"Não há limites para o golpismo. Que se troquem as fardas por togas dóceis”.
Foto: Fellipe Sampaio/SCO/STF
por Gilson Caroni Filho
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Como realizar uma tarefa desmedida, a
retomada da agenda neoliberal, se na direita nada há que não seja um imenso
vazio? A sua ideologia, incapaz de se reciclar, continua se apoiando em um
pensamento econômico que, além do fracasso retumbante, exige para sua
implantação, a derrocada das mínimas condições democráticas vigentes.
Para operar a demolição do país é necessário
modificar profundamente a estrutura de poder no Brasil. E não nos iludamos. O
protagonismo do judiciário, traduzido em confronto permanente com o Legislativo
e outras instâncias da organização republicana, nomeadamente, o Poder
Executivo, é peça central de uma onda golpista que tende a se acirrar em 2013.
É bom lembrar, como destaca a tradição
marxista, a capacidade das classes dominantes de deslocar o centro do poder
real de um aparelho para outro tão logo a relação de forças no seio de um deles
pareça oscilar para o lado das massas populares. A estratégia é restabelecer,
sob nova forma, a relação de forças em favor do capital rentista. É à luz da
perda de importância dos partidos conservadores, em especial do PSDB, que se
estabelece a proeminência das corporações midiáticas e de um STF por elas
pautado.
Não deve ser motivo de surpresa que os
membros dos dois campos (midiático e jurídico) se vejam empenhados em mudar as
regras formais do jogo político, inaugurando uma série de eventos dramáticos
com o objetivo último de deslegitimar o governo eleito pelo povo.
E por que tal empreitada ainda se
afigura no horizonte das viúvas do consórcio demotucano? Porque nossas elites
estão pouco acostumadas com a vida democrática, sendo incapaz de enriquecer o
debate político. A democracia, como todos sabemos, não prospera sem o
compromisso de todos com sua manutenção.
Seria preciso que a imprensa, o sistema
educacional, as lideranças empresariais e intelectuais apoiassem a ideia
democrática como única forma que legaliza e legitima o conflito. Nada mais
incompatível com a prática e o discurso que caracterizam a falange neoliberal
brasileira, forjada a ferro e fogo em uma formação autoritária secular que
considera a negociação de interesses opostos como fator impeditivo para a
adoção das medidas necessárias solicitadas pelo mercado. Estamos diante de
atores que, como sabemos há muito tempo, não recuam de medidas mais radicais
para a execução das tarefas a que se propõem: o desmonte do Estado e o
aniquilamento da cidadania.
A maior presença, dia a dia, do Poder
Judiciário reconstitucionalizando o direito ordinário à luz dos editoriais
(estatutos) da mídia corporativa, não é um episódio isolado, uma carta
encomendada apenas para o julgamento da Ação Penal 470. A nova direita
brasileira, cega e surda, arrogante e displicente, irá às últimas consequências
para o cumprimento de suas metas. Nem que para isso tenha que levar à
desmoralização o seu próprio braço parlamentar.
Não há limites para o golpismo. Se
dessa vez o estamento militar opera nos marcos da legalidade, não há problemas.
Que se troquem as fardas por togas dóceis. A margem de manobra é mínima, mas a
tentação é grande.
A tarefa mais urgente, pois, é
continuar mobilizando a vontade nacional, atuando em todos os movimentos
sociais organizados. É preciso deflagrar uma campanha orgânica de
desmistificação do noticiário envolvendo questões legais. Ao país interessa um
Poder Judiciário que, como guardião da
Constituição Federal, dinamize os instrumentos processuais constitucionais
previstos para garantir o funcionamento da democracia. E isso significa evitar
que o Estado volte a ser atropelado pela insanidade dos golpistas, ficando sem
condições para cumprir e fazer cumprir as leis.
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