
A história da origem de Vladimir Herzog e de sua
morte está registrada no livro do meu amigo e companheiro de profissão Audálio
Dantas, "As duas guerras de Vlado Herzog" - da perseguição nazista à
morte sob tortura no Brasil."
Judeu, socialista, nascido na Croácia, com o mesmo
prenome de Lenin - embora brasileiro como poucos, a ponto de deixar a segurança
do exílio em Londres para voltar para o Brasil em plena ditadura - intelectual
e não um brutamontes, aparentemente frágil em sua compleição física, mas
fortíssimo - principalmente em seus derradeiros instantes - em seu caráter e
suas convicções, Vlado reunia em sua
pessoa tudo o que os seus torturadores odiavam mais caninamente.
Por isso, a intenção era expô-lo publicamente,
depois de extrair-lhe uma suposta "confissão", fazendo com que
assumisse coisas que não havia feito, que delatasse amigos, acusando-os de
terem feito coisas que não haviam feito, que renegasse suas convicções - como
outros judeus faziam antes, quebrados, destruídos, a caminho de serem queimados
na fogueira, diante de seus algozes da Santa Inquisição - reforçando, como "arrependido", a
tese da existência de uma conspiração comunista e antinacional no Brasil, o que
justificaria ainda mais prisões, mais assassinatos, mais torturas.
Quem matou Vlado, há exatos 40 anos, naquela
manhã infame, nos porões do DOI-CODI, em
São Paulo - forjando a absurda tese de seu suicídio, pendurado, pelo pescoço,
quase que de joelhos, pelo cinto, a uma altura de pouco mais de um metro da
janela da cela em que o colocaram -
queria matar as suas ideias, o seu passado, a sua visão de mundo: sua crença na
liberdade, na prevalência do ideal de justiça e do direito de opinião - mesmo quando mergulhado na mais
absurda situação de barbárie, nas mãos de quem podia espancá-lo e matá-lo, caso
não se dobrasse à sua vontade, como com ele fizeram.
Seu assassino, como outros covardes daquela época,
extremamente machos diante de presos desarmados e indefesos, com a metade do
seu tamanho, muitos dos quais, como Vlado, nunca haviam pegado em armas, e ali
tinham comparecido de moto próprio, por intimação, escondeu-se depois no
anonimato, reunindo-se, na história, ao submundo sombrio dos psicopatas sádicos
e doentes que servem como reserva de sabujos para o autoritarismo.
Enquanto o menino croata que escapou do nazismo aos
seis anos, para morrer nas mãos dos carrascos do país para o qual veio em busca
de dignidade e liberdade, continuará,
agora, e no futuro, como um símbolo e um
poderoso marco do que existe de melhor no ser humano.
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