Esquerda.netOxfam NZ/Flickr (Esquerda.Net) – Carta Maior
O jornal norte-americano teve acesso às ligações financeiras
que unem alguns dos maiores especuladores de Wall Street ao professor de
finanças da Universidade de Houston, Craig Pirrong. O professor interveio
diversas vezes desde 2006 em cartas às autoridades reguladoras federais e até
depôs na Câmara dos Representantes dos EUA, invocando a sua autoridade
acadêmica para provar a ausência de responsabilidade dos especuladores nos
picos registados nos preços do petróleo e outras matérias-primas e produtos alimentares,
numa altura em que a regulação discutia impor mais restrições às operações dos
bancos nesta área, na sequência da crise financeira.
Afinal, o professor Pirrong, cujos trabalhos eram citados
nas ações judiciais interpostas por institiuções financeiras para bloquear as
restrições à especulação financeira, era ao mesmo tempo pago como consultor
para uma das principais partes do processo, a Associação Internacional de Swaps
e Derivados. Segundo o New York Times, embora Pirrong se apresentasse apenas como
professor universitário, nos últimos anos foi pago pela bolsa de Chicago, o
Royal Bank of Scotland e uma série de empresas que especulam nos mercados da
energia.
Questionado sobre a origem dos seus ganhos fora do meio
acadêmico, Pirrong terá respondido apenas que “isso é entre mim e o fisco”. Mas
ele não é caso único. O mesmo jornal aponta o professor da Universidade do
Illinois Scott Irwin, um dos acadêmicos mais citados em favor dos benefícios da
especulação para a formação de preços nos mercados agrícolas, que é ao mesmo
tempo consultor de uma das empresas que trabalha com bancos de investimento e
fundos especulativos no mercado de matérias-primas. A sua universidade também
recebe doações generosas quer da bolsa de Chicago quer de outros fundos que intervêm
no mercado especulativo, que pagam bolsas de estudo, conferências e até a
construção de um laboratório em tudo semelhante às salas de mercado bolsista.
Quando em 2008 o preço da gasolina subiu acima dos 4 dólares
por galão nos EUA, o Congresso norte-americano ameaçou com a introdução de
limites à especulação nos mercados do petróleo. “É uma caça às bruxas”,
indignou-se Craig Pirrong em múltiplos artigos, incluindo no Wall Street
Journal, desdobrando-se em conferências e ocupando lugares em comissões de
aconselhamento na matéria.
Por seu lado, os ensaios e opiniões de Scott Irwing foram
promovidos para aparecerem em publicações influentes pelo próprio departamento
de relações públicas da bolsa de Chicago, sendo frequente encontrar vídeos e
entrevistas com este professor no site da Chicago Mercantile Exchange.
Mas o dinheiro dos especuladores não corre apenas
diretamente para o bolso destes professores universitários. Para aumentar a sua
notoriedade, também financiam revistas e sites na internet que promovem as
figuras do meio acadêmico mais favoráveis aos seus interesses. Ambos os
envolvidos negam que o seu trabalho seja influenciado pelo dinheiro que recebem
dos especuladores, mas o tema ressurge no debate público numa altura em que os
reguladores discutem novos limites à especulação, por verificarem que ela pode
contribuir não apenas para prejudicar os consumidores, mas também para provocar
a escassez de comida, como se viu na crise alimentar do final da última década.
Créditos da foto: Oxfam NZ/Flickr (Esquerda.Net)
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