Com o auxílio da irmã Andréia, o presidenciável tucano usa
publicidade oficial para controlar a imprensa. Nos demais poderes, age
impedindo o contraditório
Najla Passos - http://www.cartamaior.com.br/
No último sábado (18), a TV Band Minas não exibiu o programa
Extraclasse, produzido pelo Sindicato dos Professores de Minas Gerais (Sinpro
Minas), como faz há seis anos, desde que a direção contratou um espaço de 20
minutos na grade de programação da emissora para se comunicar melhor com a
categoria. Questionada pela diretoria do Sinpro Minas, a emissora justificou
que não pode exibi-lo porque ia contra sua linha editorial.
O programa programa
censurado faz críticas à gestão da educação em Minas Gerais, algo
impensável de ser exibido pela imprensa mineira, há 12 anos subjugada ao
projeto de poder tucano. Em alusão às comemorações pelo Dia dos Professores (15
de outubro), o Extraclasse discute os desafios da profissão docente no Brasil.
E acaba por comparar dois diferentes modelos em execução no país: o
implementado em Minas por Aécio e o executado no país pela presidenta Dilma
Rousseff (PT), que concorre à reeleição.
“É um absurdo a emissora influir em um programa contratado
pelo sindicato, cujo conteúdo é de nossa responsabilidade. Nós enviaremos o
programa novamente no próximo sábado (25). Se não for exibido, tomaremos as
providências jurídicas”, afirma o presidente do Sinpro Minas, Gilson Reais, um
dos entrevistados da edição. Segundo ele, ao justificar que o programa
contrariava sua linha editorial, a TV Band deixou clara a sua falta isenção na
corrida eleitoral. “A Band apoia o projeto de governo de Aécio”, denuncia.
Atentado à liberdade de expressão
Presidente do Sindicato dos Jornalistas de Minas Gerais,
Kerison Lopes afirma que a censura ao programa do Sinpro é apenas um dos muitos
exemplos de como os governos do PSDB vêm atentando contra à liberdade de
imprensa no estado. Segundo ele, logo após Aécio assumir o governo, em 2003,
ocorreu uma onda de demissão de jornalistas responsáveis por reportagens
desfavoráveis ao governo.
Não escapou nem mesmo o diretor regional de jornalismo da
poderosa TV Globo, Marco Nascimento, que havia autorizado a exibição de uma
matéria sobre uso de crack no centro da capital Belo Horizonte. Segundo ele, a
jornalista e irmã do então governador, Andréia Neves, chegou a reclamar
pessoalmente que esse tipo de reportagem prejudicava a imagem do futuro
presidenciável. Como ele não se curvou ao “jornalismo chapa branca”, ela
procurou o diretor geral de Jornalismo da Globo, Carlos Henrique Schoreder, no
Rio de Janeiro, que demitiu Marco.
Ocorrências semelhantes resultaram na demissão do então
editor do Estado de Minas, Ugo Braga, do repórter esportivo da Band, Jorge
Kajuro, e do então apresentador da Rádio Itatiaia, Paulo Sérgio, entre outros.
Todos os casos têm em comum o envolvimento direto de Andréia, a eminência parda
do governador, nomeada por decreto dele para controlar toda a verba
publicitária do Estado e, por meio dela, o que deveriam dizer ou não os
veículos de comunicação. Sobre as demissões dos jornalistas mineiros, veja mais
no vídeo ”Liberdade, essa
palavra”.
Andreia só deixou o posto no início deste ano. Agora
controla as três rádios e um jornal da família Neves. Todos eles ainda recebem
verbas do governo do estado, cujo valores não são divulgados. Líder da oposição
na Assembleia de Minas, o deputado Sávio Souza Cruz (PSDB) estima que os gastos
de publicidade do estado, hoje, consumam em torno de meio milhão. Ele, que foi
secretário do governo Itamar Franco, lembra que, em 1999, os gastos do estado
com publicidade era de R$ 900 mil. “Quando Aécio assumiu, em 2003, elevou para
R$ 258 milhões”, relata.
Pior do que na ditadura
Para o parlamentar, a censura de hoje em Minas é pior até
mesmo que a da ditadura. “Os militares calavam os jornais com seus canhões, mas
a censura econômica de Aécio não só cala a imprensa, como a obriga a aderir ao
seu projeto político de chegar ao Palácio do Planalto”, afirma. Sávio Souza
Cruz avalia que a política de comunicação tucana em Minas cria um estado
ilusório que contrasta com o real, vendendo a imagem de bom gestor de Aécio
pelo país afora. “Aécio é a antítese dele próprio, porque tudo que fala, ele
faz ao contrário”, acusa.
Como exemplo, o deputado cita os principais traços
trabalhados pela publicidade oficial do presidenciável. “Aécio se gaba de ser
um bom gestor, mas quebrou o estado. Quando ele assumiu, herdou uma dívida com
o governo federal de R$ 24 bilhões que ele aumentou para R$ 80 bilhões e ainda
contraiu outra de R$ 27 bilhões”, denuncia. Contesta também a promessa do
candidato de reduzir a máquina pública. “Aécio fala em reduzir ministérios e
demitir servidores, mas quando foi governador de Minas contratou mais 120 mil
cargos comissionados”, contabiliza.
Sávio Souza Cruz critica ainda o fato de que o tucano
promete reduzir a carga tributária brasileira, depois de transformar a mineira
em uma das mais altas do país. “O estado ostenta o maior ICMS (Imposto sobre
Circulação de Mercadoria e Serviços) sobre energia elétrica e combustível, além
do maior ITCD (Imposto sobre Transmissão Causa Mortis e Doação de Quaisquer
Bens ou Direitos) do Brasil”, afirma. Lembra, também, que Aécio critica o baixo
crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) do país, mas, sob sua administração,
Minas ficou em 22º lugar no ranking de estados do país, abaixo da média
nacional.
Controle dos demais poderes
Para o deputado Sávio Souza Cruz, a obsessão do
presidenciável Aécio Neves em controlar a liberdade de expressão atinge todos
os poderes de Minas. “No estado em que a palavra liberdade é tão cara, não
existe mais nenhum contraditório”, afirma. Segundo ele, o legislativo é
corriqueiramente tratorado pela maioria tucana. Desde que Aécio assumiu, há 12
anos, a Assembleia do Estado só aprovou a criação de três Comissões Parlamentares
de Inquérito (CPIs), e nenhuma delas para investigar o governo. “Nada é
investigado”, lamenta.
No Tribunal de Contas do Estado (TCE), o deputado garante
que a situação não é diferente. “Há 12 anos, Minas Gerais não respeita o mínimo
constitucional para investimento em saúde e educação. E, mesmo assim, as contas
do governo são aprovadas. É um verdadeiro Tribunal de Faz de Contas”, denuncia.
Exemplo de como funciona o TCE ocorreu após o debate da
Band, em 14/10, quando a presidenta Dilma acusou Aécio Neves de desviar R$7,6
bilhões da saúde. O tucano disse que ela estava mentindo e, então, Dilma
convidou os eleitores a acessarem o site do TCE. Naquela noite, o site saiu do
ar. No dia seguinte, os documentos citados por Dilma desapareceram por cerca de
4 horas, até a imprensa denunciar a manobra. A presidenta do TCE, Adriane
Andrade, foi indicada por Aécio e é casada com Clésio Andrade (PMDB),
vice-governador dele no primeiro mandato.
O deputado acusa até mesmo o Ministério Público Estadual
(MPE) de ter sido subjugado por Aécio. “Quando era governador, ele podia sempre
contar com o então procurador-geral de Justiça, Alceu Torres, que matava no
peito todas as denúncias contra os tucanos. Tanto que foi promovido a
secretário de Meio Ambiente e Desenvolvimento do governador Anastasia, que
sucedeu Aécio”, revela.
Alerta aos brasileiros
O presidente do Sindicato dos Jornalistas acrescenta que a
opressão à liberdade de expressão é tão suntuosa que os jornalistas do estado,
preocupados que o padrão se estenda para o país com uma possível vitória de
Aécio nas eleições, decidiram lançar o Manifesto Manifesto
dos jornalistas mineiros ao povo brasileiro, em assembleia geral realizada
em 15/10, no qual alertam os eleitores sobre os riscos que tais práticas
representam para a democracia.
No documento, eles avaliam que a cobertura da mídia mineira
sobre as eleições é claramente favorável ao tucano. “Tais fatos, públicos e
notórios, são sobejamente atestados por instituições de pesquisa e
monitoramento da mídia, revelando uma tentativa de corromper a opinião pública
e de decidir o resultado das urnas”, denunciam. Eles afirmam também que “a
atividade jornalística e a atuação dos profissionais foram diretamente
atingidas pelo conluio explícito estabelecido entre o governo e os veículos de
comunicação, com pressão sobre os jornalistas e a queda brutal da qualidade das
informações prestadas ao cidadão mineiro sobre as atividades do governo”.
De acordo com Kerison Lopes, embora o documento não tenha
conseguido nenhum espaço nos órgãos da imprensa convencional, atingiu um grande
número de eleitores brasileiros por meio da internet, o “Calcanhar de Aquiles”
do projeto de comunicação do tucano. “Aécio não entende de democracia. E muito
menos de democracia digital. Tenteou censurar até os sites de busca, como o
Google, mas não conseguiu nada. A rede é um universo que, ao contrário da mídia
convencional, ele não consegue comprar”, afirma.
Créditos da foto: Arquivo
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