Ao invés de responsabilizar
criminalmente os responsáveis pelas fraudes que levaram à crise, governo
americano estipula multa que encobre os culpados.
Jon Queally - Common Dreams / http://www.cartamaior.com.br/
O anúncio do governo
norte-americano de um acordo onde o Bank of America terá de pagar 16,65 bilhões
de dólares é mais uma encenação do que justiça, é mais um dos negócios de
sempre e não uma punição real.
Apresentado ao público como uma
vitória para o Departamento de Justiça, que intercedeu na negociação a favor do
governo, detalhes do acordo oferecem uma perspectiva do quanto os bancos
evitaram se responsabilizar pela forma como se comportaram e levaram a economia
global à queda livre há seis anos. Grande parte do valor — cerca de 7 bilhões
de dólares — não é paga em dinheiro, mas sim em “contribuições indiretas,” que
são isentas de impostos.
Phineas Baxandall, analista que
trabalha com o grupo US PIRG, declarou ao New York Times que “o povo americano estava
esperando que o Departamento de Justiça responsabilize os bancos por seus erros
em relação à quebra das hipotecas. Mas estas isenções de impostos colocam o
peso nas costas nos cidadãos e mandam a mensagem errada ao tratar parte do
acordo como gastos não-tributados.
Após o anúncio, as ações do banco
— um dos maiores dos EUA — subiram 4 pontos.
Criticando este acordo e outros
similares, Wiliam D. Cohan — ex-operador de fusões e aquisições bancárias que
escreveu três livros sobre Wall Street — escreveu um editorial na revista Times
esta semana, onde ele mostrava como o procurador-geral Eric Holder alardeou o
acordo como uma história de sucesso. Cohan escreveu:
O fato é que ao promover acordos
bilionários com os grandes bancos de Wall Street — com dinheiro que vem do
bolso dos acionistas — Holder está apenas permitindo que eles evitem que seus
erros sejam expostos. Com os acordos, os erros são permanentemente encobertos.
E isso não ajuda a ninguém. O
povo americano é privado de saber precisamente como as coisas aconteceram
dentro destes bancos até a crise financeira, e os bancos, sabendo que serão
salvos da humilhação que seria causada pela publicação de seus e-mail e
documentos, sem dúvida repetirão seu comportamento insensível e indiferente.
Ao invés da verdade, o que
recebemos é uma “declaração sobre os fatos” sobre o que supostamente correu
mal. No caso do JPMorgan, a declaração de 21 páginas continha pouco conteúdo
substancial para além do fato de que um whistle-blower não-identificado que trabalhava
no banco tentou alertar a seus superiores sobre sua crença de que hipotecas de
má qualidade estavam sendo vendidas como hipotecas seguras. Suas advertências
não foram ouvidas e as hipotecas continuaram a ser vendidas da mesma forma.
Críticos dos esforços
investigativos do governo repetiram diversas vezes que processos criminais —
incluindo a prisão de banqueiros e executivos — seriam a melhor resposta às
atividades que desencadearam tantos danos à sociedade.
Dean Baker, economista e diretor
do Center for Economic & Policy Research, em artigo intitulado:
“Procuradores poderiam mandar banqueiros à prisão”, argumentou: “vender
hipotecas fraudulentas é fraude, o que é um crime sério que pode ser punido com
anos de cadeira. O risco de prisão pode desencorajar os banqueiros a realizar
este tipo de operação.”
De acordo com Yves Smith, que
administra o blog Naked Capitalism, “o segredo sujo” destes acordos é que “o
governo não está apenas protegendo os bancos, mas também precisa esconder o
quão clientelista é este comportamento”
Nos vários acordos entre os
bancos e o governo, Cohan concluiu que “alguma coisa me diz que este é
precisamente o jeito que os poderes queriam que estas negociações ocorressem,
mas o povo americano merece e que algo melhor.”
Tradução de Roberto Brilhante
Créditos da foto: Emmanuel
Huybrechts/ Flickr
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