Segundo a AFP, “em comemoração à
data, a coroa britânica divulgou imagens exclusivas do menino de cabelo louro,
vestindo um macacão azul e uma camisa azul marinho”, registradas, há alguns
dias, em um museu londrino. “ao qual o duque e a duquesa de Cambridge levaram
seu filho para ver uma exposição sobre borboletas”. Em uma das imagens George
aparece andando, cena saudada como "Os primeiros passos seguros do futuro
rei da Inglaterra", pelo Sunday Telegraph.
É triste. Mas devemos cumprir o
doloroso dever de informar, que, segundo um último balanço, também publicado
ontem, 143 crianças palestinas, 80 delas com menos de 12 anos de idade, não
poderão ver as borboletas do museu britânico, nem nenhuma outra que estiver
voando por aí, por terem perecido,
segundo a UNICEF, desde que começou a ofensiva israelense na Faixa de Gaza.
Nem elas poderão fazê-lo, nem o
pequeno bebê de onze meses, que morreu no hospital, depois de ter ficado trinta
e cinco horas, soterrado, com sua família, sob um prédio em construção que desabou
em Aracaju.
A humanidade está – infelizmente
– cada vez mais fútil. Incapazes de
revestir sua própria vida de maior interesse, enriquecendo-a com um pouco de
cultura, ou dos sentimentos de justiça e solidariedade, milhões de pessoas
mergulham no culto a “celebridades”, às vezes tão efêmeras e descartáveis como
lâminas de barbear, e acompanham suas peripécias pelas publicações disponíveis
nas salas de espera e nos salões de cabeleireiro.
O pequeno príncipe britânico,
herdeiro da opulência de um império que cresceu pela exploração de dezenas de
colônias e povos como os indianos, ou os aborígenes canadenses e australianos,
acaba de entrar na lista – tão ridícula como absurda - das “dez crianças mais
poderosas do mundo”.
O pequeno sem teto brasileiro, um
mês mais novo que ele, morreu de frio e inanição, no escuro, debaixo das ruínas
do prédio em construção - no qual sua família dormia por não ter outro lugar
para ir - porque sua mãe não conseguia se mover para aquecê-lo e amamentá-lo.
Os meios de comunicação
noticiaram os dois fatos, cada um, naturalmente, em sua correspondente seção.
Uma, festiva, perto das notas de variedades ou editoriais de moda. A outra, nas
notícias de polícia, ou de cidades, lamentando, como não poderia deixar de ser,
o desabamento do prédio e as vítimas do acidente de Aracaju.
Faltou alguém somar os dois
meninos, e pensar, ao menos por um segundo, em seus diferentes destinos.
Perguntando-se, porque, em pleno Século XXI, algumas crianças ainda nascem em
suntuosos palácios, enquanto outras continuam morrendo debaixo de bombas em
Gaza, ou sob os escombros de uma marquise, porque não tinham - como certo
menino que nasceu em uma manjedoura - outro lugar para se abrigar.
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