Nas semanas próximas haverá mudança de comando e definições
importantes em matéria da estratégia da OTAN para os próximos anos.
Flávio Aguiar - http://www.cartamaior.com.br/
A Organização do Tratado do Atlântico Norte – OTAN – está
prestes a mudar seu comando civil. O mandato do atual secretário-geral da
organização, o político e diplomata dinamarquês Anders Fogh Rasmussen, está
para terminar. Ele será substituído pelo norueguês Jens Stoltenberg a partir de
1º. de outubro próximo.
Anders Fogh, como é mais conhecido, foi primeiro-ministro da
Dinamarca de 2001 a 2009, quando assumiu o cargo na OTAN. É um político
neoliberal, duro em matéria de imigração (tema preferido pela direita europeia)
e um falcão em matéria de OTAN.
É autor de um clássico do neoliberalismo, publicado em 1993,
cujo título diz tudo sobre seu autor: “Do Estado Social ao Estado Mínimo”.
Quando eleito para a secretaria-geral, contou com a oposição apenas da Turquia
e com a rejeição por boa parte da população muçulmana da Europa.
Jens Stoltenberg é tido como mais moderado, embora seja
caracterizado como pertencente à “ala direita” do Partido Social Democrata do
seu país.
O secretário-geral reparte o poder dentro da OTAN com o
presidente do Comitê Militar, cargo hoje ocupado pelo general dinamarquês Knud
Bartels.
Durante o mandato de Fogh, a ação mais importante da OTAN
até o momento tinha sido o auxílio na deposição de Muhammar Gadhaffi na Líbia,
além da continuidade da intervenção no Afeganistão. Nos últimos meses,
entretanto, o foco da Organização voltou-se também para o antigo leste europeu,
devido à crise na Ucrânia.
Tanto Fogh como Stoltenberg são conhecidos por suas posições
extremamente críticas em relação à Rússia, sendo Fogh tido como mais agressivo.
Suas declarações nos últimos meses confirmam esta avaliação, pois tem sido dos
mais ferrenhos a martelar que a crise na Ucrânia se deve unicamente à
intervenção russa.
Na semana passada Fogh apresentou seu legado à organização
que está prestes a deixar. Defendeu ardorosamente a necessidade da OTAN voltar
a cercar a Rússia como seu principal objetivo, armando baterias de mísseis ao
longo das fronteiras desta e capacitando “forças de rápida intervenção” para
“conter qualquer invasão” dos países europeus, de modo a que no caso de uma
“agressão russa” a um país, a resposta não venha apenas das forças armadas
deste, mas do conjunto todo.
Defendeu a construção imediata de bases militares com aquela
capacidade militar e aqueles objetivos nos países do leste europeu, de modo
inclusive a possibilitar uma rápida intervenção no Oriente Médio (o norte da
África já está sob sua “jurisidição”).
A proposta tem o apoio decidido da Polônia, e dos países
bálticos, Estônia, Letônia e Lituânia, além dos Estados Unidos. Mas é olhada
com reserva por parte de outros países influentes: Espanha, França, Itália e
Alemanha, que vêm nela uma “provocação” a Moscou, que poderá reagir de modo a
prejudicar ainda mais as relações com a Europa combalida pela crise financeira.
Nas semanas próximas haverá definições importantes em
matéria da estratégia da OTAN para os próximos anos. No curso atual, é de se
esperar que as propostas de Rasmussen ganhem mais adeptos – inclusive por parte
de seu sucessor, Stoltenberg – já que a crise na Ucrânia tende a se prolongar. Até
o momento o governo de Kiev parecia estar tendo sucesso em retomar áreas
controladas pelos rebeldes nas regiões de Luhansk e Donetsk. Entretanto este
avanço foi detido, e estes conseguiram abrir uma nova frente de luta na cidade
de Novoasovsk, junto a fronteira russa, e em direção a Mariupol, na costa do
mar Negro, e que já foi palco de lutas ferozes entre partidários de Kiev e
separatistas, com aqueles perpetrando um verdadeiro massacre contra militantes
destes. Como sempre, voltaram à tona as acusações de que tal avanço está sendo
feito com apoio material e de pessoal por parte dos russos.
Créditos da foto: Arquivo

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