O custo-Brasil é
muito alto. Não se trata daquele “custo” sempre marretado pelo ortodoxos da
superstição neoliberal, que se refere a impostos muito altos, salários
aumentando além da conta, intervencionismo estatal, etc. etc. etc. Não, o custo
Brasil a que me refiro é outro. Trata-se do custo de ver-se um país deste
tamanho fazendo sombra para aquela ortodoxia. Esta vem devastando a Europa em
todos os sentidos. O último destes sentidos a vir à tona de modo dramático está
na sua juventude.
Os números do
desemprego entre aqueles de 18 a 25 anos na Zona do Euro são o mais recente
índice da catástrofe. Os dados são de estatísticas da própria União Europeia:
Alemanha, 7,9%; Áustria, 9,9%;
Holanda, 10,3%; Malta, 16%; Luxemburgo, 18,5%; Estônia, 19,4%; Finlândia,
19,5%; Bélgica, 19,6%; França, 26,9%; Eslovênia, 27,1%; Chipre, 28,4%; Irlanda,
30,9%; Eslováquia, 35,9%; Portugal, 38,6%; Itália, 38,7%; Espanha, 55,5% e
Grécia, 59,4%.
O aspecto mais assustador destes números está na formação de uma geração
inteira de desiludidos com tudo: os “sem-esperança”.
A Suécia não está na Zona do Euro, mas tem um número elevado de desempregados
entre os jovens filhos de imigrantes estrangeiros. Especialistas vêm
apontando este alto indíce como a moldura das arruaças que tomaram conta dos
bairros onde estes vivem e mesmo de outros na capital, Estocolmo, durante a
semana que ora termina. Centenas de carros foram queimados, delegacias de
polícia foram apedrejadas, lojas tiveram vitrines espatifadas em pelo menos
cinco noites seguidas de enfrentamentos.
A avaliação de acontecimentos como este e dos números do desemprego acima
relatados varia muito conforme a posição do avaliador. Mas a maioria das
análises correntes ressalta algum extremismo político como ponto de chegada
deste descontentamento. Há os que apontam o extremismo de esquerda como o
perigo subjacente; outros, o de direita. Fico entre estes.
Por mais que a desesperança desta nova
“juventude transviada”(título brasileiro do filme “Rebel without a cause”, de
Nicholas Ray, que consagrou James Dean, filmado em 1955) possa motivar
contestações ao desarranjado sistema econômico atual, a espinha dorsal deste
desespero permanece sendo a descrença na política.
É certo que é difícil manter um interesse pela atual política predominante em
grande parte dos países europeus, em que as diferenças entre os
social-democratas e os conservadores se reduziu a quase zero durante as décadas
que se seguiram à queda do muro de Berlim e ao fim da União Sovíética.
Em muitos países, como na Alemanha, os
social-democratas (no caso aliados aos Verdes) foram os introdutores das
reformas neoliberais mais radicais, caso também da Espanha; ou seguiram o
modelo inaugurado na Europa por Margareth Thatcher, como no caso do Reino
Unido, do trabalhista Tony Blair.
Durante este tempo a esquerda foi sendo reduzida muitas vezes a uma situação
quase de “reserva ecológica”, de que apenas começa a sair recentemente, como no
caso da campanha de Mélenchon na França, que ajudou a “puxar” o programa de
François Hollande mais para a esquerda, embora este venha zigue-zagueando agora
que está no governo.
Na Alemanha, a Linke – partido de
egressos do Partido Social-Democrata e militantes socialistas de diferentes
procedências na antiga Alemanha Oriental – oscila entre os 6% e os 10% na
preferência da maior parte do eleitorado tendo, entretanto, conseguido algumas
votações expressivas em alguns casos, como em Berlim, onde chegou a participar
do penúltimo governo da cidade-estado, e em estados do leste.
Enquanto isto o Brasil vai puxando a América Latina mais para a esquerda e para
o otimismo em relação ao futuro, o que mostram recentes pesquisas como a
publicada pelo jornal Valor, em que 59% avaliam positivamente a
situação econômica do país e 88% afirmam que 2014 será melhor do que 2013.
Recentemente um jornal britânico sentenciou que este é um otimismo “de fachada”
e que ele disfarça o verdadeiro “mal-estar” por detrás, graças a uma taxa de
investimento muito baixa.
A crítica deste jornal ao governo de Dilma Rousseff, apontados ambos como
“o” e “a” responsáveis pelo “mal-estar” aludido, mostra o quão incômoda
se tornou a sombra que o Brasil projeta sobre as políticas neoliberais que hoje
são moeda corrente em solo europeu, conquistando e ao mesmo tempo devastando
corações e mentes no Velho Continente, que, se continuar assim, se tornará de
fato cada vez mais velho e destituído de um senso de futuro.

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