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Que a elite brasileira não tem
educação já é ponto pacífico. A prova sonora foi dada ao mundo inteiro na
partida de estreia de seleção, na última quinta-feira, com o coro "ei,
Dilma, VTNC", que se repetiu, dias depois, em Belo Horizonte, na partida
entre Colômbia e Grécia.
Não estive na Arena Corinthians
nem no Mineirão e já não há mais o que dizer sobre o episódio já excessivamente
debatido. "Uma vergonha", como resumiu o empresário Abilio Diniz.
Mas fiz minha estreia em Copas do
Mundo neste domingo, em Brasília, no jogo entre Suíça e Equador. Uma
experiência fantástica em praticamente todos os aspectos.
A começar pela beleza do novo
aeroporto da capital federal, mais bonito e eficiente do que o de cidades como
Miami ou Nova York, apenas para citar algumas metrópoles frequentadas por certa
elite que transforma terminais aeroportuários em seus fetiches
primeiro-mundistas.
Depois, o acesso facílimo ao
estádio Mané Garrinha, sem nenhum tipo de transtorno. Além disso, a alegria
contagiante dos mais de 10 mil equatorianos que vieram ao País e se
confraternizaram com os suíços, mesmo na derrota. A partida em si, apesar das
limitações das equipes, foi, como disse um amigo, um autêntico jogo de Copa do
Mundo, com todas as suas emoções – e com direito a uma virada emocionante já
nos acréscimos.
Qual foi, então, o único ponto
fora da curva? O comportamento do brasileiro naquela que seria a mais simples
das iniciativas: apertar o botão da descarga.
Essa reflexão surgiu depois que
uma pessoa conhecida me perguntou se a experiência de ontem havia sido "de
Primeiro Mundo". No avião, também já havia lido um trecho de uma
reportagem numa revista semanal – aquela que previa estádios prontos só em 2038
– que dizia que o Itaquerão era também uma "ilha de Primeiro Mundo,
cercada de Brasil". Ou seja: o Brasil como antônimo de Primeiro Mundo e
sinônimo de Itaquera, pobreza, gente mulata etc. Dava até para sentir a cara de
nojo de quem fez a comparação. A mesma cara que faria se entrasse num banheiro
da ala vip de qualquer estádio da Copa.
Assim como no Itaquerão, o Mané
Garrincha também foi frequentado pela elite brasileira em sua estreia no
Mundial. Mas essa mesma elite que tanto sonha com o "Primeiro Mundo" é
incapaz de um gesto tão simples como apertar uma descarga.
Os banheiros do estádio,
novíssimos, estavam longe da imagem dos chamados "banheiros de
rodoviária". Pisos de qualidade, pias de mármore, louças modernas, papel e
sabão à vontade. No intervalo da partida, as pessoas formavam filas e,
portanto, era possível perceber o
comportamento de quem estava na frente. Nem a ausência de anonimato era
suficiente para que as pessoas apertassem o botão, deixassem o espaço limpo
para quem viria depois e lavassem as mãos em seguida. Um gesto simples de
respeito ao próximo.
O que intriga, nessa experiência,
é imaginar por que pessoas que ainda agem de modo tão primitivo sonham tanto
com a redenção primeiro-mundista. Será que não precisam mudar antes o próprio
comportamento? Por que, afinal, é tão difícil agir num espaço público como
agiriam em casa?
Enquanto a elite sem descarga
verbal e sem descarga real não modificar pequenas atitudes, o chamado Primeiro
Mundo será uma miragem distante.
PS: Recentemente, fiz uma viagem
à Suíça e fui a uma pequena cidade turística onde há um banheiro público na
entrada. Perguntei a um comerciante como ele era mantido tão limpo. Uma pessoa
da comunidade passava ali pelas manhãs apenas para repor produtos como papel e
sabão. O resto era com os frequentadores.
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