Mr. Magoo, simpático
personagem de desenho animado criado nos Estados Unidos em 1949, é um velhote
que se mete em enormes confusões por ser praticamente cego. E aparece aqui
neste texto na cota de humor de um enredo de espionagem e ilegalidades
desenhado e comandado de gabinetes do Palácio das Esmeraldas, sede do governo
de Goiás, e sob as ordens do governador Marconi Perillo.
“Mr. Magoo” é o
codinome de um hacker, cuja identidade está prestes a ser desvendada pelo
Ministério Público Federal, contratado para operar uma rede ilegal de grampos
telefônicos, criar perfis falsos na internet e invadir a privacidade de dezenas
de adversários e até de aliados de Perillo.
O contato com o
hacker era intermediado por um casal de radialistas de Goiânia, Luiz Gama e Eni
Aquino.
Em 2011 e 2012, “Mr.
Magoo”, dono de uma “visão cibernética” invejável, ao contrário do personagem
do desenho, serviu ao esquema com grande eficiência.
A partir das
encomendas de Gama e Aquino por e-mails e mensagens diretas via Twitter, o
hacker montou um fenomenal arquivo de informações retiradas de computadores
invadidos e telefones celulares grampeados. Pelos serviços, recebia entre 500 e
7 mil reais, a depender da complexidade do trabalho e do alvo em questão.
O dinheiro saía de
duas fontes antes de passar pela mão do casal de radialistas, segundo
documentos obtidos por CartaCapital.
No início, o
responsável pelos pagamentos era o jornalista José Luiz Bittencourt,
ex-presidente da Agência Goiana de Comunicação. Na fase seguinte, a operação
passou a ser de responsabilidade de Sérgio Cardoso, cunhado de Perillo, atual
secretário estadual extraordinário de Articulação Política.
Além da participação
do governador e de assessores diretos no esquema de grampo e invasão de perfis
na rede mundial de computadores, as trocas de mensagens dos radialistas com
“Mr. Magoo” revelam que o governo de Goiás teria se utilizado de hackers
oriundos de São Paulo e Minas Gerais.
O radialista sustenta
ainda que parte desse serviço importado chegou ao estado por meio de um
contrato firmado com a SMP&B, agência de publicidade que pertenceu a Marcos
Valério de Souza, figura central dos escândalos dos “mensalões” do PT e do
PSDB.
Em um dos possíveis
crimes mais graves, Gama conta a “Mr. Magoo” que Bittencourt negociava a compra
de dados da Infoseg, a rede nacional de informações de segurança pública de
todos os órgãos policiais, de Justiça e de fiscalização do Brasil.
Depositária de
diversas informações altamente sigilosas, a Infoseg arquiva dados sobre
inquéritos policiais, processos, armas de fogo, veículos e mandados de prisão.
Guarda também
informações secretas sobre armas do Exército Brasileiro e dados da Receita
Federal, do Superior Tribunal de Justiça e da Justiça Federal, inclusive
aqueles referentes à Estratégia Nacional de Combate à Lavagem de Dinheiro e de
Recuperação de Ativos.
A administração do
sistema é de responsabilidade da Secretaria Nacional de Segurança Pública, do
Ministério da Justiça, mas os dados podem ser acessados por cerca de 80 mil
autoridades, sobretudo policiais, cadastradas em todo o País.
Segundo Gama, a base
de dados da Infoseg foi oferecida a “Zé Bitte”, apelido de Bittencourt, por 18
mil reais. Na parte de cima da mensagem copiada por “Mr. Magoo”, em 6 de março
de 2012, o hacker anotou: “Estão falando de um programa Infoseg de tempo real.
É um dicionário do cidadão brasileiro. Se nasceu e fez sombra, tem nesse
esquema”.
Pelas demais
mensagens trocadas entre os dois, não foi possível saber se a negociação chegou
a ser realizada ou não. Se houve a compra, Perillo pode ter cometido um crime
federal gravíssimo, de quebra de sigilo institucional contra a União.
CartaCapital teve
acesso a 450 das mensagens trocadas entre os radialistas e o hacker. O material
permite dimensionar a forma de operação do esquema. Elas foram entregues pelo
próprio “Mr. Magoo” ao publicitário Gercyley Batista, vice-presidente do
Partido Republicano Progressista de Goiás, diretor de criação da agência de
propaganda Canal, de propriedade de Jorcelino Braga, e ex-secretário de Fazenda
do governo Alcides Rodrigues, um dos maiores desafetos de Perillo no estado.
Batista mantém no
Twitter o perfil @Gersyley44, por meio do qual faz muitas e duras críticas ao
governador tucano. Por esse motivo, e por ser ligado a Braga, tornou-se um dos
principais alvos de Gama e Aquino. Por ordem do casal, “Mr. Magoo” foi instado
a invadir o computador de Batista e derrubar o perfil do publicitário no
Twitter, mais de uma vez.
Entre as atribuições
do hacker constava a montagem de uma rede de perfis falsos no Twitter, os
chamados fakes, a fim de garantir uma claque virtual de apoio a Perillo quando
o governador foi depor na CPI do Cachoeira, em 12 de junho de 2012.
Ao todo, o hacker
criou 92 perfis que infestaram a internet antes, durante e depois do depoimento
de Perillo. Na ocasião, o governador tentou explicar o inexplicável: a presença
maciça e a influência desmesurada da quadrilha do bicheiro Carlinhos Cachoeira
na administração pública de Goiás.
Na quinta-feira 25,
Batista foi à sede do Ministério Público entregar pessoalmente os arquivos
repassados por “Mr. Magoo”, além de cópias das mensagens trocadas
reservadamente pelo Twitter com o hacker.
No depoimento ao
procurador Hélio Telho, o publicitário relatou os contatos com “Mr. Magoo”,
todos realizados por meio da internet. Segundo Batista, o hacker identificou-se
como um estudante de Medicina de 22 anos que alegadamente passou a fazer o
serviço para pagar os estudos e auxiliar a mãe doente.
Telho já tinha
conhecimento informal da existência do material produzido pelo hacker, mas
esperava o depoimento de Batista para iniciar o processo de investigação.
Caberá ao procurador organizar as informações e enviá-las à Procuradoria-Geral
da República, em Brasília, de modo a viabilizar uma denúncia no Superior Tribunal
de Justiça, por conta do foro privilegiado de Perillo.
O tucano e seus
auxiliares envolvidos podem responder por peculato (crime cometido por servidor
público), improbidade administrativa e quebra ilegal de sigilos telefônicos e
telemáticos.
Segundo Batista, o
hacker entrou em contato via mensagem direta do Twitter nos primeiros meses de
2012, aparentemente preocupado com as consequências do serviço sujo. “Cheguei
ao nome do senhor porque me pediram, mais uma vez, para fazer serviços, e desta
feita contra o senhor e seus chefes, como vou lhe mostrar”, escreveu “Mr.
Magoo”, por meio de um perfil falso (@petrastoubas), em 22 de maio de 2012.
Logo depois, os dois
passaram a trocar e-mails, período em que o hacker teria descrito como eram
feitas as encomendas de invasão de perfis e grampos telefônicos a pedido de
Gama e Aquino.
O invasor fez questão
de se declarar hacker (especialista em invadir sistemas e modificá-los) e não
cracker (marginal virtual que rouba dados e senhas para utilizá-los de forma
criminosa), o que é desmentido pelas mensagens de Gama e Aquino. “Mr. Magoo”
fazia as duas coisas.
Ele confessou ter
recebido ordens para invadir o computador do publicitário, mas se declarou
arrependido. Para provar suas informações, passou a enviar cópias das mensagens
trocadas com os radialistas. “Ele queria saber quem estava certo ou errado
naquela história toda”, diz Batista.
Na verdade, “Mr.
Magoo” decidiu entregar o esquema após descobrir que Gama e Eni atrasavam os
pagamentos. E mais: a dupla embolsava parte do dinheiro destinado a ele. O
casal, narrou a Batista, cobrava 12 mil e só repassava 7 mil ao estudante.
Nos primeiros
contatos, “Mr. Magoo” tentou vender as informações ao publicitário. Este diz
ter recusado. Apesar da negativa, garante o denunciante, o hacker aceitou
revelar o esquema para provar não ser um blefe.
“Mr. Magoo”, afirma
Batista, pediu para que outros três alvos do esquema fossem avisados. São eles
o jornalista Altair Tavares e o administrador Carlos Buenos, funcionários da
Radio 730, e o ex-secretário Jorcelino Braga, antigo proprietário da emissora.
Por medida de
segurança, e por pavor da turma de Perillo, Batista diz ter apagado os e-mails
trocados com Mr. Magoo. Ele pretende, porém, solicitar ao Ministério Público
Federal a quebra de sigilo em suas contas no MSN (Microsoft) e Gmail (Google),
para provar a existência dos diálogos. O publicitário guardou as mensagens
reservadas trocadas pelo Twitter.
Perillo não concedeu
entrevista. Preferiu escalar João Furtado, seu chefe de gabinete, para rebater
as acusações. Furtado não soube precisar a data, mas garante ter dado ordem
para a Polícia Civil investigar a proliferação de perfis falsos nas redes
sociais. Infelizmente, o pedido tinha um viés. A polícia supostamente foi
escalada para levantar apenas as mensagens negativas contra o tucano.
“O governador, na
verdade, era vítima desses caluniadores”, afirma. Talvez por causa deste viés,
os investigadores, se é que investigaram algo, nunca chegaram a Gama e Aquino,
muito menos souberam da existência do hacker. Apesar de garantir o pedido de
apuração, Furtado nunca se interessou pelo resultado do trabalho policial.
Segundo o chefe de
gabinete, o casal de radialistas responsável pelo contato com “Mr. Magoo” não é
ligado ao governode Goiás nem recebeu ordens de Perillo para montar a central
ilegal de grampos, embora as mensagens obtidas por esta revista sejam claras
quanto à origem das solicitações. “Se o fizeram, foi por conta própria”,
afirma.
Para Furtado, as
referências a Bittencourt e Cardoso não passam de tentativa de “exploração de
prestígio”.
Gama e Aquino são
apresentadores do programa Papo de Bola na Fonte TV, emissora da Rede Fonte de
Comunicação, ligada à Igreja Fonte da Vida, um milionário culto pentecostal
fundado e administrado pelo “apóstolo” César Augusto de Sousa. Gama chegou a
ser chefe do departamento de jornalismo da empresa, mas acabou demitido no ano
passado por razões não esclarecidas.
Manteve, porém, o
espaço terceirizado do programa esportivo apresentado em companhia da mulher.
Tanto o “apóstolo” quanto seu filho, o pastor Fábio Sousa, deputado estadual
pelo PSDB, foram grampeados por “Mr. Magoo”, segundo consta das mensagens.
Apesar dos reiterados
pedidos de entrevista, Sousa preferiu o silêncio. O mesmo fez o casal de
radialistas acusados de operar o esquema. Gama achou melhor contra-atacar na
internet. No Twitter, declarou-se vítima de “pistoleiros virtuais”.
A seguir, detalhes da
central de grampo que não poupou aliados ou subordinados de Perillo.
“O cabra poderoso”
Apesar de manterem
contato com “Mr. Magoo” desde agosto de 2011, apenas depois da Operação Monte
Carlo, operação da Polícia Federal que desbaratou a quadrilha do bicheiro
Carlos Cachoeira, Gama e Aquino intensificaram o relacionamento com o hacker.
Nas redes sociais, a proximidade entre o governador de Goiás e o contraventor
tornara-se assunto recorrente.
O hacker começou a
ser sondado para um serviço inicialmente não definido. Em 27 de março, Gama
decidiu abrir o jogo. Durante a troca de 28 mensagens entre 12h53 e 16h20, o
radialista revelou o nome do verdadeiro chefe do esquema, não sem antes criar
um clima de mistério.
“Ele”, escreve Gama,
queria o hacker no esquema “para sempre”. “O cabra é poderoso”, anota em outra
comunicação. A revelação viria às 14h39.
“Na verdade, é o
governador Marconi Perillo”, informa ao hacker. “Ele precisa de um cara craque
assim como você. Ele é muito atacado.”
A partir desse ponto
e até a última mensagem, Gama discorre sobre as vantagens de trabalhar para o
governo (“arrumar a sua vida”), da necessidade de se manter tudo em segredo
(“ele quer sigilo total”), do apoio logístico de primeira (“tudo teta pra você,
o que precisar de equipamento, rola”), da segurança das operações (“você será,
inclusive, protegido por todo o esquema dele”) e do status social (“fora a
moral que você vai ter”).
Às 15h46, o
radialista, eufórico com o desfecho da negociação, não se contém: “Vem aí… o
espião Magooo 007! KKKKKK. Vai ser show!”. Em várias mensagens, Gama insinua a
possibilidade de o hacker tornar-se funcionário do governo estadual. Em um
texto específico, Aquino chega a mencionar o possível salário: 15 mil reais.
Em 14 de abril, a
turma de Perillo se mostra preocupada com o movimento Fora Marconi,
desencadeado nas redes sociais e, em seguida, transformado em passeatas pelas
ruas de Goiânia. O movimento nasceu após reportagem de CartaCapital de 12 dias
antes intitulada “O crime no poder”.
O texto descrevia em
detalhes a influência da quadrilha de Cachoeira no governo de Goiás. “Tem como
derrubar o Fora Marconi?”, pergunta o radialista ao hacker. Não tinha. Mr.
Magoo escreve, no alto da mensagem, que a tarefa seria impossível, por causa do
grande número de servidores, equipamentos de armazenagem de dados, envolvidos.
Em contrapartida,
Gama pede ao hacker para dar um jeito de colocar a hashtag #ForçaMarconi nos
trend topics, o ranking de mensagens mais vistas do Twitter, em 21 de abril.
Caso conseguisse realizar o serviço, “Mr. Magoo” poderia passar no dia seguinte
para pegar “trezentinho” com o radialista.
Em 17 de maio, após
Perillo anunciar a disposição de depor voluntariamente na CPI do Cachoeira,
Gama enviou um pedido especial para “Mr. Magoo”: “Preciso de um cara que monte
uma rede de uns 100 perfis no TT (Twitter) e no face (Facebook). R$ 2 mil por mês
de salário”. Segundo o radialista, os perfis serviriam para “falar bem do
governo e do governador e quando for preciso atacar os adversários e aqueles
que nos atacam”.
A partir de então,
foram montados 92 perfis falsos para o dia do depoimento de Perillo na CPI do
Cachoeira, em 12 de junho, às 10 horas da manhã. “Preciso que a tag
#ForçaMarconi arrebente no Twitter na hora que ele estiver na CPI”, pede Gama
em 9 de junho.
Em 11 de junho, dia
anterior ao depoimento, Aquino entra em contato com “Mr. Magoo”, via mensagem
direta do Twitter. Ela avisa ao hacker que, na manhã seguinte, iria enviar as
frases a serem usadas nas redes sociais a favor do governador.
Às 4h24 do dia 12,
Gama envia as tags a serem seguidas no Twitter, a partir de uma hierarquia de
tempo: #EuConfioMarconi (antes), #MarconiEsclarece e #VerdadePerillo (durante),
e #EuAcreditoMarconi (depois). “Mete bronca com gosto de gás!”, escreve.
O vídeo da “grana
alta do Marconi”
Em 8 de maio de 2012,
Gama avisa “Mr. Magoo” que o secretário de Educação de Goiás, Thiago Peixoto,
foi gravado em vídeo quando recebia “uma grana alta do Marconi”. Ex-deputado
estadual pelo PMDB, Peixoto abandonou a legenda de Iris Rezende a convite de
Perillo para se candidatar em 2010 a deputado federal pelo recém-criado PSD.
Eleito, se licenciou e assumiu a secretaria.
O secretário é citado
na Operação Monte Carlo. Segundo a PF, ele teria repassado sigilosamente o
modelo das escolas goianas para o grupo de Cachoeira construir prédios iguais
e, depois, alugá-los ao estado. O vídeo, diz Gama, “ferra feio” o secretário.
O radialista
desconfia que a gravação tenha sido feita por encomenda do vereador Elias Vaz,
do PSOL de Goiânia, e de Adib Elias, do PMDB, candidato derrotado à prefeitura
de Catalão. O vídeo teria sido vendido ao jornal O Popular, de Goiânia.
Vaz, igualmente
citado no relatório da Monte Carlo após ser flagrado em conversas com Cachoeira
(a quem chama de “companheiro”), nega tudo. Diz não ter conhecimento sobre o
tal vídeo, e que não tem nenhuma intimidade com Gama. A assessoria do
secretário Peixoto, embora contatada pela reportagem, não respondeu aos pedidos
de informação.
A rede de pagamentos
Na troca das
mensagens fica claro que os pagamentos ao hacker sairiam da Agência de
Comunicação estatal sob o comando de José Luiz Bittencourt Filho, órgão
irrigado por muitas verbas públicas.
Só em 2012, a Agecom
gastou cerca de 150 milhões de reais em compra de espaço publicitário. O hacker
recebia o dinheiro de Gama e Aquino. O pagamento era feito normalmente na casa
do casal ou na sede da Fonte TV em Goiânia.
Em mensagem de 6 de
fevereiro do ano passado, Gama avisa a “Mr. Magoo” o propósito de colocá-lo em
contato com “um dos Bittencourt”, e diz ao hacker que “os caras são quentes e
gente boa, tudo campeão”. Referia-se a uma turma muito conhecida em Goiás: os
quatro irmãos Bittencourt, apelidados pelos adversários de “Irmãos Metralhas”.
O Bittencourt citado
nas mensagens é o chefe da Agecom. “Eles vão te contratar, um deles é José Luiz
Bittencourt. Cara quente!”, avisa. Os outros irmãos são Luiz Bittencourt,
ex-deputado federal do PMDB, João Bosco Bittencourt, assessor informal de
imprensa de Perillo, e Paulo Tadeu Bittencourt, diretor de Comunicação Social
da Assembleia Legislativa.
No dia seguinte, 7 de
fevereiro, Gama avisa ao hacker: os pagamentos passam à responsabilidade de
Sérgio Cardoso, cunhado de Perillo e secretário de Articulação Política.
Cardoso é outro citado na Monte Carlo.
Segundo a PF, o
secretário intermediou contratos sem licitação para a Delta Construções,
empreiteira-mãe da quadrilha de Cachoeira. “Sérgio é meu chegado”, tranquiliza
Gama.
Fraudes no Serasa e
outros crimes
Gama e Aquino ficaram
entusiasmados com a possibilidade de ter um hacker a seu serviço. O primeiro
crime cometido para o casal teve caráter particular. Em 15 de setembro de 2011,
por meio do e-mail da Fonte TV, Aquino enviou um pedido a “Mr. Magoo”: “Você
consegue zerar nome no SPC e Serasa?”.
Diante da resposta
positiva, a radialista envia, no mesmo dia, o nome a ser “zerado” nos serviços
de proteção ao crédito: “Luiz Carlos Alves, CPF 470.794.101-00, RG: 8124212 2ª
Via DGPC – GO”. Detalhe: Luiz Carlos Alves é o verdadeiro nome de Luiz Gama.
Ao longo dos 17 meses
de registros de mensagens, o casal encomendou a invasão de mais de duas dezenas
de perfis hostis a Perillo, além de solicitar grampos telefônicos nos celulares
adversários e naqueles de ao menos dois aliados do governador: o deputado Tulio
Isac, do PSDB, e Elaino Garcia, assessor de Perillo e vice-presidente do
Partido Humanista da Solidariedade.
Isac, dono do perfil
@apostolomarcos1 no Twitter, é chamado de “otário fazendo gracinha” por Gama,
por criticar as pretensões eleitorais do pastor Fábio Sousa, da Igreja Fonte da
Vida, pré-candidato a prefeito de Goiânia pelo PSDB em 2012.
Gama pede a “Mr.
Magoo” para ficar de olho em Garcia, pois, segundo anotou o hacker em mensagem
de 11 de abril de 2012, o assessor “estaria estranho” e provavelmente era
ligado a alguém que havia pago 4 mil reais para bloquear outras linhas
telefônicas.
Passados sete meses,
descobre-se que até Sousa e o pai, o “apóstolo” César Augusto, eram
monitorados, acusados de “puxar o tapete” do casal na Fonte TV. Aquino avisa
“Mr. Magoo”, em 14 de novembro: “Mantenha Tulio Isac e Elaino Garcia
grampeados”.
A primeira encomenda
de grampo foi feita em 23 de janeiro de 2012. O alvo era o ex-prefeito de
Goiânia Nion Albernaz, do PSDB. O tucano entrou na mira do esquema pelo fato
de, no momento da articulação das pré-candidaturas à prefeitura da capital, ter
lançado o nome de Leonardo Vilela, deputado federal da legenda, e não apoiado
Sousa, da Igreja Fonte da Vida.
Sousa não conseguiu
se articular e Vilela acabou derrubado por aparecer em interceptações legais da
PF nos quais pede a Cachoeira um emprego para a filha.
O boquirroto
A sensação de poder
afetou Gama. Estimulado pelo intenso relacionamento com “Mr. Magoo”, o
radialista passou a usar com mais intensidade o esquema para interesses
pessoais e a atacar adversários, aliados e personalidades de Goiás.
Em 11 de julho de
2012, ele acusa o deputado Sandro Mabel (PMDB-GO) de ter ficado milionário por
meio de empréstimos no BNDES. “Ele adora uma mutreta. KKKKKK!”, diverte-se.
Em seguida, tripudia
do bicheiro mais famoso do estado. “Esse Cachoeira é um safado. E uma
piranhaça, a tal noiva dele (Andressa Mendonça). KKKKKK, tem grana e (é) bobo”.
E faz uma “revelação” conhecida até pelas árvores de pequi de Goiás: “A revista
Veja só tinha furos que o Cachoeira dava pra eles”.
Em 25 de julho, mira
no secretário de Cultura do estado, Gilvane Felipe. “Ele tem fama de gay, a
ex-mulher dele hoje é doente”. Em 3 de novembro, investe contra os poderosos
irmãos Bittencourt.
Segundo informou a
“Mr. Magoo”, os quatro “começaram a plantar mentiras escandalosas” contra ele e
a mulher. “Esses Bitencas são os cãos.” Assim mesmo, neste português castiço.
As mensagens diretas
trocadas:
“esta me devendo e
tenho um livro de dm’s deles, posso ate continuar trabalhando pra eles, mas
tenho que correr com minha vida e ela é mala”
@PetrasToubas para @Gercyley44 em 22 de maio, 12:45 PM
@PetrasToubas para @Gercyley44 em 22 de maio, 12:45 PM
“Conheço esse Sandro
Scodro. Ele é meu amigo. Ele é o deputado federal Sandro Mabel. Ele adora uma
mutreta. KKKKKK”
@LUIZGAMA para @Mrmagoo13 em 14 de julho, 10:17 AM
@LUIZGAMA para @Mrmagoo13 em 14 de julho, 10:17 AM
“Vc pode até ser
contratado, se vc quiser, em outra função no estado. Isso p/ dar uma satisfação
à sua família, se vc. quiser. Coisa séria”
@LUIZGAMA para @Mrmagoo13 em 27 de março, 3:39 PM
@LUIZGAMA para @Mrmagoo13 em 27 de março, 3:39 PM
“tem como vc derrubar
o fora Marconi? nos tts”
@LUIZGAMA para @Mrmagoo13 em 14 de Abril, 9:25 AM
@LUIZGAMA para @Mrmagoo13 em 14 de Abril, 9:25 AM
“Carlos Bueno é braço
direito do Braga, diretor da Rádio 730. Pega tudo dele. Até mais!”
@LUIZGAMA para @Mrmagoo13 em 7 de Fevereiro, 5:29 PM
@LUIZGAMA para @Mrmagoo13 em 7 de Fevereiro, 5:29 PM
“O gov. de Goiás
contratou uma empresa de Minas que se chama SPMB e que é especialista em
internet e em ambiente virtual. É caríssima!”
@LUIZGAMA para @Mrmagoo13 em 26 de julho, 7:03 PM
@LUIZGAMA para @Mrmagoo13 em 26 de julho, 7:03 PM
“Arrumei uns
telefones p/ vc. vacinar. OS caras são desconfiados. Querem saber se o serviço
é mesmo garantido.”
@LUIZGAMA para @Mrmagoo13 em 26 de abril, 6:21 PM
@LUIZGAMA para @Mrmagoo13 em 26 de abril, 6:21 PM
“Cola nesse Braga,
Gercilei, Altair e Carlos Bueno eles são uma quadrilha só, Marconi pediu a
cabeças deles.”
@ENIAQUINO para @Mrmagoo13 em 18 de agosto, 1:24 PM
@ENIAQUINO para @Mrmagoo13 em 18 de agosto, 1:24 PM
“Esse Thiago Peixoto
veio do PMDB é malaço, levou uma grana alta do Marconi e é ele que gravaram um
vídeo que ferra feio.”
@LUIZGAMA para @Mrmagoo13 em 8 de maio, 9:13 AM
@LUIZGAMA para @Mrmagoo13 em 8 de maio, 9:13 AM
“A Revista Veja só
tinha furos que o Cachoeira dava para eles, esse Cachoeira é um safado e uma
piranhaça a tal noiva dele, kkkkkk tem grana e bobo.”
@LUIZGAMA para @Mrmagoo13 em 24 de julho, 7:34 PM
@LUIZGAMA para @Mrmagoo13 em 24 de julho, 7:34 PM

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