Na Carta Capital
Leio o ensaio de Luiz Dulci, Um Salto para o Futuro, recém-publicado pela Editora Fundação Perseu Abramo. Destina-se a demonstrar que o governo Lula, do qual o autor participou ativamente, colocou o País no rumo do desenvolvimento. E demonstra. “Nem por isso os conservadores ressentidos – escreve Dulci – deixam de negar o óbvio. Democratizar a sociedade nunca será
Observo que o governo de Dilma Rousseff seguiu pelo
mesmo caminho, e de certos pontos de vista avançou mais ao desafiar os
interesses das oligarquias financeiras, enquanto esboça, juntamente com os
governos dos BRICS, a definição de uma área econômica e comercial livre das
influências do ex-Primeiro Mundo. As pesquisas de opinião mais recentes provam
com toda a nitidez que a presidenta iguala hoje a popularidade de Lula nos seus
tempos de governo.
Dilma não é uma plebeia impenitente. Mesmo assim, as
palavras de Luiz Dulci a respeito das reações dos “conservadores ressentidos” a
Lula valem também para a sucessora. O substantivo conservadores me soa,
contudo, muito condescendente, e até generoso. Há conservadores e
conservadores, e sempre houve, alguns notáveis. No Brasil trata-se é dos
senhores da casa-grande e dos aspirantes que vivem na mansarda. Qualquer
tentativa de demolir de vez a senzala eles a encaram como ataque frontal.
Aliás, segundo meus solertes botões, a demolição está apenas no começo.
Interessa-me sublinhar que o instrumento empregado
pela casa-grande para manifestar suas resistências e ojerizas irreparáveis,
quando não ódio no estado puro, é a mídia nativa, única no mundo por sua
capacidade de se unir de um lado só, qual fosse o Forte Apache, e de mandar às
favas a verdade dos fatos, como lamenta Luiz Dulci. Penalizado, entretanto, sou
forçado a experimentar amiúde a estranha sensação de que autoridades situacionistas,
inclusive parlamentares, gostam, com indisfarçável sofreguidão, de aparecer no
vídeo da Globo, nas páginas dos jornalões e nas amarelas da Veja.
Situação contraditória. Ou não? A mídia ataca noite
e dia, se for o caso inventa, omite e mente, e nem por isso tem êxito junto à
maioria dos brasileiros. Haja vista os tais índices de popularidade. Se
eleições fossem convocadas hoje, Dilma levaria no primeiro turno. É de
estranhar, portanto, que o malogrado aparto comunicador fascine graúdos alvejados
e goze de mesuras, afagos e contribuições em matéria. Polpudas. Aconselho aos
interessados a leitura da reportagem de capa desta edição, sem se esquecer de
passar os olhos sobre os números da publicidade governista garantida aos
maiorais da mídia nativa. À Globo, uma enxurrada de grana. Uma enchente.
CartaCapital, que não hesitou em criticar com a
devida aspereza a presidência de Fernando Henrique Cardoso, definiu seu apoio,
a exemplo do que acontece em países civilizados e democráticos, antes a Lula, depois
a Dilma. Escolha sincera, voltada em boa-fé aos interesses do País e dos
leitores, normal por parte de uma publicação que não vende a alma. Por causa
disso, fomos apresentados à plateia da casa-grande como “revista chapa-branca”.
Talvez fosse conveniente saber a opinião das damas e cavalheiros que se
incumbem da distribuição das benesses publicitárias governistas. Aposto em
surpresas. A categoria fecha com quem agride o governo, em nome de critérios
“técnicos” habilitados a transformar os agressores, estes sim em autênticos
chapas-brancas. Ao menos, desse específico ponto de vista, iluminado pelo
brilho do dinheiro.
Neste ínterim, deletam-se alegremente os planos do
ex-ministro Franklin Martins, democraticamente empenhado em limitar os alcances
dos oligopólios midiáticos. Não falta à mudança o pronto aval das piscadelas do
ministro Paulo Bernardo, personagem da capa.

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