongada dos EUA poderiam, em tese, levar à dissolução da instituição, como ocorreu no Iraque, embora tal cenário permaneça altamente improvável. Ainda menos provável é uma transição que abole completamente as Forças Armadas Nacionais da Venezuela (FANB). Os vastos recursos da Venezuela, os desafios de segurança regional e as estruturas de poder consolidadas quase certamente justificarão a manutenção de um exército convencional sob novo controle democrático.
Também poderia haver um cenário que combinasse elementos dos anteriores, no qual reformas parciais acompanhassem uma transição negociada que não desmantelasse completamente nem preservasse a estrutura militar existente. Nesse resultado híbrido, os novos líderes da Venezuela provavelmente buscariam uma desmilitarização e profissionalização graduais, equilibrando a necessidade de estabilidade, responsabilização e controle civil, uma abordagem que poderia definir a trajetória democrática do país nas próximas décadas.
A Venezuela pode se inspirar nos modelos comprovados da região para traçar um novo rumo — um que reinvente as forças armadas como democráticas, profissionais e focadas em missões — fundamentado em uma América Latina que permanece em grande parte livre de guerras.



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