Tadeu Porto - http://brasildebate.com.br/
Quando o governo brasileiro sancionou a lei nº 12.858, que
direciona os royalties do Pré-sal para saúde e educação, me lembro de dizer aos
meus companheiros de trabalho, muito empolgado, que nós, petroleiros,
participaríamos de um marco histórico no Brasil. Por fazermos parte de um
mercado que contribuiria diretamente para a melhora dos nossos serviços
públicos.
Na verdade, também já sonhava em presenciar de perto um
grande feito quando entrei na Petrobras em 2010, devido à importância econômica
que o Pré-sal tinha (tem e terá) na nossa economia. Até mesmo porque é fácil
enxergar os benefícios econômicos de uma commodity de tamanha liquidez como o
petróleo.
Gerar empregos, aumentar a balança comercial e suprir a
demanda interna de combustíveis são fatores que impulsionarão nosso PIB e,
certamente, ajudarão (e muito!) o nosso País crescer.
Em meio a palavras proféticas e posições otimistas, minha
visão como empregado da companhia não me ajudou a vislumbrar, contudo, a Petrobras como pivô de outro assunto que é
extremamente importante para o Brasil: o combate à corrupção.
Pensando bem, até acredito que o investimento na educação
(auxiliado pelos royalties) é a melhor forma de mitigar esse mal. Entretanto,
por mais efetivo que seja, não deixa de ser uma medida de longo prazo e,
portanto, pouco eficaz para a resolução imediata desse problema.
Nesse sentido, vale ressaltar que o combate firme à
impunidade é uma ótima estratégia de curto prazo para diminuirmos esse câncer
chamado corrupção. E é nesse campo que os petroleiros e petroleiras podem
participar de uma grande virada no perverso jogo político praticado no País
atualmente.
Ao contrário da felicidade de vermos nossa empresa
contribuir positivamente para os serviços públicos e a economia brasileira,
presenciar a fonte dos nossos honorários envolvida ativamente em um processo
ilegal e imoral pode nos deixar, num primeiro instante, tristes e
envergonhados.
E é nesse momento que devemos ter paciência e destreza para
analisarmos a importância do nosso papel nesse processo. Como cidadãos e,
principalmente, como funcionários da Petrobras.
Em primeiro lugar, não devemos assumir a vergonha alheia, ou
seja, o malfeito de poucos não pode suplantar o trabalho duro e honesto de
muitos.
E aqui vale uma frase dita há pouco tempo pelo eterno
presidente Lula: “Quem fez [coisa errada], tem que ser investigado, julgado e,
se for o caso, condenado e ir para a cadeia. Quem estiver errado, que pague o
preço pelo erro, mas nenhum petroleiro tem que andar de cabeça baixa”.
É crucial partimos desse pressuposto, uma vez que potenciais
bandidos não devem manchar um símbolo que é orgulho nacional.
O que nos leva a um segundo raciocínio: a importância de
termos consciência de que o nome da empresa na “lama” representa exatamente o
interesse de alguns setores mais conservadores da sociedade, que veem nesse
enfraquecimento duas possibilidades eminentes – de privatização da companhia e
de um golpe para tirar do cargo a presidenta recém-eleita.
Isso traria consequências catastróficas para o País, como a
precarização do mercado petrolífero brasileiro (e certamente as multinacionais
do petróleo estão atentas para tentarem produzir nosso óleo a baixo custo) e o
retrocesso nas conquistas que a democracia já nos proporcionou.
Por último, e não menos importante, vale a motivação de
fazer parte de um grande passo para revertermos a alcunha incômoda que
carregamos como brasileiros: o jeitinho poderá não ter mais tanta efetividade,
a lei de Gérson será apenas nostalgia de uma propaganda antiga e a “política”
pode, enfim, deixar de ser sinônimo de “roubalheira”.
Ademais, não podemos mais aceitar um sistema que permite
cartel como prática comum, vazamentos seletivos atrapalharem processos
democráticos e juízes acharem que são deuses.
Para isso, a agonia que incomoda a nós, trabalhadores da
Petrobras, deve dar lugar a uma motivação para mudarmos um sistema que, no
mínimo, opera há mais de 15 anos.
Consequentemente, em um contexto histórico e nacional,
acompanharemos exemplos claros de punição, que poderão não só mitigar o
sentimento de impunidade como também efetivar o verdadeiro respeito ao
cumprimento da lei.
É bom não esquecermos, portanto, que somos peças importantes
num jogo de xadrez, como bem frisou o competente jornalista Luis Nassif. Uma
disputa que pode resultar num avanço sem volta no combate à corrupção, no caso
de nossa vitória, ou mesmo causar um retrocesso imenso, inclusive do sistema
democrático, caso um impeachment seja alcançado às custas do oportunismo de
pessoas que, justamente, não compactuam com o desenvolvimento do Brasil.
Por isso, é extremamente necessária a compreensão de que a
defesa correta da nossa empresa (não dos corruptos) é estratégia chave para o
combate efetivo aos desvios realizados.
Puna quem punir, doa a quem doer, a instituição Petrobras
deve sair desse escândalo maior do que entrou, ou seja, ainda mais forte sem os
sanguessugas que atrapalham o trabalho sério, competente e produtivo.
Tadeu Porto
Engenheiro eletricista e mestre em Engenharia Elétrica pelo Cefet-MG, é petroleiro e diretor do departamento de formação do sindipetroNF
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